quinta-feira, 27 de maio de 2010

campos de trigo





"Os campos de trigo continuam azuis a florescer pássaros
e acalentar o pão que aquece a alma
de quem ama e de quem não ama.

Os campos de trigo seguem embalando a lua
com uma sonata ao futuro sem fome.

Os campos de trigo esqueceram Van Gogh,
pois não há mais dor no homem.

É tudo realidade consentida.

Ninguém mais ergue sua obra para que o mundo
floresça em primaveras
que o artista não pode viver.

Nem mil girassóis de Van Gogh
vão calar a dor que assola
Nínive, Candahar, Bagdad,
o sertão, o chão desumano da Pátria,
Nigéria, Haiti, Etiópia…

Os campos de trigo não necessitam mais espantalhos.

O homem não necessita mais proteger o coração
para que o amor não o devore.

Pois o amor foi sepultado na última primavera.

Espantalho colorido
alardeando um campo-minado-coração,
varrido pelas máquinas da indiferença que regem
o sarcástico-mundo-cão.

Os campos de trigo, indiferentes,
seguem solares,
seguem em chama,
espalhando grãos,
dançando ao vento das almas ignaras."

Bárbara Lia

7 comentários:

  1. parabens pela escolha

    Bom campo de escrita

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  2. Partilho da mesma opinião.

    As escolhas de Anaedera são, acaso se me permitam termos que as 'adjectivem', lindas.

    O meu agradecimento pela tranquila e sapiente leitura que aqui reparte.

    Um abraço fraterno a Platero e Anaedera, o gato.

    (sorriso) :)

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  3. Obrigada,
    nem sempre me é fácil conseguir exprimir-vos o que gostaria, virtualmente.
    Fico feliz que me compreendam.
    (o gato?!)

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  4. Ha! era eu...
    Pois eu sou mesmo humana e a outra "habitante" de Anaedera, também.
    O gato da foto é o Dino, foi um dos melhores amigos, em comum.
    E daí a homenagem.

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  5. É belo o diálogo que se estabelece entre os seres de Anaedera.

    Aqui, pela voz de quem aí habita, são-nos entregues em mãos as declarações da incriada Natureza, para juntos lermos das espigas a oscilação doirada pelo vento em voz de Sol.

    Tudo isto porque voltei a ler o que Bárbara leu. No durante, roda tranquila a serenidade.

    Abraço Anaedera,
    continuação! :)

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