I
A serpente emplumada
vive na caverna
e, no ar plúmbeo,
pulveriza com um silvo
a pulseira de silêncio
E compõe a jarra
num arranjo:
destaca uma pluma de
pavão no conjunto floral
II
Em plena noite cerrada
semi-cerrados os olhos
de serra em serra na sombra
Em plena montanha pétala
passo a passo até aos píncaros
perfeitamente perdida
Em plena nuvem ebúrnea
enrolada subterrânea
sombra a sombra entre címbalos
Em pleno, implementada
na planta dos pés fincados
n’água da cascata cúbica
III
Pertenço a uma espécie rastejante
mas o solo que raso é o mais limpo:
as asas recolhidas no meu dorso
marfilíneo, a marginar um ovo mágico
Pertenço a uma espécie delirante
com lírios nos cabelos de corsário
e livros de leitura muito bíblica
e laivos de lisérgica pesquisa
Pertenço a uma espécie de poeta
emplumada d’impulsos e de pedra
IV
Plumas de papel
escrito dos dois lados
com profundas rasuras
que atravessam os poros
Plumas que semeiam
um jardim de pombos
a florir planctôn
na flotilha dos teus ombros
Plumas perpétuas:
buganvílias
em antigas telefonias
a ecoar bigornas
Plumas, palácios
de causas de carvão
calculadas nos mínimos
pormenores de som
V
Pedra polida na
superfície branca
pela aresta viva
de faca almofadada
Pedra perfeita na
cavidade negra
completamente em
brasa estereofónica
Pedra de pranto, pedra
de precipício cristalino
aonde se amarinha
em caso d‘erro próprio
Ritual análogo / António Barahona; extratextos de Catarina Baleiras.
1.ª edição. Lisboa: Rolim, 1986. pp. 34-38
Belo poema do António Barahona, talhado para este espaço!
ResponderEliminarUm abraço!
RUI
ResponderEliminargrato pelo festival de poesia viva. Não entendi de quem: de António Barahona?
Maravilha
delirante/com lírios nos cabelos.
Deliriante?
Venha mais
abraços
Para aumentar a minha confusão:
ResponderEliminarEdição Rolim -1986. De Loy Rolim?
Abraço a ti, Beijinho a LOY