segunda-feira, 12 de abril de 2010

Penso-te como o homem de asas a calcular o chão,
o pescador a recolher memórias das brumas,
na equitação das aves sobre o tempo doutro tempo

Penso-te com as duas mãos a começar o amor,
na respiração dos vulcões que sonham os dias pela calada,
nos pedaços de trigo que levo à boca

Penso-te em abril junho e dezembro,
na casa com a lua cheia por cima,
ao nascer da ninhada de gatos

Penso-te de pulso firme à tatuador
neste primeiro andar do beliche
neste pouco que sou
mas que não faz mal
porque penso-te como pensa o cego
a ler o rosto de uma mulher cega

1 comentário:

  1. inspirador!

    tempo após tempo,
    sendo cada vez menos,
    até se apagar a própria memória,

    no amor, que sempre começa
    porque nunca acaba,
    como o trigo que se regenera,
    pelos tempos.

    E o alto faz-se baixo
    nas profundezas atingidas pela lava,
    que tal como as mãos do cego que sente,
    vai marcando a terra.

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