quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

alfazema




Quero escrever um poema
Um poema não sei de quê

Quero escrever um poema
Como quem escreve o momento
Cheiro de terra molhada
Abril com chuva por dentro
E este ramo de alfazema
Por sobre a tua almofada
Quero escrever um poema
Que seja de tudo ou nada

Um poema não sei de quê
Que traga a notícia louca
Da história que ninguém crê
Ou esta afta na boca
Esta noite sem sentido
Coisa pouca coisa pouca
Tão aquém do pressentido
Que me dói não sei porquê

Quero um poema que diga
Que nada há que dizer
Senão que a noite castiga
Quem procura uma cantiga
Que não é de adormecer

E com ele então dizer
O meu poema está feito
Não sei de quê nem sobre quê

Quero o poema perfeito
Que ninguém há-de escrever

Que venha como um destino
Às de copas às de espadas
Que venha para viver
Que venha para morrer
Se tiver que ser será
E não há cartas marcadas
Só assim poderá ser
O poema que não há.”

Excerto do poema: “Balada do Poema que não Há”, Manuel Alegre

15 comentários:

  1. Lá comprido é, muito embora não passe de um excerto! Deus me livre do poema inteiro! JCN

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  2. Rosmaninho, alfazema e alecrim ("aos molhos") trazem-me à ideia os saudosos tempos de "verde gaio". Eram os tempos da FNAT: uma alegria! JCN

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  3. poi é, pois é. de vez em quando penso que o ma, além de caçador e mau poeta, não é um revolucionário (para não dizer outra coisa). e essa da alegria no trabalho vai contar a outro, pá. dedica-te a sonetar (sei que é irónico).

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  4. como escangalhar uma mensagem em três atos... quatro.

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  5. Agora o 5º

    Enconberto pela não filosofia do Ser actual, que anda debaixo de escombros politicos e materias. De tanta matéria, impedido e não educado a Ser a sua própria essência convivendo com os demais..

    Filosofia do Ser, do Viver, do Sentir, Que mais ?

    O Outro.. é a Alfazema que foi vista num jardim qualquer

    :)

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  6. Nisso, meu caro BAAL, estamos em perfeita consonância; o homenzinho será tudo... menos poeta. Não posso! Salva-se o vozeirão! JCN

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  7. Ó Mango, vê lá se pões um pouco de ordem no que escreves! Que babilónia... sem ponta por onde se lhe pegue! Confrangedor! Trata de outra vida, pá! JCN

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  8. Antipoesia

    Poesia criança, poesia menina,
    - eu te perdi: tornei-me homem.

    (Queria um verso para os meus ouvidos,
    para o silêncio de minha mãe,
    - cadê?)

    Poesia moça, poesia antiga,
    - eu te esqueci: tornei-me homem.

    (Queria o amigo morto, os amigos,
    - cadê?)


    Poesia em rima, poesia em números,
    - eu te calei: tornei-me homem.

    (Queria um passarinho morrendo na rua,
    para chorar o menino que se foi,
    - cadê?)

    Poesia em métrica, poesia em sílabas,
    - eu te matei: tornei-me homem.

    (Queria a companheira
    em seus cabelos de sempre
    em suas mãos de namorada
    em seu corpo de lenda
    em sua primitiva paz,
    - cadê?)


    Poesia grávida, poesia partida,
    - te abandonei: tornei-me homem.

    (Queria o retângulo de crepúsculo
    que vi no mar,
    há muitos anos,
    - cadê?)


    Poesia fraca, poesia mutável,
    - a lua acabou: tornei-me homem.

    (Queria as tardes, as noites, as manhãs
    multiplicando o que sou,
    eu vivendo em mim e nos outros,
    na necessidade de um canário
    voando entre os campos,
    sem pompas, glória e adeus:
    ah! não me afogar em poemas, em livros,
    - cadê?)


    Poesia,

    Eu estou triste, eu estou só,
    Tornei-me homem.

    Assad Amadeu, in "Roteiro" (livro sem título), p.35

    Abraço Anaedera.

    Saudações aos presentes.

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  9. Não querias mais nada, pá?!
    Para seres "homem"... falta-te ser poeta. Essa é que é essa. Vai por mim! JCN

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  10. Ser homem é respeitar e ser respeitado.

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  11. Porque num jardim qualquer,
    Alguém escreveu que
    Sempre algo volta.
    mais tarde…
    mais cedo.

    ”Como as estações
    Como a amizade
    Como as marés
    Como a saudade..”

    Mas que sempre volta.

    Então o verso voltará para quebrar o silêncio
    Tal como amigo volta para rever o abraço.
    Como o passarinho ferido sempre busca a mão da criança,
    Também a companheira, procurará a paz de quem a aguarda.
    Assim como rectângulo crepuscular, jamais poderá deixar de existir no
    Infinito,
    Também as tardes, as noites e as manhãs dos dias que se repetem,
    Multiplicam quem somos, no Tempo que não acaba.
    Tal como as humildes andorinhas voam pelos campos,
    No seu regresso à Primavera, de todos.

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