quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

TRAPOS

(Artigo da autoria de Sandra Maria Ferreira publicado em "Escrita dos Sentidos" do Jornal Entre Vilas)
“O que se leva da terra, leva-se no rosto.” A terra das Ameixas verdes, Herta Mὕller (Nobel 2009)
Desde que nós, os humanos, vestimos a Alma o mundo ficou mais triste: perdeu transparência. As vestes são meias verdades. Farrapos. Iludem. Escondem. Tapam.
Ao querer tocar alguém o Homem toca primeiro as vestes: não é verdadeiro o primeiro toque. Perdeu-se a sensação pura.
Se num dia de sol o Homem quiser ver o calor da videira com a cara tapada não estará, realmente, a ver. Estará primeiro a pensar que vê e não a sentir a visão. Tudo isto o Homem tem feito: veste-se, excede-se com o aspecto exterior.
Meias verdades são farrapos, trapos: ilusão.
Era Natal e o Homem com olhos tapados não viu. E a culpa do Natal não ser todos os dias (há sempre um culpado) será dos trapos que somos ou dos que usamos?

3 comentários:

  1. Que trapos?

    E por que não guardanapos?!

    (brincadeira, Papoila Sonhadora!)

    Interessante, "Escrita dos Sentidos"
    ... e o Homem com os olhos tapados não viu."

    Gostei.

    Abraço natalício.

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