Conforme o amor que tiverdes, assim o entendimento dos meus versos
Em Camões existe uma ambiguidade: Amor a uma mulher que é simultaneamente divina. A mulher é tratada como semidiva. A mulher como mediadora para uma experiência do divino. A mulher como aquilo que do plano divino desce ao plano humano.
Encontra-se também em Camões, um amor mais fino que não quer encontrar o objecto do desejo: o desejado sem consumação é sempre mais perfeito - o amor saudoso.
A Mulher, o Amor e a Saudade são os objectos da poesia camoneana.
A DIFERENÇA
ResponderEliminarCamões cantou, sem nomear ninguém,
a alma gentil, a criatura amada,
que muito cedo Deus houve por bem
chamar a si... sem atender a nada.
Quem fosse a alma gentil do grande vate
só ele com verdade o saberia,
podendo acontecer que até se trate
de literária e pura fantasia.
É tão diverso o caso que me afecta,
só que eu não tenho o estro do Poeta
para cantar quem tanto me encantou!
A minha alma gentil é tão real
e tão querida foi que, por sinal,
uma porção de filhos me deixou!
JOÃO DE CASTRO NUNES
DISPARIDADES
ResponderEliminar"Camões, grande Camões", quão desigual
foi confrontado ao meu o teu amor:
o meu foi de certeza mais real
já para não dizer que foi maior!
O teu não terá sido ao natural,
não passando Natércia ou Leanor
de personagem mítica, ideal,
conforme a tua vida faz supor.
Só que, não me vencendo na paixão,
de longe me excedeste e superaste
incontestavelmente na expressão.
Se versejando tu me ultrapassaste
na exaltação do amor como ilusão,
no amor real nem mesmo me igualaste!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Um dia uma professora de Português, pertencente ao clube dos jarrões de serviço, pediu-me se eu não me importava de comentar na aula de filosofia o soneto "transforma-se o amador na coisa amada".
ResponderEliminarEu fiz o que a senhora me pediu: disse aos alunos que o soneto não tinha nada que ver com a dor de corno, nem com o amor babão, nem com a novela morangos com açúcar.
O resultado foi que a senhora sempre que me via parecia que lhe aparecia o mafarrico em pessoa e passou a queixar-se que eu era comunista.
De facto o amor é um 'tema' que em Camões tem muito que se lhe diga: o Sampaio Bruno viu isso muito bem, Camões é um Cavaleiro do Amor (e esse tema tem muito que se lhe diga, como muito bem nos mostras).
Abraço!
A insistência no 'muito que se lhe diga' deve-se à quebreira na cachimónia da leitura dos sonetaços do caro JCN.
ResponderEliminarMas é bom que fique claro que o Camões parece que era zarolho. Embora pela frequência com que escreve 'os meus olhos' a coisa fique repleta de incertezas...
;)
:)
As voltas que deu vossemecê, senhor "cumunista", para chegar a mim!... Imagino, pela sua prosa, o que serão as suas aulas de filosofia! Ouça lá: vossemecê... já foi avaliado?!... JCN
ResponderEliminarUma dúvida que me ficou das suas "incertezas": de qual dos três olhos é que Camões era "zarolho"?!... Eis um bom tema para as suas fantasiosas aulas de filosofia. Que gáudio para os seus alunos e sobretudo... alunas! Posso espreitar... pelo "olho"... da fechadura? JCN
ResponderEliminarPelo que respeita a Camões... vossemecê ainda vai em Sampaio Bruno?!... JCN
ResponderEliminarJá fui avaliado, sim senhor!
ResponderEliminarSó não tive Muito Bom porque não pedi aulas assistidas.
O carpo JCN está à vontade...
Até posso deixar a porta aberta.
:)
Agora estou a dar aulas sobre a Lógica dum filósofo gago, o Aristóteles.
Se se interessar pela teoria do silogismo...
A coisa metida em soneto até que ficava de espanto...
:)
Como é que vossemecê me vai deixar "assistir" às suas aulas, se para efeitos de avaliação se furtou a dá-las perante os avaliadores?!... Cortou-se?!... É essa a Lógica aristotélica que vossemecê ensina aos seus alunos?... Vou ali... e já volto. E quanto ao tal "olho"?!... Já chegou a alguma conclusão... minimamente aceitável? Como no caso da escola sem portas nem janelas, vossemece está a fugir com o rabo a seringa! Não desconverse, meu carpo depreciador dos meus camoneanos sonetaços... compostos ao som dos violinos!... Espere pelos próximos. Nunca recusei um desafio. Inter pares, evidentemente! Veja-me lá essa coisa do terceiro olho! Porque não pergunta à jarrona professora de português? JCN
ResponderEliminarAmor é,
ResponderEliminarAmar o Amor.
Abraços.
Em má hora... se foi vossemecê meter com o "zarolho"! JCN
ResponderEliminarO TERCEIRO OLHO
ResponderEliminarChamando a Camões "zarolho"
e não sabendo de qual,
anda o Feitais, quanto ao olho,
à procura do sinal!
JCN
O senhor Paulo Feitais
ResponderEliminarsó dá com deficientes:
se um é gago, o outro é cego,
só lhe faltando um sem dentes.
Ansioso estou por ver
como perante as alunas
vai o caso debater
dos três olhos de Camões!
Para compor um soneto
sobre o caso aqui chamado
vou num silêncio discreto
aguardar o resultado.
JOÃO DE CASTRO NUNES
Caro João, as minhas horas são boas e as suas palavras não me ferem. É que criei amigos em Capadócia e ensinaram-me a escapar às setas. E, depois, sinto-o como um bom coração, alma gentil, que alberga um provocador de primeira. Não é fácil aguentá-lo, é verdade, porém não lhe posso levar a mal tamanha honestidade.
ResponderEliminarAMAR O AMOR
ResponderEliminar(Camoneando)
Amámo-nos os dois intensamente
de tal maneira e tanto que, de facto,
os nossos corações, a nossa mente
era uma apenas... mesmo sem contacto.
Nunca ninguém, suponho, asim terá
de parte a parte amado como nós:
nunca se viu nem nunca se verá
dois seres se entendendo a uma só voz.
O que um queria, o outro pretendia
de igual maneira e mesma intensidade
em plena consonância e harmonia.
Se acso alguma vez no ser amado
se converteu quem ama, em paridade,
em nós se veja o caso confirmado!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Coimbra, 6 de Dezembro de 2009.