sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Saudade e Luís Vaz de Camões (1524?-1580)

Conforme o amor que tiverdes, assim o entendimento dos meus versos

Em Camões existe uma ambiguidade: Amor a uma mulher que é simultaneamente divina. A mulher é tratada como semidiva. A mulher como mediadora para uma experiência do divino. A mulher como aquilo que do plano divino desce ao plano humano.

Encontra-se também em Camões, um amor mais fino que não quer encontrar o objecto do desejo: o desejado sem consumação é sempre mais perfeito - o amor saudoso.

A Mulher, o Amor e a Saudade são os objectos da poesia camoneana.

15 comentários:

  1. A DIFERENÇA

    Camões cantou, sem nomear ninguém,
    a alma gentil, a criatura amada,
    que muito cedo Deus houve por bem
    chamar a si... sem atender a nada.

    Quem fosse a alma gentil do grande vate
    só ele com verdade o saberia,
    podendo acontecer que até se trate
    de literária e pura fantasia.

    É tão diverso o caso que me afecta,
    só que eu não tenho o estro do Poeta
    para cantar quem tanto me encantou!

    A minha alma gentil é tão real
    e tão querida foi que, por sinal,
    uma porção de filhos me deixou!

    JOÃO DE CASTRO NUNES

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  2. DISPARIDADES

    "Camões, grande Camões", quão desigual
    foi confrontado ao meu o teu amor:
    o meu foi de certeza mais real
    já para não dizer que foi maior!

    O teu não terá sido ao natural,
    não passando Natércia ou Leanor
    de personagem mítica, ideal,
    conforme a tua vida faz supor.

    Só que, não me vencendo na paixão,
    de longe me excedeste e superaste
    incontestavelmente na expressão.

    Se versejando tu me ultrapassaste
    na exaltação do amor como ilusão,
    no amor real nem mesmo me igualaste!

    JOÃO DE CASTRO NUNES

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  3. Um dia uma professora de Português, pertencente ao clube dos jarrões de serviço, pediu-me se eu não me importava de comentar na aula de filosofia o soneto "transforma-se o amador na coisa amada".
    Eu fiz o que a senhora me pediu: disse aos alunos que o soneto não tinha nada que ver com a dor de corno, nem com o amor babão, nem com a novela morangos com açúcar.
    O resultado foi que a senhora sempre que me via parecia que lhe aparecia o mafarrico em pessoa e passou a queixar-se que eu era comunista.
    De facto o amor é um 'tema' que em Camões tem muito que se lhe diga: o Sampaio Bruno viu isso muito bem, Camões é um Cavaleiro do Amor (e esse tema tem muito que se lhe diga, como muito bem nos mostras).

    Abraço!

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  4. A insistência no 'muito que se lhe diga' deve-se à quebreira na cachimónia da leitura dos sonetaços do caro JCN.
    Mas é bom que fique claro que o Camões parece que era zarolho. Embora pela frequência com que escreve 'os meus olhos' a coisa fique repleta de incertezas...

    ;)

    :)

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  5. As voltas que deu vossemecê, senhor "cumunista", para chegar a mim!... Imagino, pela sua prosa, o que serão as suas aulas de filosofia! Ouça lá: vossemecê... já foi avaliado?!... JCN

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  6. Uma dúvida que me ficou das suas "incertezas": de qual dos três olhos é que Camões era "zarolho"?!... Eis um bom tema para as suas fantasiosas aulas de filosofia. Que gáudio para os seus alunos e sobretudo... alunas! Posso espreitar... pelo "olho"... da fechadura? JCN

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  7. Pelo que respeita a Camões... vossemecê ainda vai em Sampaio Bruno?!... JCN

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  8. Já fui avaliado, sim senhor!
    Só não tive Muito Bom porque não pedi aulas assistidas.
    O carpo JCN está à vontade...
    Até posso deixar a porta aberta.
    :)
    Agora estou a dar aulas sobre a Lógica dum filósofo gago, o Aristóteles.
    Se se interessar pela teoria do silogismo...
    A coisa metida em soneto até que ficava de espanto...
    :)

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  9. Como é que vossemecê me vai deixar "assistir" às suas aulas, se para efeitos de avaliação se furtou a dá-las perante os avaliadores?!... Cortou-se?!... É essa a Lógica aristotélica que vossemecê ensina aos seus alunos?... Vou ali... e já volto. E quanto ao tal "olho"?!... Já chegou a alguma conclusão... minimamente aceitável? Como no caso da escola sem portas nem janelas, vossemece está a fugir com o rabo a seringa! Não desconverse, meu carpo depreciador dos meus camoneanos sonetaços... compostos ao som dos violinos!... Espere pelos próximos. Nunca recusei um desafio. Inter pares, evidentemente! Veja-me lá essa coisa do terceiro olho! Porque não pergunta à jarrona professora de português? JCN

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  10. Em má hora... se foi vossemecê meter com o "zarolho"! JCN

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  11. O TERCEIRO OLHO

    Chamando a Camões "zarolho"
    e não sabendo de qual,
    anda o Feitais, quanto ao olho,
    à procura do sinal!

    JCN

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  12. O senhor Paulo Feitais
    só dá com deficientes:
    se um é gago, o outro é cego,
    só lhe faltando um sem dentes.

    Ansioso estou por ver
    como perante as alunas
    vai o caso debater
    dos três olhos de Camões!

    Para compor um soneto
    sobre o caso aqui chamado
    vou num silêncio discreto
    aguardar o resultado.

    JOÃO DE CASTRO NUNES

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  13. Caro João, as minhas horas são boas e as suas palavras não me ferem. É que criei amigos em Capadócia e ensinaram-me a escapar às setas. E, depois, sinto-o como um bom coração, alma gentil, que alberga um provocador de primeira. Não é fácil aguentá-lo, é verdade, porém não lhe posso levar a mal tamanha honestidade.

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  14. AMAR O AMOR

    (Camoneando)

    Amámo-nos os dois intensamente
    de tal maneira e tanto que, de facto,
    os nossos corações, a nossa mente
    era uma apenas... mesmo sem contacto.

    Nunca ninguém, suponho, asim terá
    de parte a parte amado como nós:
    nunca se viu nem nunca se verá
    dois seres se entendendo a uma só voz.

    O que um queria, o outro pretendia
    de igual maneira e mesma intensidade
    em plena consonância e harmonia.

    Se acso alguma vez no ser amado
    se converteu quem ama, em paridade,
    em nós se veja o caso confirmado!

    JOÃO DE CASTRO NUNES

    Coimbra, 6 de Dezembro de 2009.

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