sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

homo vitruviano

São Leonardo de Galafura, 8 de Abril de 1977

O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta.

Miguel Torga, in Diário XII
São Leonardo de Galafura, 11 de Dezembro de 2009

5 comentários:

  1. Location: 'Any' Earth

    ( The essence in the quality of nature is the unbridled force of its energy and power.)


    When I was little I had a secret hiding place in the woods near nowhere. When I could I would escape to it... In that hidden landscape I felt very safe, safe from all the complexities of my life at home and the everyday problems of growing up. In that natural enviroment I felt whole and unthreatened. There were trees and sall animals, plants and good natural smells, snakes and birds, and... It was a holistic universe wich I could inhabit, were I could fantasize. Perhaps most importantly it felt nonjudgemental. I did not feel I had to adapt to anyone`s ideas or demands or dictates. I could be myself. I could dream. I could play games. I could make up stories and fantasies.
    That place in the woods has remained with me all my life. I suppose what I have been doing as an adult is trying to find the basic meaning of my relationship to that natural place. Through that search I have hoped to discover tha elements of people`s inherent connections to the landscape wich serves as a guide to design principles.


    ... belo desenho de uma fantasia esta sua 'reveladora' foto!!


    «Silêncio! Cuidado! Terra do eco!»
    James Joyce

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  2. A Beleza absoluta é sempre desmedida,imensa, súbita. "Um prodígio"; uma escalada ao cimo. Um "silêncio pasmado(...) a reflectir o seu próprio assombro".
    "Galafura" o conto de Torga é esse mesmo prodígio de uma linguagem talhada na pedra. As mãos cheias de terra. O "Sólido" Torga.

    Pouco o tenho visto por aqui,a esse "gigante" rude, de face talhada em madeira (parece uma escultura, a sua face)!
    O que é mostrado nesta Galafura, o Rui o trouxe, à nossa presença.Leia quem lê o que lê.

    Abraço, Saudades

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  3. Nem de propósito, "saudadesdofuturo":

    TORGA... EM TOSCO

    Transmontano de gema, a cem por cento,
    autêntico, vernáculo, frontal,
    hostil de rosto e de temperamento,
    eras de corpo e alma vertical.

    Se eu te quisesse erguer um monumento,
    não to faria nunca de metal,
    mas de granito ou xisto pardacento
    como era o teu aspecto pessoal.

    Não ficaria menos verdadeiro
    se fosse de rugoso castanheiro
    de S. Martinho d'Anta ou região.

    Olhar cavado, a golpes de martelo,
    havia, Torga, de mandar fazê-lo
    ao mais castiço e rústico artesão!

    JOÃO DE CASTRO NUNES

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  4. Agora reparo, Rui. O que é a lentidão dos dias de Inverno!:)

    "11 de Dezembro de 2009"!

    Grata, meu Amigo, por lembrar que do alto se vê Galafura... vou reler o conto! Ai vou!

    Um abraço de mão na mão!

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