Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
É sempre comovente, caro Rui Miguel, recordar o que perdemos, mesmo sem absoluta saudade de lá voltar... A ingenuidade infante, arremedo da sabedoria sem idade.
«Nenhum adulto foi bom em tempo algum, com excepção dos santos, os quais, qualquer que fosse a religião que os santificou, concordaram todos com as palavras evangélicas em que se aponta a criança como paradigma de homem e fizeram todo o possível pelo regresso à infância; o que dá poderoso significado, e não já como sobrevivência do passado, mas como prenúncio de futuro, àquela antiga festa portuguesa, hoje das Ilhas e Brasil, em que o povo, mais sábio que os doutores, coroa uma criança Imperador do Mundo. E é à criança que temos de considerar o bom selvagem, estragando-a, deformando-a, inutilizando-a o menos que nos seja possível, defendendo o seu tesouro de sonho, jogo e criação, a sua espontaneidade e a sua malícia sem maldade, o seu entendimento sem análise e o seu amar do mundo sem a preocupação das sínteses; e foi afinal desta criança feita Deus, ou Deus se revelando, para um Novo Evangelho, que nos falou Alberto Caeiro, o poeta que se afirmou no que toca aos jeitos de viver, o mais português de todos os poetas portugueses.»
Meu caro João, as minhas dúvidas, são profundas, e visam sobremaneira acordar uma única pessoa, a única pessoa que ‘não’ encontro, bem por dentro ‘desta’ funda ausência, bem por dentro da mais extensa solidão. Amigo (veja a força da palavra), se de alguma forma se viu ferido, perdoe-me. As marcas de sangue que ostento são lágrimas d’infância do meu coração.
Procuro-te, mas não te encontro, e sei quando te perdi. Sejas tu uma ideia do meu ido esquecimento, sejas apenas suposto, sustido. Estendo-te a mão, em vão tentando alcançar-te, nas palavras, nas imagens, nos sonhos que nos mantêm acordados, nos breves instantes que se escapam, à luz do astro que perdura.
Paulo, Kunzang, agradeço-vos por terem tido a amabilidade para acrescentar outro pequeno grande papel ao quadro… arrisco, permitam-me; Paulo “nas recordações”, Kunzang “nas crianças”.
Quanto a mim, passe-se a egocêntricidade da forma, queria aqui deixar bem expresso, que não tenho folha, nem ideia, do que é a felicidade.
Isso... é pergunta que se faça?!... JCN
ResponderEliminarÉ sempre comovente, caro Rui Miguel, recordar o que perdemos, mesmo sem absoluta saudade de lá voltar... A ingenuidade infante, arremedo da sabedoria sem idade.
ResponderEliminar«Nenhum adulto foi bom em tempo algum, com excepção dos santos, os quais, qualquer que fosse a religião que os santificou, concordaram todos com as palavras evangélicas em que se aponta a criança como paradigma de homem e fizeram todo o possível pelo regresso à infância; o que dá poderoso significado, e não já como sobrevivência do passado, mas como prenúncio de futuro, àquela antiga festa portuguesa, hoje das Ilhas e Brasil, em que o povo, mais sábio que os doutores, coroa uma criança Imperador do Mundo. E é à criança que temos de considerar o bom selvagem, estragando-a, deformando-a, inutilizando-a o menos que nos seja possível, defendendo o seu tesouro de sonho, jogo e criação, a sua espontaneidade e a sua malícia sem maldade, o seu entendimento sem análise e o seu amar do mundo sem a preocupação das sínteses; e foi afinal desta criança feita Deus, ou Deus se revelando, para um Novo Evangelho, que nos falou Alberto Caeiro, o poeta que se afirmou no que toca aos jeitos de viver, o mais português de todos os poetas portugueses.»
ResponderEliminarAgostinho da Silva, in Educação de Portugal
Meu caro João, as minhas dúvidas, são profundas, e visam sobremaneira acordar uma única pessoa, a única pessoa que ‘não’ encontro, bem por dentro ‘desta’ funda ausência, bem por dentro da mais extensa solidão.
ResponderEliminarAmigo (veja a força da palavra), se de alguma forma se viu ferido, perdoe-me.
As marcas de sangue que ostento são lágrimas d’infância do meu coração.
Procuro-te, mas não te encontro, e sei quando te perdi.
Sejas tu uma ideia do meu ido esquecimento, sejas apenas suposto, sustido.
Estendo-te a mão, em vão tentando alcançar-te, nas palavras, nas imagens, nos sonhos que nos mantêm acordados, nos breves instantes que se escapam, à luz do astro que perdura.
Paulo, Kunzang, agradeço-vos por terem tido a amabilidade para acrescentar outro pequeno grande papel ao quadro… arrisco, permitam-me; Paulo “nas recordações”, Kunzang “nas crianças”.
Quanto a mim, passe-se a egocêntricidade da forma, queria aqui deixar bem expresso, que não tenho folha, nem ideia, do que é a felicidade.
Perdoe-se-me o algo por haver a perdoar.
Um abraço, mais-que-abraço.