Na saudade e pela saudade, se parte e se atinge duma e uma natureza transmutada, como surnatureza. Mas usando e passando através da natureza: do mundo e do homem. A ambas unindo-as. Por isso Teixeira de Pascoaes diz que a saudade é espírito e matéria.
É nessa surnatureza e com ela que o homem saudoso vive e conhece. Com ela, ele penetra nesse seio gerador e secreto da natureza, como Natura Naturans, o incriado e incondicionado. Por isso ele aí também tem acesso à sua própria imortalidade. Vê e goza a existência e o mundo para lá dos limites do efémero, do ir e vir irreversível no devir; vendo e vivendo tudo na eternidade.
Porque a eternidade é o gérmen do tempo. O tempo na sua realidade imaculada, primeira, forte, pura, de potência, guardada e guardando-se no seio da divindade, como Todo e Nada. O ponto de concentração, fortíssimo, energia ainda não gasta, aberta, espalhadamente na criação, como tempo. O tempo será a eternidade maculada, já depois de ter sofrido a Queda.
E a saudade será sempre a força de regresso ao paraíso, como o refazer inverso da Queda, levando o homem e a natureza, nas suas condições de criados, no tempo e no espaço, ou na sua dualidade, à sua vera realidade, ou estado primeiro, como antes da Queda - na sua unidade. Como subida na corrente do devir à sua fonte primeira, a eternidade.
Dalila L. Pereira da Costa, Saudade Unidade Perdida Unidade Reencontrada, in Dalila L. Pereira da Costa e Pinharanda Gomes, Introdução à Saudade, Porto, Lello e Irmão, 1976, pp.126-127
Se pela saudade se atinge a libertação (de quê?), caso é para se dizer que não há português que não se sinta livre, mesmo que não saiba... de quê. JCN
ResponderEliminarMais um... que quer ser dono da saudade! JCN
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