terça-feira, 24 de novembro de 2009

VI

Palmeiras!
e contra a crepitante casa tantas lanças de chama!

...As vozes eram um ruído luminoso e sotavento...O barco
de meu pai, diligente, conduzia grandes figuras brancas: talvez,
em suma, Anjos despenteados; ou talvez homens sadios, vestidos
de belo pano, capacetes de sabugueiro ( e assim meu pai, que foi
nobre e decente).

...Pois de manhã, pelos campos pálidos da Água nua, ao
longo do Oeste,vi andarem Príncipes e seus Genros, homens de
alta estirpe, bem vestidos e calados, que o mar antes do meio-dia é
um Domingo em que o sono tomou o corpo de um Deus,
dobrando as pernas.

E tochas ao meio-dia, se ergueram para minhas fugas,
E creio que Arcos, Salas de ébano e zinco iluminaram-se
todas as noites ao sonho dos vulcões,
na hora em que juntavam nossas mãos diante o ídolo em
traje de gala.
Palmeiras! e a doçura
de velhice nas raízes...! Os ventos alísios, os pombos trocazes
e a gata parda
esburacavam a amarga folhagem verde onde, na crueza de uma
noite com perfume de Dilúvio
as luas rosas e verdes inclinavam-se qual mangas.

...Já os tios falavam baixo a minha mãe. Haviam amarrado
seu cavalo à porta. E a casa durava, sob as árvores de plumas.

Saint-John Perse
in Obra Poética
Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1973
Trad. Darcy Damasceno

6 comentários:

  1. Capacetes de sabugueiro... só de polícia ou bombeiro. JCN

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  2. Desculpe, Lee, brincar aqui com JCN:

    DISPARATES... RIMADOS, JCN?

    "Dis-paratados...rima-Tes, JCN!

    Então os capacetes com plumas ou de sabugueiro?... não lhe agradam?

    CHAMÒPOLÌCIA! JCN!

    E quanto às palmeiras? Que opinas tù? JCN! (risos e piscar de olho!)

    Lee,

    A imagem que nos traz, a do vulto, é muito sugestiva. É aquela hora em que sonhamos a lembrar com esses "heróis" verdadeiros. Insito, com sua licença, (não como os do século XXI, "heróis de Góis"!) Insisto na envolvência do texto e do diálogo com a imagem.

    "Traje de gala", como só em França, se ousam...

    E depois como não degustar com prazer pedaços de texto:
    "...esburacavam a amarga folhagem verde onde, na crueza de uma
    noite com perfume de Dilúvio
    as luas rosas e verdes inclinavam-se qual mangas."
    "Sob árvores de plumas".

    Um abraço aos dois.

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  3. Ah! Esqueci-me de dizer: Um abraço emplumado, serpentinamente, ou "serpentimanente"? (Um outro sinal e sorriso a - desta vez maiusculado, não sei se musculado, mas, quem se apronta para a luta... revolucionária... Baal.

    Vossa, Saudades.

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  4. Gracejo à parte, quem não se rende à magia dos poemas de Saint-John Perse, meio crioulos meio parisinos, entre calorosos e refinados, à francesa (que saudades de Paris!), Legião de Honra ao peito e tricórnio de diplomata sobraçado! Gente fina... é outra coisa! Em paridade... só "saudadesdofuturo". JCN

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