sábado, 28 de novembro de 2009

o poema: inspira, expira

O que me inspira é a Vida
os coelhos nos seus regressos a casa,
a dona maria a sacudir as passadeiras
os pássaros bocejando visões
as gruas
os automóveis azuis
as árvores a chuva e o milho

Mas mais que gruas que levam homens ao céu
inspira-me as luzes que cegam os mortos
O sol umbilicalmente aos dias
nas marquises
nos frutos
nas formigas a construirem suas pátrias

É você aí desse lado que me inspira
a descobrir que o silêncio é um bosque
a somar à dor de parto com que fico

Depois
expiro a casa que guarda o nome e os ossos dos meus avós
a criança na sua dicotomia de crescimento
este deus hipócrita partido em quatro
mas que eu amo

E se tiver tudo isto tenho amor
tenho Obra
e manjedoura
e Nath King Cole a dar voz às manhãs

Ó mar faz de mim um bonito cadáver!

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