Sem amanhã o gume da viagem jugula a despedida
Lume de prata aceso no vítreo despontar das lágrimas
Toda a lua reflectida na inteira presença da morte
O chão tem ondulações de rocha e profundezas arremessadas de dentro
Só o mar tem fundo
Onde há mergulho é o abismo
A água amniótica do sem princípio
No reverso da qual o íntimo é praia sobre si própria projectada para além
Náufrago do instante o que se larga à demanda
Ao largo de qualquer terra firme
Argonauta do esquecimento
Sem procurar encontra-se impenitente
Aquém da inocência e da incompletude
São suas todas as horas perdidas contas de vidro antigo
Presas umas às outras pela desatenção alucinada
Os lábios gretados pelo sol rubro da espera
Desenham voos silenciosos de prece e abandono
Não tem dono o sofrimento repleto de despojos do longe já pretérito
O mais insuportável dos cárceres é o infinito
(Paulo, deixe que navegue o seu poema por este rio meu. Como são belas, profundamente belas e tristes as suas palavras!)
ResponderEliminarSem amanhã não há:
“O mais insuportável dos cárceres é o infinito.”
A lua cabe inteira numa gota de água
És tu a clara gota:
Aí verás que o chão do céu não “tem fundo”
E o abismo é o tempo sem asas
Mergulhado no mar circular do ventre
Náufrago da demanda, o Argonauta
visionário da terra firme fita o
“Argonauta do esquecimento”:
Suspende o instante o tempo entre dois nós
Entre infinitos me encontro:
cárere do cárcere!
Gume impossível do encontro
Cortada lágrima antes que tombe
no cristal navegável do tempo
até que a barca entre na jugular do mar
morrendo, areia fina do deserto,
Saudoso de si.
Um beijo.
Belo rio...
ResponderEliminare recebo o beijo como um afago de luz...
que retribuo com um sorriso
:)