domingo, 20 de setembro de 2009

viagem
















Sem amanhã o gume da viagem jugula a despedida

Lume de prata aceso no vítreo despontar das lágrimas

Toda a lua reflectida na inteira presença da morte

O chão tem ondulações de rocha e profundezas arremessadas de dentro

Só o mar tem fundo

Onde há mergulho é o abismo

A água amniótica do sem princípio

No reverso da qual o íntimo é praia sobre si própria projectada para além

Náufrago do instante o que se larga à demanda

Ao largo de qualquer terra firme

Argonauta do esquecimento

Sem procurar encontra-se impenitente

Aquém da inocência e da incompletude

São suas todas as horas perdidas contas de vidro antigo

Presas umas às outras pela desatenção alucinada

Os lábios gretados pelo sol rubro da espera

Desenham voos silenciosos de prece e abandono

Não tem dono o sofrimento repleto de despojos do longe já pretérito

O mais insuportável dos cárceres é o infinito

2 comentários:

  1. (Paulo, deixe que navegue o seu poema por este rio meu. Como são belas, profundamente belas e tristes as suas palavras!)

    Sem amanhã não há:
    “O mais insuportável dos cárceres é o infinito.”
    A lua cabe inteira numa gota de água
    És tu a clara gota:
    Aí verás que o chão do céu não “tem fundo”
    E o abismo é o tempo sem asas
    Mergulhado no mar circular do ventre
    Náufrago da demanda, o Argonauta
    visionário da terra firme fita o
    “Argonauta do esquecimento”:
    Suspende o instante o tempo entre dois nós
    Entre infinitos me encontro:
    cárere do cárcere!
    Gume impossível do encontro
    Cortada lágrima antes que tombe
    no cristal navegável do tempo
    até que a barca entre na jugular do mar
    morrendo, areia fina do deserto,
    Saudoso de si.

    Um beijo.

    ResponderEliminar
  2. Belo rio...
    e recebo o beijo como um afago de luz...

    que retribuo com um sorriso
    :)

    ResponderEliminar