quinta-feira, 24 de setembro de 2009

refúgio


















Ficou no fundo do mar

O grito suspenso do fim

O fio de luz e pranto

Não resistiu ao gume do contentamento

A última vontade de ser sem mais

A capitânia S. Gabriel naufragada

No cais antes da partida

Uma vida inventada ao sabor da espuma

Animada pelo vento sem dentro ou aconchego

Feito de bruma e sofrimento cristalino

O desejo é um barco e um berço

As barcas vão e se regressam trazem nos remos o hálito de nunca

O gélido arrepio dos que só se perdem depois

Pois se há um aqui é para isso

Nem paraíso nem inferno

Corpo combustivo lavrado de anímica impaciência

Alma feita de escuridade e esquecimento

Nem eternidade até

Nem o que seja água para matar a sede

Se se nasce não há saciedade que não seja regressiva

E só regressam os fantasmas

As almas penadas que acreditaram na morte

Não há véus que velem nem luz que dê a ver

As velas são para voar na flor das águas

Rumo à perdição

A Índia onde se jugulam as promessas

Onde os perdidos nunca se encontram

Não se perde o que não se tem

Só sente o que parecia seu

A explodir num voo de pombas de todas as cores

Susto de liberdade incontida a estilhaçar o céu

Para que choras os dias esgotados

É sem salvação o que vive para si

Não te agasalhes se a noite cair de repente

Se de dentro rebentam os diques da claridade contida

A força do ocaso leva tudo numa cavalgada de ser ninguém

Tirésias sabe o travo do beijo eterno de Ofélia

Enleada nas águas negras pelo som incandescente

Dos violinos que segregam a impossibilidade da aurora

Há que deixar no fundo o que é do fundo

As portas fechadas pelo medo são versos arrancados ao silêncio

Pelos passos dos que fogem da inquietação

Tomados pelo terror de serem só infinito

1 comentário:

  1. É. Refúgio.
    Este lugar do mundo é refúgio.
    E é tudo aquilo que se pode dizer de um refúgio.
    Ou é ficar em silêncio, neste lugar. Quem sabe naufragar, derivar, seguir no embalo*

    E fotografia, Paulo!

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