segunda-feira, 21 de setembro de 2009

ohio impromptu

4 comentários:

  1. (Há-de voltar em noite o claro dia
    e eu não hei-de esquecer-me de te agradecer este momento...)

    Que silêncio abismado o das palavras!
    Que profundo o lago da solidão
    De que plenos vazios tenho a alma cheia!
    Nada resta para dizer.
    (enquanto o punho bate na mesa do silêncio)
    Nada mais digo à sombra das minhas mãos!


    (Obrigada, Vergílio/Rui, poetas da montanha)

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  2. “Pouco resta a dizer.” Escuto de memória o sem voz da lembrança, como a marcar-lhe o ausido marco do tempo, como a querer que ele não tenha sido o que nem chegou a ser, a escorregar-se-me da mão de tudo no rosto da consumação de nada, de tão pouco tanto, tão resignadamente...

    Conforma-se-me...
    Entro e saio do vazio de cada coisa nenhuma: no nunca partilhado, como o jamais do para sempre partilhado nunca nada que não houve nem chegou ou veio a haver, ainda que houvesse sido.

    Conformo-me desconforme...
    No vaivém ao nada do limite da ausência ilímite, o esvaziar o olhar no estacar-se-me do não avistado, nunca esperado, encontrado jamais.

    Disformo-me...
    Sombra que conforta sombra sem vulto.
    “Pouco resta para dizer”
    Sombra fita ausente o fito do vulto.
    "Nada resta para dizer"
    Nada mais há para ser dito.
    Nada mais há...
    Nada mais...
    Nada.

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  3. E, no entanto, quando nos enchemos desse silêncio e nos embrenhamos de vazios e de noite... aparecem as palavras de alguém, de alguma alma enviada que, com a sua sombra, nos fala. E desaparece depois para nos mostrar que o silêncio em si mesmo não existe, nem está em nós.
    Fomos criados para comunicar. Mesmo quando somos espelho de nós mesmos e mais ninguém nos vê ou ouve.

    Lembro-me da primeira vez que me mostraste este texto do Beckett :)

    Bela partilha*

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  4. Grande abraço este, que agora para vós, ainda que tardiamente, mas sempre a tempo, vos entrego.

    da ilha dos cisnes...

    "Fechou o casaco.
    Deixara-se para trás, no silêncio da carreira. Escorrera-lhe pelo rosto esta lágrima, sua única e verdadeira união que o deslacrava da certeza.
    Deixara para trás as memórias, de um homem pretérito, rumo à casa das cem janelas."

    Vos agradeço.

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