“Meu caro Amigo: do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não são seus. Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição, venha a pensar o mesmo que eu; mas, nessa altura. já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem [...].”
"Estou a exigir muito de si? Quem lhe há-de exigir senão os seus amigos? Eles receberam o encargo de o não deixar amolecer e, pela minha parte, tenha você a certeza de que o hei-de cumprir. Você há-de dar tudo o que puder, e mesmo, e sobretudo, o que não puder; porque só há homem, quando se faz o impossível; o possível todos os bichos fazem. Quando você saltar e saltar bem, eu direi sempre: agora mais alto! Que me importa que você caia. Os fracos vieram só para cair, mas os fortes vieram para esse tremendo exercício: cair e levantar-se; sorrindo.
"Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo, 1945.
É... o impossível!
ResponderEliminarPena que muita da filosofia que hoje se pratica (por todo o lado, do secundário, ao superior), acabe por ser uma arte de dissuasão do que uma forma de revolucionar o que julgamos que o mundo seja. A artimanha dentro do possível, encarado como o que se deixa apreender pela lógica do amanuense.
:)
... são os "dramas" de quem ensina, Paulo!...
ResponderEliminarpara juntar aos do "ser" e aos do "fazer" e...
Quem ousa "desformatar" o mundo?
Talvez só os loucos: artistas filósofos, poetas e outros "mendigos"!
Um sorriso :)
A confusão, hoje generalizada, entre "técnica" e "saber" remete-nos para a grega tensão entre uma sofística "techné", pura arte de sofismar, e a sempre titubeante filia de sophia.
ResponderEliminarOu seja, permanecemos entre o ser destro na arte de vencer os outros, convencendo-os, ainda que por um urdir ardiloso do pensar puramente esgrimante, e nisso redondamente derrotar-se a si mesmo, e o ser inter-rogante constatar do ignorar que a si mesmo vence no questionar infindo que se põe sempre em questão, na própria lâmina de cada responder insolúvel.
Está-se hoje, creio, a todos os níveis da vida, mais refém dos sofistas do que alguma vez eles próprios o estiveram uns dos outros.
Estamos cada vez mais debaixo de um tipo de pensamento que, paradoxalmente, estimula o não haver pensamento próprio. Isto é de tal modo grave que se nos apercebêssemos do que estamos a "matar" na alma humana já teríamos parado para ver a extensão dos danos, da lesão! É tão grave a extensão dos danos que se cometem quando se ministra mal o ensino, ensinando que o justo caminho é seguir cegamente e sem sentido crítico algum, a "balela" que melhor as sociedades põem à venda, para consumo e propagação da "maleita"...
ResponderEliminarA preço "alto" se compram esses "almanaques" que tudo vendem. Tudo está à venda e tudo é consumível, base de sustentação desta sociedade que nos querem vender. Mal maior é aceitar, com base no preconceito cego, de que nada pode mudar! Se assim fosse dentro de algum tempo destruiriamos o Homem que amarrado a si mesmo e à crença em uma verdade, como uma doutrina fundamentalista, se veria forçado a viver, isso sim, como os bichos,atados ao espartilho da "repetição cega" de antigos modelos!
Temos medo da mudança, tanto como a desejamos, porém... é preciso escolher... quando ainda se pode...
Esvazia-se assim de sentido, de conteúdo estruturante e de verdadeira relação, o que é relação ensino/aprendizagem sem "fantasias de natal", como lhes chamo. Em nome de algum pudor, olhe-se para os protagonistas deste "enredo" sem a desconfiança e o desprezo que o próprio sistema já plantou no senso comum: "é professor!" Não trabalha e é incompetente!
Fora com esse estigma!
Até à reforma final!:)