Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Rasgo de Inefável
Queria ter chegado nos momentos para te escutar Era tarde, talvez... Algo voou de mim ao encontro veloz instante que o corpo não pode alcançar liberta-se e vai contigo Fica um espaço estranho de ausência
Corrijo Hölderlin. Não é poética, mas estranhamente, que o homem habita a terra. A estranheza, não só em relação a si e a estar-se no mundo, mas a haver realidade, é a condição de toda a grande poesia, filosofia e arte. A condição de tudo, até da grande política.
O mundo está sempre a começar e a acabar. A estranheza passa por aí.Mas este poema é mesmo da Maurícia, tem uma profundidade que só ela conhece assim e que não sei definir. Continua a escrever muito bem, melhor, continua a escrever poesia.
Isabel, creio que nem toda a poesia suporta, respeita e transparece a profunda estranheza. Muitas vezes, tal como de forma mais evidente a filosofia e a ciência, é um esconjuro, um exorcismo, dessa radical estranheza em que somos. Os poetas falam demasiado, precipitando-se a dar sentido às coisas que o não têm nem são. Também é sua aquela violentação do espanto que Maria Zambrano atribui à filosofia.
Ao dizer isto, todavia, não proponho o mero silêncio. Busco outra coisa.
Creio que Maria Zambrano tendo feito o seu próprio caminho encontrou um "andar errante, só perdido nos infernos da luz",entre uma "penumbra tocada de alegria". É, de qualquer modo, a razão poética, o pensar contemplativo que se estranha e entranha e não se deixa definir. Isso é poesia.
Neste poema belo e intenso, de uma melancólica alegria,uma tristeza clara, encontramos ecos deste modo poético: o que estranha a ausência e se atrasa, por assim dizer, na palavra, sugerindo-a bleamente.
também não disse toda a poesia. Disse em Holderlin. Mas depois do que li da resposta também me lembrei dos pooemas que escreveu sem outro fito ( de que não sei se estaria consciente, penso que não)que não o de dizer de modo já quase ininteligível e pensei..."será isto que o Paulo chama, como Zambrano, de violentação do espanto?" ou é isto a estranheza de ser aqui, passar por aqui?
E, poderão os poetas a via entre o sentido e o silêncio? Penso que sim. E esses poetas e escritores existem e sentimos a sua diferença porque ao lê-los somos arrastados para a estranheza que (e parece paradoxal, mas é mesmo assim) nos é mais familiar, sem que tal sentimento se desfaça em pó de luz sobre o dito.
É nesse estranho espaço de ausência que tudo acontece... nós e o mundo, nós-mundo.
ResponderEliminarCorrijo Hölderlin. Não é poética, mas estranhamente, que o homem habita a terra. A estranheza, não só em relação a si e a estar-se no mundo, mas a haver realidade, é a condição de toda a grande poesia, filosofia e arte. A condição de tudo, até da grande política.
ResponderEliminarEstranhar ser homem, estranhar ser, estranhar.
Se assim a tudo e a nós estranhássemos, o mundo acabava...
ResponderEliminarObrigado, Paulo. Que voo mais alto se levanta, És tu claraMente
ResponderEliminarO mundo acabava ou começava?
ResponderEliminarPaulo,
ResponderEliminarmas poeticamente não é em Holderlin, habitar de forma estranha o mundo? O poético não é o mais estranho dos modos?
Um rasgo de inefável sorriso para a Maurícia, irmã que me recebeu na Páscoa do pensamento.
O mundo está sempre a começar e a acabar. A estranheza passa por aí.Mas este poema é mesmo da Maurícia, tem uma profundidade que só ela conhece assim e que não sei definir. Continua a escrever muito bem, melhor, continua a escrever poesia.
ResponderEliminarIsabel, creio que nem toda a poesia suporta, respeita e transparece a profunda estranheza. Muitas vezes, tal como de forma mais evidente a filosofia e a ciência, é um esconjuro, um exorcismo, dessa radical estranheza em que somos. Os poetas falam demasiado, precipitando-se a dar sentido às coisas que o não têm nem são. Também é sua aquela violentação do espanto que Maria Zambrano atribui à filosofia.
ResponderEliminarAo dizer isto, todavia, não proponho o mero silêncio. Busco outra coisa.
Creio que Maria Zambrano tendo feito o seu próprio caminho encontrou um "andar errante, só perdido nos infernos da luz",entre uma "penumbra tocada de alegria".
ResponderEliminarÉ, de qualquer modo, a razão poética, o pensar contemplativo que se estranha e entranha e não se deixa definir. Isso é poesia.
Neste poema belo e intenso, de uma melancólica alegria,uma tristeza clara, encontramos ecos deste modo poético: o que estranha a ausência e se atrasa, por assim dizer, na palavra, sugerindo-a bleamente.
Gostei muito do poema.
"plenamente", é isso, não o que lá escrevi. Desculpem.
ResponderEliminarPaulo,
ResponderEliminartambém não disse toda a poesia. Disse em Holderlin. Mas depois do que li da resposta também me lembrei dos pooemas que escreveu sem outro fito ( de que não sei se estaria consciente, penso que não)que não o de dizer de modo já quase ininteligível e pensei..."será isto que o Paulo chama, como Zambrano, de violentação do espanto?" ou é isto a estranheza de ser aqui, passar por aqui?
E, poderão os poetas a via entre o sentido e o silêncio? Penso que sim. E esses poetas e escritores existem e sentimos a sua diferença porque ao lê-los somos arrastados para a estranheza que (e parece paradoxal, mas é mesmo assim) nos é mais familiar, sem que tal sentimento se desfaça em pó de luz sobre o dito.
Um sorriso
saudades futuro, vaí dar banho ao cão
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