Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
quarta-feira, 18 de março de 2009
O Sal das Lágrimas
O sal das lágrimas veio do mar há eras atrás, quando eu era um peixe. Trouxe o sal comigo, pois quando rastejei pela areia com pequenas patinhas quase inúteis, não consegui abandonar totalmente o grande azul e trouxe a água e o sal dentro de mim. Já sentia a pele a secar, quase a arder e as escamas a caírem, uma a uma, deixando em mim um rasto de sangue e já tinha tanta, tanta saudade, que ainda hoje me pergunto porque deixei aquela luz azul. Cá fora, antes que eu desse dez passos, milhares de minúsculas criaturas entraram por todos os meus orifícios e mataram-me ali, quase imediatamente. Desovei antes de morrer numa cova na areia e os meus filhos, assim que nasceram, levaram com eles as patas, já tecnologicamente avançadas, a água e o sal. Lembro-me disto agora porque estou longe do mar, morri muitas vezes, mas ainda aqui estou e sempre que choro, lembro-me dele, do mar, tudo por causa do sal que ainda existe nas lágrimas.
(tinha-te escrito um comentário q se perdeu pk caiu a rede)
ResponderEliminaradorei este teu pensamento sobre a essência da vida, o renascimento, a purificação e congregação de elementos em nós que nos subssitem na nossa especificidade ontológica.
o sal das lágrimas é vestígio de mar em nós...fragmento de dor, amor, saudade e contemplação...é marca do passado que rola em impressão presente e que agora nos transmitiste com clareza e toque de poesia.
(qto ao "grocar" referido no post anterior, nem imaginas, estive no domingo à procura desse livro para o emprestar e não o encontrar mas até era interressante, creio eu, referir um excerto q tenha a ver com o conceito de "namast~e", por ex. não achas)
bj e grata por esta leitura
(acho q a minha amiga Sereia vai adorar as tuas palavras)
Madalena...tu és a SaudadesdoFuturo...
ResponderEliminar"Tu és Deus", Mike repetiu serenamente. "Aquele que groca. Anne é Deus. Eu sou Deus. As ervas felizes são Deus. Jill groca em beleza, sempre. Jill é Deus. Todos dando forma e fazendo e criando juntos."
ResponderEliminarFoi o melhor que arranjei... o livro foi-me emprestado, há muitos anos, por uma grande amiga. E devolvo sempre os livros que me emprestam. Mas nunca o esqueci. Groquei-o!
:D
Não sou. Saudadesdofuturo só há uma. Mas também tenho saudades do futuro, como já aqui disse antes.
ResponderEliminarAbraço à fragMenTUS e à saudadesdofuturo, também!
Obrigada, Madalena! :)Que bom ter relido esse excerto...Eu li-o com 13 anos numas férias de Páscoa, em Peniche."Devorei-o"! ;)
ResponderEliminarA ideia da partilha da água tb é mt interessante...e infelizmente actual para a questão ambiental actual!
bj
no painel de controle do blog aparece lá no blog já extinto da Saudades a 1ª frase desta tua reflexão...daí ter pensado que...mas não importa! (eu às vezes sou um bocadinho sherlock holmes, só isso rs)
ResponderEliminarSou leitora do blog da saudades e a saudades às vezes também visita o meu. eu sei, vi hoje no meu reader, por isso me lembrei de colocar aqui o texto completo. Aliás, queria pôr no blog da saudades, como forma de agradecimento, mas encontrei-o fechado.
ResponderEliminarO sal das lágrimas também vem com este texto. Suave como um certo passado pode ser. Em si há divino à flor de quase tudo, Madalena!
ResponderEliminarE uma saudação à senhora sherlock holmes...ela anda sempre a tentar apanhar-nos...um sorriso.
hehe...não estou nada...
ResponderEliminaroutro sorriso
estou em choque é com a morte do músico Jjoão Aguardela, descobri-o há menos de uma hora...
boa noite!
Madalena,
ResponderEliminaresta partilha é bonita demais!
Se há entendimento que, de alguma forma, podemos chamar destas leituras que não são escritas por nós mesmos... se há esse entendimento ou esse reconhecimento do que outrem escreve e partilha por palavras... se isso existe, para lá do conhecimeto, para lá da causa e do efeito...
eu acho que posso dizer que entendo. Não querendo tornar vulgar sentimentos tão únicos de cada um que os partilha, não querendo perfilhar sequer o que não pode nunca pertencer-me ou designar-me... se me permite a ousadia, esta Sereia* que lhe escreve neste momento agradece a leitura com o coração.
(a Amiga Fragmentus não se enganou :) adorei, mesmo)
Minha cara Madalena,
ResponderEliminarQuando li aqui o seu post,estive para deixar uma das falas da ópera, que nunca chegou a ser publicada no Saudades, no seu blog...
A "cena" estava escrita antes de ter optado pela escolha da inscrição... Acontece-me com frequência... É um pouco extensa para comentários, mas mesmo assim aqui a deixo, agradecendo ter sido leitora do Saudades.
Aproveito a ocasião para agradecer a todos os "serpentinos" que passeavam no "jardim" de Saudades e eram muito bem vindos: Em especial ao Vergílio, à Isabel,à Luíza, ao Lozzano, ao Lapdrey, a Donis, à Anita, à Sereia, a Fragmentus, a Soantes... e à "pelaVozdaPoesia" que não sei o que seja, mas que fez das pobres palavras uma "coisa" maravilhosa. Infinitamente grata. Enfim, agradeço a todos a vossa Amizade, retribuo com o mesmo Amor:
Lamento do Rei - Agora cantarei a tua morte em silêncio, para mais fundo chorá-la, quando em outros jardins, as pétalas de sal penderem sobre o interminável rio das lágrimas. De sal é a tua imagem, para que não seque o mar nem gele a flor de lagos tão profundos. Hei-de fazer da concha da tua imagem o vaso por onde Gilgamesh bebe a dor da perda, a rosa nos lábios da serpente, a rara flor da imortalidade, esse Graal. Ele era o pastor de sua inocência, e entre as pedras e os frutos silvestres tinha a sua morada; ele era o puro instinto e a alegria dos montes; ele era a paisagem da sua primeira face. Provado o fruto e de bom sabor, Enkidu, inocente Adão, se preparava já para chorar o que tinha perdido. Entraram triunfantes na cidade, e como dois guerreiros combateram das forças que podiam, e juntaram suas forças e venceram os dragões pela força de uma ideia heróica e fundadora. Quem ousara atravessar a floresta dos cedros e profanar seu chão? Parte na sua barca a barca de muito ser e uma lágrima maior formada rio e espelho parte, como barca de transparente cristal em busca do que eterno há na vida e na morte, insaciável fonte que não seca e se busca no que é em seu cantar e em sua flecha se desenha em sangue. Rosa em flor. Deusa dos lagos, arqueira do silêncio. Noiva de mim.
Quatro anjos vos acenam: um para cada direcção do vento, outros quatro para as torres mais sombrias do jardim.
Grande, bela e desperta Primavera para todos.
Um abraço
Saudades, da minha parte nada a agradecer pois se me tornei sua seguidora foi por perceber da qualidade dos seus escritos.
ResponderEliminarOxalá nos dê o prazer de a lermos em outro blog :)
bj de Primavera
Cara Fragmentus,
ResponderEliminarMesmo não tendo que agradecer, agradeço. A tradição ocidental deveria aprender com a oriental a humildade - Como sabe melhor do que eu -. Em oração e recolhimento deveriamos agradecer, não pedir; contemplar, não criar; calar,o que não pode ser dito, não criar novas ilusões de ser, novas luzes em outros jardins...
Os poetas também inexistem em algum não lugar da saudade. No ermo de si escutam.
Um toque leve na extinta(?) asa e um fragmento do cosmos nos cante uma "ópera cega" em asa de pomba, no sorriso triste de Saudades.
Querida Isabel,
ResponderEliminarMuito obrigada pelas suas palavras.
Querida Sereia,
Fiquei contente por ter gostado. Acredito que entenda, pois quem entende com o coração, entende sempre tudo o que é preciso.
Querida Saudades,
Obrigada por ter deixado aqui o seu Lamento do Rei, tão triste. Como a frAgMenTUS também espero poder voltar a ler os seus escritos, um dia, breve.
"no sorriso triste de Saudades"...por quê? porque não alegre? ou sereno?
ResponderEliminarum sorriso de estima para si