Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
"Quando fores velha" - Yeats (a uma amiga de alma grisalha e alegre encanto)
Quando fores velha
Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas;
Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto que mudava;
Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.
William Butler Yeats (1865-1939)
(Tradução de José Agostinho Baptista)
(Em aceno a uma Amiga, que o sabe, sabe o “alegre encanto” destes versos e sabe ser "grisalha" antes mesmo de sê-lo, aqui deixo este amado Yeats, “escondendo o rosto numa imensidão de estrelas”.
Sempre presente, na lareira do ser...)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro Lapdrey, fiquei primeiramente maravilhada com a imagem e vai desculpar-me, mas vou gravá-la para mim. :)
ResponderEliminarQuanto ao poema, é sublime pela profundidade,e doçura, que dele emanam...Tocou-me especialmente este excerto: "Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,E amou as mágoas do teu rosto que mudava;
Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas."
Não tenho a sua eloquência para o comentar nem vou procurar citações de outros autores para o fazer. É que quando contemplo algo assim, interiorizo-o, em agradecimento, de existência e inspiração.
Obrigada por esta partilha.
Um bem-haja!
Namastê
O vento torna grisalho o cabelo de quem não tem o tempo a esbranqiçá-lo. Torna-o branco a memória. Esse leito de leite de que a alma da Infância sempre saudosa se embebe.
ResponderEliminarUma alma peregrina, Lapdrey, é uma alma vagando nas encostas e nos cumes das montanhas, dançando com as estrelas as melodias do mundo antes da Palavra. Só assim pode uma alma tentar reconhecer, nas paisagens de silêncio e alvura, nas manhãs do não-mundo, o rosto amado e o rosto de Deus. Expressão pura que rasga no coração as visões do Belo.
Não preciso dizer mais para saber quem agradece e muito em tudo o reconhece. Porque também muito gosto do António Machado.
Cara Fragmentus,
ResponderEliminarAs suas palavras são, em si mesmas, o melhor comentário que Yeats pode ter: ser ele amado em "lê-lo devagar", junto à lareira do ser, com "o doce olhar" fixado ali mesmo onde as palavras sublimes do grande poeta a levaram, cara amiga: ao interior de si, "em agradecimento, de existência e inspiração"...
Abraço reverente, na comunhão de tais coisas.
Caminhamos porventura para uma mais plenamente verdadeira infância, cara amiga grisalha, sempre que essa anamnese do eterno sem tempo, no tempo em nós, branqueia o olhar com que nos olham os olhos com que olhamos o que não pode ser visto.
ResponderEliminarE, porém, isso que não pode ser visto é tão ou mais branco que o leite, e é repouso mais doce que o mais repousante dos leitos.
Tal silêncio e brancura só pode vir de quem o sabe, ... e de quem sei... Aceno.
(Rilke, hoje, sorri em seu "sono de ninguém sob tantas pálpebras"...)
Obrigada pelo poema! Mas a expressão amiga de alma, tocou-me!
ResponderEliminarUm dia perguntaram-me:
- Ele é mesmo um amigo do peito?
Eu respondi:
- Não, é um amigo de alma!
Pois são estes que permanecem em nós, em cujas rugas, pensamentos e sangue habitaremos sempre. Aqueles que, desgraçada ou felizmente, pensaremos nós que somos os únicos a amá-los.
Ilusões pueris, apenas.
Retomo a observação já aqui atrás por alguém feita, sobre a não identificação das imagens, como se fossem mero adorno das palavras...
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