Os teus olhos, rasto de luz dos meus passos;
a tua testa, lavrada pelo brilho dos punhais;
as tuas sobrancelhas, orla do caminho da tragédia;
as tuas pestanas, mensageiros de longas cartas;
os teus cabelos, corvos, corvos, corvos;
as tuas faces, campo de armas da madrugada;
os teus lábios, hóspedes tardios;
os teus ombros, estátua do esquecimento;
os teus seios, amigos das minhas serpentes;
os teus braços, álamos à porta do castelo;
as tuas mãos, tábuas de juras mortas;
as tuas ancas, pão e esperança;
o teu sexo, lei do fogo na floresta;
as tuas coxas, asas no abismo;
os teus joelhos, máscaras da tua altivez;
os teus pés, campo de batalha dos pensamentos;
as tuas solas, criptas em chamas;
as tuas pegadas, olho da nossa despedida.
- Paul Celan (1920-1970), A Morte é uma Flor (Poemas do espólio), tradução, posfácio e notas de João Barrento, Lisboa, Cotovia, 1998, p.19.
Queixinha:já havia postado este poema neste blog!
ResponderEliminarOutra coisa:não faz mal nenhum tê-lo colocado de novo, pois é belíssimo, íssimo, íssimo.
...de uma Sombra, Casto Severo...
ResponderEliminarAmei o poema. "A Morte é uma Flor"
Uma flor sem tempo...
Já disse que adorei o poema?
Saudades
Desculpinha...
ResponderEliminarPara isto ser real, só tirando tudo o que vem depois das vírgulas. Os poetas só sonham mulheres que não existem. Mal das que os escutam.
ResponderEliminarA realidade existe fora da sua percepção!? Não me digas que és traumatizada ou discípula das banalidades do Caeiro...
ResponderEliminarPorque é que eu tenho um rosto?
ResponderEliminarNão diria que os poetas sonham mulheres que não existem. Diria é que os poetas expressam muito bem a paixão. Quando há paixão, é assim que se vê/sente o outro.
ResponderEliminarHá tantas vidas que te busco no mundo! E tu aqui sempre, a morrer abraçada a mim!
ResponderEliminarBanalidades do Caeiro?! Vê-se logo que és tudo menos portuguesa! Deves ser discípula das banalidades de um outro qualquer...
ResponderEliminarNão se é portuguesa!? Agora o nacionalismo chegou a este blog? E sim, o Caeiro é uma seca: é bom para as mentes rasas.
ResponderEliminarAnónimo, acho que tens um rosto, porque deves precisar dele. Talvez não aqui, mas noutro lado qualquer.
ResponderEliminarSe se referem a Alberto Caeiro, banal não. Simples não é banal. Simples é bom para as mentes rasas, mas também para as outras. Diria mesmo que melhor ainda para as outras...