terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Sophia de Mello Breyner e Eugénio de Andrade

Hoje deixo aqui dois poemas. Um de Sophia de Mello Breyner, em resposta a Morrer de Luz e outro de Eugénio de Andrade, sobre As Palavras, por ocasião do aniversário do seu nascimento. E aproveito para desejar um bom dia a todos, cheio de claridade...

Não se perdeu nenhuma coisa em mim.
Continuam as noites e os poentes
Que escorreram na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade.

[Sophia de Mello Breyner]

As Palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

[Eugénio de Andrade]

3 comentários:

  1. Grato pelos belos poemas, Madalena. Quanto ao "caminho para a única unidade", creio que o há e não há, conforme a perspectiva. Prefiro a de que o não há, pois é a que me faz nele mais rapidamente avançar.

    Saudações

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  2. Percebo que o "caminho para a única unidade", por se inscrever ainda talvez nos limites duma conceptualização, exiga ser ultrapassado, mas como é que o não caminho para a unidade é o que lhe permite avançar mais rapidamente?
    Todo o caminho não é o caminho do Ser?

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  3. Maria da Aurora, eu não sei o que é o Ser, nem estou interessado em sabê-lo. Na verdade, cada vez simpatizo menos com essa palavra ou com o seu contrário, se me permite expressar os meus desgostos. Pura e simplesmente, para mim são meros conceitos, tanto mais desprezíveis quanto mais prezados.

    Quanto à segunda questão, diria que, abdicando do conceito de haver caminhante, caminho e objectivo, já se está onde mais importa. Onde? Na ausência de tais conceitos, no fim da ignorância e da ilusão, no in-finito.

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