quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

"De amigo"

E olla meu amigo.
Agora
perante nós
o nada xurde derradeiro
coma toda orixe.

Olla no valeiro do ver.

Aonde, dime, agora, ou en cal peito
baixaría a mañán
para alumear os páxaros
que endexamáis voaron
das miñas maus ao dia.

Imaxe de ninguén
em tódollos espellos.

A ponla do mencer
esmoreceu na noite
e ti no irse
meu eu de min.
O nada.

E olla meu amigo.

- José Angél Valente [Orense, 25.4.1929-Genebra, 18.7.2000], Cántigas de alén, in El Fulgor, Antología poética (1953-2000), Barcelona, Galaxia Gutenberg/Círculo de Lectores, 2001, p.342.

5 comentários:

  1. Reverberou-me em ecos de ermos, caro Paulo, a indistância que a cada "olla meu amigo" enuncia, em espanto e enigma, a "maxe de ninguén em tódollos espellos"...

    Abraço
    "derradeiro coma toda orixe"

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  2. Sabem o que quer dizer "valeiro"? Vazio.

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  3. Isto é a língua dos hereges priscilianistas?

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  4. Isso a que a Maria da (Maculada?) Conceição se refere, a ser alguma coisa (o que é muito de duvidar)- é linguagem, não língua.

    Língua é órgão da fala ou organon do comunicar.

    Numa e noutra coisa, Roma e lá o seu Vaticano (de péssinmos vatícios) infelizmente tem dado e continua a dar exemplos de como nunca se fazer as coisas.

    Prisciliano, fosse lá o que fosse, hoje talvez estivesse a desmascarar cúrias, e algumas incúrias também: lembra-se do Banco Ambrosiano, minha amiga, lembra?

    Lembra como isso - que é mil vezes pior do que qualquer coisa que a minha amiga imagina que seja o que há quem imagine que seja o priscilianismo - lembra como isso levou a um conjunto de iniquidades, corrupções e assassinatos, incluído o dum papa, João Paulo I? Pois deve lembrar...

    É melhor então ficar um pouco mais caladinha, por causa de certos telhadinhos de vidro, não lhe parece?

    Assim faz uma menos má figura, e caem-lhe na cabeça menos ácaros de sotainas que já não há...

    Agora todos se vestem (com blazers Armani?) como o Cardeal Marcinkus, de péssima memória. Porque será?
    Humm.... espero não estar certo ....

    (Vou já a correr confessar-me: por ... bons pensamentos!)

    P.S.
    Pronto!
    Obrigado, minha amiga! Sempre me fez desentupir a bílis, antes de jantar.

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  5. "o nada xurde derradeiro como toda orixe". Este é o eco que me cala fundo..."meu eu de min./O nada.

    Muito belo poema. Muito conforme ao que me sinto hoje.

    "Onde, diz-me, agora, ou em qual peito/baixaria a manhã"... E todos, todos os versos são o mesmo
    "xurdir" (gosto da palavra) do nada.

    Obrigada, Paulo, este soube-me mesmo bem.

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