quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

cumprir


Alguns têm na vida um grande sonho e falham a esse sonho.

Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também.


Bernardo Soares, Livro do Desassossego.



Foto de Carlos Rema.

3 comentários:

  1. Ocorre-me aqui aquele poema de António de Navarro, outro poeta tão esquecido injustamente.
    Trata-se do poema XXVIII do conjunto titulado "Sortilégio Iluminado", uma das duas partes por se divide o livro "Guitarras em Madeira d'Asa", Editora Pax, Braga, 1974, pág. 59):

    (Vai dedicado a José Marinho)

    Algo se fez visão e sonho
    Onde se encontre e seja...
    Se bebemos d'uma água oculta
    Logo nos desprendemos.

    Sabe-se que há um crepúsculo
    Passeando pelo sinuoso
    Vértice inumerável e múltiplo.
    Espera-se o músculo
    Dos relâmpagos para o destino das coisas
    E da sua cinza
    Consagrante do silêncio imenso
    Que se desvenda e infinda.
    (Quem se sonha e realiza
    Salvou-se ao menos n'essa aventura!)



    Linguagem deveras sem tempo...
    Recito para mim mesmo e re-cito-vos:

    (Quem se sonha e realiza
    Salvou-se ao menos n'essa aventura!)


    Grato, Maísha, pela "talhadinha" de Bernardo Soares, ao pequeno almoço, e também pela foto, o seu quê onírica, de Carlos Rema.

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  2. outros há que o seu único sonho é poderem vir um dia a ter sonhos.

    obrigado, Maisha

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  3. Esses são talvez os do "Portugal dos Pequeninos", caro Platero.

    Não confundamos aquilo de que Bernardo Soares aqui fala:
    ele fala do fracasso do sonho, não do sonho em si mesmo;
    fala do viver sem um único sonho, e ainda assim fracassar.

    Não estamos a falar também, embora sempre eles estejam presentes (mais do que todos nós, porventura - no seu silêncio de inocentes), de todos aqueles que nem sequer uma realidade têm, quanto mais sonhos para, a partir dela, os poderem ter.

    Esses são, muito provavelmente, os nossos verdadeiros "juízes" de consciência e não só.

    (Mas entendi bem, meu amigo, aquilo que queria dizer.)

    "Sonhar é preciso!"

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