Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Será Deus um DJ...?
Se “ser” Deus (será que Deus “é”?) fosse uma espécie de pilotagem meta-holónica de tudo, em toda a parte, de todas maneiras, por todas razões, para todos os fins, por Si, para Si, através da nossa liberdade, no nosso acerto ou na nossa errância, se ser Deus fosse isso, talvez nós um dia chegássemos a sê-lo, quando, por todos os modos e meios de desenvolvimento da ciência e da técnica, do saber e da sabedoria, fosse atingido o extremo vórtice de intersecção entre o desenvolvimento pessoal, a interagência colectiva e a expansão cósmica.
O problema - nosso, não de Deus - é que, se porventura há Deus (coisa que, obviamente, a razão jamais logrará provar conclusiva e inegavelmente: um Deus provável seria claramente um “flop” inenarrável de Si mesmo e uma infinita “desilusão” para quem d’Ele “careça”), Deus é infinitamente mais e menos do que sequer supomos: mais, porque está inapreensivelmente para além de todo o limite ou limitação; menos, porque Ele é incompreensivelmente mais simples do que a imparável des-simplificação em que estamos, pela qual tendemos (tendemos, apenas) a aproximarmo-nos d’Ele, ou de sermos como Ele.
É como se o que em nós apenas cresce para Ele “aritmeticamente”, n’Ele se nos furtasse “geometricamente”. Vão propósito, inglória vaidade …
Afinal, talvez o divino Platão tenha mais uma razão para afirmar que (o) Deus geometriza.
Se o faz como um DJ, confesso que não sei …
Caro Lapdrey, será que Deus o é para si? Será que, a haver Deus, há Deus em Deus?
ResponderEliminarSerá o mundo uma discoteca? Ou um manicómio? Nascer não é ser-se metido numa camisa de forças?
ResponderEliminarCaro amigo Interrogativo, eis questões que Deus, a haver, se não põe...
ResponderEliminarNós, sim, especulamaos (i.e., espelhamos), se e quando especulamos; Deus, não.
Só especula quem pro-cura, busca ou carece de saber ou conhecer (a) verdade(s).
Deus, a haver, está "fora" desse "jogo", e mais ainda desse "labirinto", porventura porque Ele é, a um tempo, jogador, jogo, peças de jogo e, paradoxalmente, ao mesmo "tempo" também, o absoluto contrário disso e, ainda, nada disso...
Quanto à sua segunda questão, permita-me a (impertinente?) pergunta: "No interrogativo, há interrogativo?"
Isto, é claro, partindo do pressuposto muito optimista e algo "ilusionista" de que o haja, ou seja, de que haja em quem interroga verdadeiramente um "verdadeiro" interrogativo...
Se no mundo há discotecas, o mundo é, caro Gabriel, nalguma parte e em alguma parte de si, discoteca. O mesmo se diga em relação ao manicómio.
Quanto a "camisa de forças", isso é um verdadeiro achado, meu amigo.
Tal como se nasce hoje, quase industrialmente, por essas maternidades fora, indesmentível se torna reconhecer que nascer é, muito aproximadamente, um repentino e violento vestir duma camisa de forças vital, que atira o pobre nascituro para um meio todo ele agressivo, para quem passou presumivelmente nove meses de tempo terrestre em ambiente "climatizado" e "seleccionado".
Assim não sendo, como assim não vai sendo, é cada vez mais provável que, já desde esse tempo no ventre materno, a criança seja torpedeada com música de discoteca das sextas, de novela das nove, da VH1 dos antigos hit parade, ou das últimas da MTV.
Manicómio, pois claro!
Este nosso mundo bem podia ser situado, "geofanicamente", entre uma máxima de François de La Rochefoucauld ("Quem vive sem loucura não é tão sensato como supõe" )e uma passagem dos entediados ensaios de Michel de Montaigne ("A mais subtil loucura é feita da mais subtil sensatez").
Estamos falados.
Obrigado pela sua profunda resposta, mas, com o devido respeito, eu estava a colocar uma questão mais funda: nascer não é ser-se metido, ou, talvez melhor, meter-se, na camisa de forças do corpo e da existência?
ResponderEliminarInterrogativo só o interrogar
ResponderEliminarque no interrogar-se se desfaz:
de si e tudo se deserta,
livre e mudo queda em paz.
Com igual respeito, caro Gabriel, tenho para mim que a questão mais funda ou profunda que este vídeo porventura suscita seja, não o de saber nascer (que, a todos quantos nascem ou nasçam, põe nos meios mais eventualmente parcos de quem os procria e nas mãos obstetras de quem, mais “tecnicamente” insensível, os arranca ao intra-útero) – nasce-se como se nos permite, portanto… -, mas o viver e o saber viver, para morrer e saber morrer, isto é, para culminarmos a vida sabiamente, e assim fazê-la perdurar duma forma ou doutra, conforme tenha a vida valido para si mesmo e para os demais, ou segundo se tenha melhor validado o conferir de sentidos outros para lá do ciclo do nascer e morrer.
ResponderEliminarÉ já lugar-comum dizer-se que a vida confere sentido à morte, mas talvez não o seja tanto concluir que a morte é o horizonte em que se deve ter o olhar para viver a vida com um propósito: a cada um, o des-cobrir qual ele seja…
A todos, o respeitar e honrar o nascer, o viver e o morrer de todos os outros…
N.B. Num post posterior, darei conta de uma outra forma de nascer…
Até lá, Gabriel, gratíssimo pela partilha do aprendermos a ser.
Dizer que só o interrogativo é interrogante é o mesmo que dizer que a água é molhada, meu caro Interrogativo. Não lhe parece?
ResponderEliminarÓbvio que, a cada interrogação, as respostas por si mesmas suscitam novas interrogações: o novelo desfaz-se no próprio fazer-se, e refaz-se no mesmo des-fazer.
Concordo em que radical interrogação ou questionamento “de si e de tudo (nos) deserta” do espúrio e do supérfluo, mas não tenho a completa certeza (ou antes, quero ter a certeza de que não tenho tal certeza) de que isso confira uma paz que não seja a maior batalha em que o homem possa ser chamado a comparecer: a de vencer-se a si mesmo.
Aqui me ocorrem então as altas, sábias, mas cortantes palavras de Nietzsche, pela boca de Zaratustra: “Amo aqueles que apenas são capazes de viver na condição de perecer, porque perecendo se superam”.
Não disse que havia interrogante, mas sim interrogar que no interrogar-se se desfaz...
ResponderEliminarVencer-se e superar-se a si mesmo é o programa dos ascetas que na ascese se prendem... a si mesmos... ao si mesmo...
Livre disso tudo e de ser livre fica a Paz.
Companheiro interrogativo, ou interrogante (atente, peço-lhe, em que há subtil diferença entre um e outro, um mais intransitivo que o outro), veja se se decide, peço-lhe!
ResponderEliminarOu “de si e (de) tudo se deserta”, e assim pode ficar (se lograr ficar, é evidente, o que asceta sabe não ser de fácil empreender) “mudo e quedo”; ou então interroga-se, o que (verdadice de Monsieur de La Palisse) pressupõe um interrogante.
Interroga ou não interroga, o interrogante? Se, sim, sim, e tudo fica perfeitamente leibnizino, e no melhor dos mundos.
Se não, parece-me haver por aqui um nome de blogger que, voluntária ou involuntariamente, leva ao engano quem lê e põe nisso o pensamento.
Até um budista o reconhece: ou o interrogativo deixa de interrogar, e tem assim melhores (que não certas e seguras) probabilidades de libertar-se das cadeias do samsara, ou então, não.
Vencer-se e superar-se é coisa de atleta, sim (qual o diz São Paulo, que o refere sobretudo ao morrer-se para si próprio e nascer-se para o Cristo, e permitir que este seja o que é vivo e propriamente a Vida em si, e não precisamente o Si).
Parece-me, entretanto, coisa não muito de aconselhar seguir um programa que se diz ser para “vencer-se e superar-se a si mesmo” e, logo na frase seguinte, falar-se em "prender-se" na ascese.
Então, meu caro? Em que ficamos, de novo? O que nos vence e nos supera, prende-nos? Ainda que tal não haja sido (presumo sem dificuldade) a sua intenção, há que melhor guardar o que se diz, para se não ser desnecessariamente desentendido, e não se desentender outrem consigo mesmo...
Está, entretanto, parece-me, correcta a conclusão, se bem que não a via que a ela conduza.
“Vencer-se e superar-se a si mesmo”, sim, contanto que não seja ao modo hercúleo - que dá demasiado, talvez desnecessário e encurtável trabalho (ao laborioso Hércules deu alguns doze, recorda?) - nem à maneira prometaica, que não tem (afigura-se-me) assegurado sucesso.
Grato, na mesma.
Pelo Mesmo...
Caro companheiro, abrindo o jogo, interrogar-se não pressupõe nenhum interrogante, tal como manifestar-nos aqui, um para o outro e para quem nos lê, não pressupõe sermos absoluta e substancialmente reais: fenómenos não são entidades existentes em si e por si.
ResponderEliminarQuanto ao exercício atlético, ou seja, ascético, que defende, pode ser um momento fundamental para alguns ou muitos, mas não para todos. Em última instância, se não desde o início, deve ser abandonado: precisamente porque o que nos vence e supera nos prende, sim, à infundamentada porque apenas pressuposta ideia de haver algo ou alguém a vencer e superar.
A liberdade é livre da libertação e de ser livre. Falo-lhe, mudo, a partir disso, que é sem ser e sem nome.
Meu caro (pelos vistos) interrogativo in-interrogativo no (não) questionar, se eu quisesse seguir na mesma frequência em que estamos indo, responder-lhe-ia como segue, em libérrima paráfrase:
ResponderEliminarCaro companheiro, fechando o jogo (chegámos a abri-lo?), interrogar-se pressupõe interrogante, tal como manifestarmo-nos aqui, um para o outro (quem são esses, um e outro?) e para quem nos lê (alguém nos lerá: e isso interessará?), pressupõe sermos absoluta e substancialmente “reais” (ainda que velados por alguma diversa - para cada um de nós -película de ilusão).
Fenómenos (não) são entidades existentes em si e por si (o que e quem é o Si aqui?), mas são por certo entes que assomam fenomenicamente a sua inexistência mais funda e profundamente imanifestável.
Quanto ao exercício atlético, ou seja, ascético, que eu não defendo (limitei-me a ilustrar com São Paulo, algo dito por si), pode ser fundamental para alguns ou para muitos, mas não para todos.
Em última instância, se não desde o início, não direi que deve (não sejamos “dogmatistas”), mas pode ser abandonado: precisamente porque o que nos vence e supera, nos liberta, sim, da infundamentada, porque apenas pressuposta (ou não), ideia de haver “algo” ou “alguém” (falei eu, por acaso, em vencer alguém, ou apenas em vencer-me?) a vencer e superar. (Não tresleiamos, meu caro, por favor)
A liberdade é (nem sequer) livre. “É”, tão-só, o não haver questão de ser livre ou não ser. A liberdade é livre, não da libertação (que lhe é anterior, em cada momento em que nos vamos “da lei da morte libertando”), mas do libertarmo-nos na libertação e de ser dela finalmente livres.
Falo-lhe, não mudo (isso seria hipócrita, e pressuporia que comunicar é alguma coisa além de coisa nenhuma), mas silencioso. Silencioso, desse Silêncio em que Isso nos “fala”, calando-nos e calando em nós.
A partir disso (esta, a coisa de maior acerto que o meu venerável companheiro aqui escreve, mas verdadeiramente não diz), que é sem “ser” e sem “nome”. É o que, pura e simplesmente, não cabe dito…
Voltando, então, ao início:
Como não quero seguir nesta “frequência de onda” (porque esta "frequência de onda" me não quer), que a nada leva que não seja a remetermo-nos a posições de insituáveis nenhures, remeto-me ao mais aconselhável silêncio, que nos é melhor "mestre" que alguma palavra, dita ou calada.
Deixo-lhe (deixo-vos) a cortesia da “última” palavra.
Raridade “bloggista”, ao que é de supor... Vale!
if God is a DJ
ResponderEliminarlife is a dance floor...
Que pena terem interrompido o diálogo-debate!... Espero que se tenham libertado, mas não aspiro a uma libertação que me deixe absolutamente muda ou silenciosa para o quer que seja... Pois não há-de ser a partir do inefável que brotem as mais belas, rigorosas e comunicantes palavras!?...
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