Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
sábado, 4 de outubro de 2008
não espero
apenas acrescento às horas uns bocados de ter visto
uns restos de campanários na aldeia em que vivi a infância possível
tudo se acerta por essa vara cravada no chão
que obriga o sol a sangrar uma sombra
que aponta o agora como o que se entranha nas bocas acesas
de querer
amar é um estuque
e as paredes de estar à escuta
abaulam para fora e parece que a perdição engravidou
e vai dar à luz um navio de bruma
de onde os pássaros poderão cruzar as ânsias
e as expectativas
os pássaros dos dedos
unidos em bando nas mãos esquecidas
nuvens os pés
rochedos no peito são uma praia
o mundo todo
o corpo
de onde se evadiu uma alma secreta
mergulho a respiração é toda a atmosfera a iniciar-se
na lonjura de não ser
que sombreia as razões e os recessos da memória
parto
a vida é uma fome a levedar-se para dentro
há bocados de ter sido espalhados por aí
serão pasto das impossibilidades necrófagas
gostando muito de HH, não podia deixar de gostar deste poema de PF
ResponderEliminarum abraço, Paulo
"tudo se acerta por essa vara cravada no chão
ResponderEliminarque obriga o sol a sangrar uma sombra"
Outra qualquer passagem do seu pensar serviria de desculpa para agraciar o poema mas, esta em especial a sublinho, como forma subtil de dizer Tempo, Espaço, Volume...
Muitas das vezes faltam-nos as palavras certas para "aquela imagem" que a nós diz tudo, dizendo nada ao mesmo tempo. Esta imagem é um exemplo... http://banhosdecinza.blogspot.com/2007/03/so-horas.html. Se assim o desejar, gostaria que fossem as suas palavras, a dar-lhe tudo o que lhe falta, o Volume e o sentido.
Um abraço, subscrevendo na íntegra as palavras do amigo Platero! :)
Parabéns!...Um grande abraço!
ResponderEliminarCorpo e alma.
ResponderEliminar"os pássaros dos dedos
unidos em bando nas mãos esquecidas
nuvens os pés
rochedos no peito"
gosto das metáforas, das imagens, que associam a natureza ao corpo. Gosto e consigo vê-los assim, os dedos, as mãos, os pés, o peito.
"o corpo
de onde se evadiu uma alma secreta"
Esta é a minha frase eleita deste poema, Paulo.
Porque sinto isso diáriamete.
Nem sempre é bom sentir que não estamos em nós,
Ou que, sendo nós, não somos o que vemos, somos outra coisa.
Mas há dias em que corpo e alma se unem. Esses dias de Sol quente e de céu azul onde reconhecemos os dedos, as mãos, os pés e o peito.
:)
Grata estou pela partilha do poema*
Eu também não espero, caro Paulo, mas aguardo a vista plena do campanário que me dobra como aos sinos e suspende nos céus um rebate e afundamento.
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