A Saudade é Origem. A Saudade é o que vem primeiro. Assim sendo, não é verdadeiramente o que se vê nem o que não se vê. Porque, se o que desce à terra se sonha elevado, o que não tem lugar e a todos sustenta é a Saudade do céu que só na terra existe. Por isso, o religioso da saudade não ora a nenhum deus existente, nem é mendigo da terra que não habita. O mesmo é dizer que existe numa forma de reino que não é deste mundo, mas que só nele manifesta as suas possibilidades. E o que faz o tempo? O tempo aproxima, não afasta; o tempo não apaga, o tempo espera e vive. Estamos mais próximos se estamos distantes, não por uma razão de lugar, nem de tempo, mas por uma percepção do lado de dentro da realidade, que não é dentro nem fora, nem se mede em geometrias terrestres. A Saudade é celeste. É a Senhora do Princípio unido ao fim. Ao esbater a realidade para um plano afastado, a mesma saudade cria um espaço de comunhão que vive dessa tensão criativa, dessa visão intemporal. Ora, porque o Homem tem na sua fronte uma estrela comum aos dois mundos, há que caminhar por vias de recriar, integrar e ser, em Saudade, o verbo cheio do vazio que canta. E amar esse Nada, por sabê-lo Origem, princípio e fim de tudo o que, sonhado, é nesse sonho transportado e transformado. O ser procura o Ser e vive a dor de não existir senão na esperança de o recordar.
O drama da Saudade é o drama de toda a existência criadora, a que pensa o criador e vê na terra o traço radioso de uma existência que não é presença nem ausência. Uma profunda e ôntica manifestação da verdade. E a palavra? A palavra poética é a possibilidade de ser sem existir. O mesmo é dizer que cria o Paraíso, não o existente, mas o recordado e o desejado, o vivido, em espírito saudoso.
O drama da Saudade é o drama de toda a existência criadora, a que pensa o criador e vê na terra o traço radioso de uma existência que não é presença nem ausência. Uma profunda e ôntica manifestação da verdade. E a palavra? A palavra poética é a possibilidade de ser sem existir. O mesmo é dizer que cria o Paraíso, não o existente, mas o recordado e o desejado, o vivido, em espírito saudoso.
Grato pelo belo texto, Saudades. Pergunto todavia se a saudade não aspira simultaneamente a matar-se, suprimindo essa mesma distância de que vive.
ResponderEliminarUma boa e difícil pergunta, Paulo.
ResponderEliminarAcho que a saudade, se aspira a anular a distância em e de que vive,é para renascer em saudade, mais além.
A Saudade não se "cansa", pois não procura o querer nem o devir.É-os.A saudade não deseja matar-se nem viver, porque não está viva nem morta. Não há,penso,verdadeira distância entre o espírito saudoso e a realidade.O "esbater da realidade" de que falo, não é um menos, é um mais. Tudo são intermitências...fulgurações do mundo.Resta saber se o mundo existe, ou mesmo se nós existimos...:)
Um abraço