Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Lakes of reflection
"... If it were possible, a glimpse of your eyes or your reflection in the shine of mine, so that finally, the whole of silence had a meaning..."
Num momento a Sombra existe, tem espaço e corpo, traço, medida, música, e tem árvores, seixos, conchas, rosas, livros e rossio, velas, catedrais e terras santas, vales, outono e cachos de uvas e tem-me a mim. Um momento perfeito sem o olhar na perfeição. Paro tudo, então, para perfeitamente abraçar o que logo se dissipa, não do olhar mas da sombra: as rosas tocam flautas, os cachos entornam néctares, as conchas apontam caminhos, as árvores deitam-se ao sol, o outono aquece os vales e os seixos brincam na terra às escondidas, o rossio olha para o relógio e senta-se à espera. Eu acendo uma vela. A música, de silêncio tudo perpassa na Luz que sobe fogo, e desce água torrencial: as rosas flutuam agora numa jangada de livros e almas que entoam rios, encantos e sopros, tudo perfeito, num ondulante templo onde todas as horas e todas as cores se encontram, na transparência e sem reflexos.
Regressa a Sombra, sem me sentir a mim a mesma ou diferente, nem sua. Volto à vida ou voltei a morrer? Voltarei aos contrários, isto é, às essências, enquanto as catálises pela Sombra-Luz forem viagem.
Na rua ouço os passos na pedra da calçada, recônditos, é a hora da Noite, despeço-me da Sombra por breves vénias e abro a janela.
Num momento a Sombra existe, tem espaço e corpo,
ResponderEliminartraço, medida, música,
e tem árvores, seixos, conchas, rosas, livros e rossio,
velas, catedrais e terras santas,
vales, outono e cachos de uvas
e tem-me a mim. Um momento perfeito sem o olhar na perfeição. Paro tudo, então, para perfeitamente abraçar o que logo se dissipa, não do olhar mas da sombra: as rosas tocam flautas, os cachos entornam néctares, as conchas apontam caminhos, as árvores deitam-se ao sol, o outono aquece os vales e os seixos brincam na terra às escondidas, o rossio olha para o relógio e senta-se à espera. Eu acendo uma vela. A música, de silêncio tudo perpassa na Luz que sobe fogo, e desce água torrencial: as rosas flutuam agora numa jangada de livros e almas que entoam rios, encantos e sopros, tudo perfeito, num ondulante templo onde todas as horas e todas as cores se encontram, na transparência e sem reflexos.
Regressa a Sombra,
sem me sentir a mim a mesma ou diferente, nem sua.
Volto à vida ou voltei a morrer? Voltarei aos contrários, isto é, às essências,
enquanto as catálises pela Sombra-Luz forem viagem.
Na rua ouço os passos na pedra da calçada, recônditos,
é a hora da Noite,
despeço-me da Sombra por breves vénias
e abro a janela.