quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Lakes of reflection

"... If it were possible, a glimpse of your eyes or your reflection in the shine of mine, so that finally, the whole of silence had a meaning..."
VT


1 comentário:

  1. Num momento a Sombra existe, tem espaço e corpo,
    traço, medida, música,
    e tem árvores, seixos, conchas, rosas, livros e rossio,
    velas, catedrais e terras santas,
    vales, outono e cachos de uvas
    e tem-me a mim. Um momento perfeito sem o olhar na perfeição. Paro tudo, então, para perfeitamente abraçar o que logo se dissipa, não do olhar mas da sombra: as rosas tocam flautas, os cachos entornam néctares, as conchas apontam caminhos, as árvores deitam-se ao sol, o outono aquece os vales e os seixos brincam na terra às escondidas, o rossio olha para o relógio e senta-se à espera. Eu acendo uma vela. A música, de silêncio tudo perpassa na Luz que sobe fogo, e desce água torrencial: as rosas flutuam agora numa jangada de livros e almas que entoam rios, encantos e sopros, tudo perfeito, num ondulante templo onde todas as horas e todas as cores se encontram, na transparência e sem reflexos.




    Regressa a Sombra,
    sem me sentir a mim a mesma ou diferente, nem sua.
    Volto à vida ou voltei a morrer? Voltarei aos contrários, isto é, às essências,
    enquanto as catálises pela Sombra-Luz forem viagem.


    Na rua ouço os passos na pedra da calçada, recônditos,
    é a hora da Noite,
    despeço-me da Sombra por breves vénias
    e abro a janela.

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