Mar
(A Origem, saudade que remete para plenitude na ausência ou ausência plena, move-se no caos primevo do Grande Oceano, dentro e fora, oriente e ocidente em nós e no mundo. E o sentido deste oceano insituado é o ponto onde a ilha sem nome e sem rosto se move. Demanda universal da vazia estalagem onde aportam as almas e os barcos que ainda não partiram nem chegaram, porque não há lugar aonde ir fora desse Mar, e dentro dele, tudo é a mesma saudade. O mesmo pulsar universal da eternidade. Não os barcos e as almas que do rumo das bandeiras levam o desejo de domínio ou de novos impérios de terras e de homens, mas as almas e os barcos que invocam a Domina Maris de uma descoberta interior. Por isso mesmo, o mar é abismo onde a alma bebe o verbo e o sal, para além do mar existente que se não pode demandar, que não busca o achamento, tão só a sua memória. Mar que é em si e fora de si não o fim da demanda, mas a eterna demanda de uma memória insubstancial. Reminiscente e insistente memória do Caos primevo, andrógino, memória e esquecimento do mundo, coisa profunda e móvel que no oriente, no ocidente, do dentro e do fora do círculo e dos ciclos dos tempos, das dimensões e das distâncias; do que não está nem em movimento nem em repouso. Tão só repousa agora no movimento o que antes se movimenta no repouso. Em todos os sentidos e em todas as direcções, simultânea e atemporalmente. Isto é o mar sem fim que no abismo das almas saudosas se festeja. Para além das cordas do tempo, para lá do existente, vibra um som ausente e fundo. Domina Maris, Senhora do Mar lhe chamo, mas não lhe chamo pátria, pois não lhe dou um rosto com que não possa olhar-se nem olhar-nos nem ser olhado. Um som que se ouve para além da cessação do som, para além do ruído físico das bátegas e das tempestades. O Mar, água de luz e treva que a tudo envolve no instante em que se dissolve na substância oculta da sua sombra. Aí onde a Saudade busca a sua origem e a montanha petrifica a saudade do mar. Mar sem fim, infinitamente equidistante do antes e do depois do navegar à vela dos sentimentos e das emoções. Muito antes do desejo e do domínio. Mar nosso, como oração no deserto, a bater persistente e insistentemente na eternidade das nossas inexistências embarcadiças. O mar não é um ente nem tem cor; é um desejo de nadificção plena, de morte do que se agarra à mente inexistente. Elemento sagrado da nossa proximidade e distância, caminho simbólico para a ilha não menos simbólica do reino de nenhum lugar e de todos os lugares onde a ideia do Encoberto se desencobre em Origem.)
(A Origem, saudade que remete para plenitude na ausência ou ausência plena, move-se no caos primevo do Grande Oceano, dentro e fora, oriente e ocidente em nós e no mundo. E o sentido deste oceano insituado é o ponto onde a ilha sem nome e sem rosto se move. Demanda universal da vazia estalagem onde aportam as almas e os barcos que ainda não partiram nem chegaram, porque não há lugar aonde ir fora desse Mar, e dentro dele, tudo é a mesma saudade. O mesmo pulsar universal da eternidade. Não os barcos e as almas que do rumo das bandeiras levam o desejo de domínio ou de novos impérios de terras e de homens, mas as almas e os barcos que invocam a Domina Maris de uma descoberta interior. Por isso mesmo, o mar é abismo onde a alma bebe o verbo e o sal, para além do mar existente que se não pode demandar, que não busca o achamento, tão só a sua memória. Mar que é em si e fora de si não o fim da demanda, mas a eterna demanda de uma memória insubstancial. Reminiscente e insistente memória do Caos primevo, andrógino, memória e esquecimento do mundo, coisa profunda e móvel que no oriente, no ocidente, do dentro e do fora do círculo e dos ciclos dos tempos, das dimensões e das distâncias; do que não está nem em movimento nem em repouso. Tão só repousa agora no movimento o que antes se movimenta no repouso. Em todos os sentidos e em todas as direcções, simultânea e atemporalmente. Isto é o mar sem fim que no abismo das almas saudosas se festeja. Para além das cordas do tempo, para lá do existente, vibra um som ausente e fundo. Domina Maris, Senhora do Mar lhe chamo, mas não lhe chamo pátria, pois não lhe dou um rosto com que não possa olhar-se nem olhar-nos nem ser olhado. Um som que se ouve para além da cessação do som, para além do ruído físico das bátegas e das tempestades. O Mar, água de luz e treva que a tudo envolve no instante em que se dissolve na substância oculta da sua sombra. Aí onde a Saudade busca a sua origem e a montanha petrifica a saudade do mar. Mar sem fim, infinitamente equidistante do antes e do depois do navegar à vela dos sentimentos e das emoções. Muito antes do desejo e do domínio. Mar nosso, como oração no deserto, a bater persistente e insistentemente na eternidade das nossas inexistências embarcadiças. O mar não é um ente nem tem cor; é um desejo de nadificção plena, de morte do que se agarra à mente inexistente. Elemento sagrado da nossa proximidade e distância, caminho simbólico para a ilha não menos simbólica do reino de nenhum lugar e de todos os lugares onde a ideia do Encoberto se desencobre em Origem.)
Saudades, grato pelo belíssimo texto, que não posso comentar como merece, pois agora ando às voltas com o amor de Pedro e Inês... A Roda da Fortuna inscrita no túmulo de D. Pedro, em Alcobça, é de uma riqueza infinita... Um Abraço muito grato por tudo o que traz à Serpente.
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