E eu não sei. Sabes por que não sei? Porque a porta da catedral és tu. E tu não és um livro para uma leitora, és um cometa, e o teu rosto branco tem uma cauda branca como não há lembrança de outro assim dentro dos céus da minha memória e eu fico à distância a receber o infinito que a porta suspende mas não contém. É por isso que, sendo uma porta, me ofereces o deserto por onde passam mais vezes os cometas de que o deus desordenado se esquece, quando desenha nas formas que desconhece as pontas das estrelas, e a luz lhe escapa não apenas em velocidade, mas em fuga. Depois olhas-nos e ouvimos Bach dentro das sombras entardecidas do teu olhar. Passam anjos de Rilke no ar, invisíveis mas tangíveis, e um deles pede que te leia alto um poema para descansares as mãos e o ritmo abrandar à porta da tua catedral sem rosácea, porque inundada da luz com que no deserto o sol rasga os olhos e os fecha para o oriente da vida insuspensa atrás de tudo e em tudo.
Esta noite, depois de discutir e partir algumas garrafas contra as paredes de madeira, de gritar para soltar o seu daimon, A. e Pollock vão conversar comigo junto à porta por onde passa um rio e um pescador, sentado e cego, desenha movimentos que são de Agosto e são Deus. A. olhará para mim e eu vê-la-ei em simultâneo no céu do verão, na tela de Pollock e nos movimentos do pescador. A tem escondido no rosto um cometa. E eu vejo-o/a e sinto a proximidade dos deuses. Depois fecho os olhos e oiço as vozes misturadas de Holderlin e Rilke. E a vida é um quadro secreto para revelar aos que encontramos ou reencontramos.
Se tiver paciência, gostava de saber o que lhe significa "catedral"..
ResponderEliminarAna podes tratar-me por tu. Não sou tão velha quanto o Manuelinho ...estou a brincar com o Manuelinho mas a falar a sério contigo.
ResponderEliminarCombino assim contigo (se é que posso tratar-te por tu...penso pelo que li até agora, que não levarás a mal): escrevo depois um texto sobre a "catedral", mas hoje não, cheguei agora de viagem e estou exausta. Mas, imediatamente é também um título de um dos quadros de Pollock, para quem pintar era um ofício não diferente de "construir uma catedral." Obrigada pela pergunta, obrigada por teres percebido bem o fundo em que nasce A.
Recebe um grande sorriso meu.
Pode ser?
Desculpa ser tão pobre na resposta...
Pode, fico à espera da sua catedral, ou, de si...
ResponderEliminarOps... não está fácil, fico à espera da tua catedral, de Ti.
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