Que nome se dá à ausência de saudade?
Que lugar é esse tão próximo que não recordas a morada?
Algures, num ponto misterioso fundeado em ti, sentes augúrios de regresso.
Momentos há em que o sentes perto, tão perto... Sentes-lhe o embriagante pulsar penetrando-te em vagas ardentes que te chamam num cicio familiar e mesmo assim ininteligível; é uma mensagem telegráfica poluída com ruídos difusos, de vozes e sons de mundos onde passaste sem te demorar.
Respiras! O ar alonga-se em cavidades, trilha escadas no poço sem fim.
Ah! No fundo de ti o charco lamacento aquieta-se, a lama acomoda-se num leito espesso; é húmus fértil que as sementes, anteriores à palpabilidade da terra, esperavam para poderem germinar. Largada quase imersa, nessa poça opalina, a corrente pesada, enferrujada, conduz o teu olhar ao grilhão ancestral que jaz ancorado mas arrombado. Ferropeia de boca escancarada grita sem voz o hino ao silêncio, desabrolha campos inteiros de almas transparentes que ascendem como suspiros. O ar rarefaz-se e demora-se em ascendência; exala perfumados cânticos mudos de êxtase, exulta não por ti mas pelas mil glebas, intrinsecamente irmãs, libertas e floridas. Sentes a leveza de ser alígero sem ser alado, incomensurável, infinito e abrangente...
Ah! Aí tudo vibra arrebatado, desdobra-se orgástico e tu és tudo desmascarado de forma, limites, fronteiras e conceitos. A frase incompreensível que desde eras remotas sibilava na tua mente ribomba num clarão refulgente.
Que lugar é esse tão próximo que não recordas a morada?
Algures, num ponto misterioso fundeado em ti, sentes augúrios de regresso.
Momentos há em que o sentes perto, tão perto... Sentes-lhe o embriagante pulsar penetrando-te em vagas ardentes que te chamam num cicio familiar e mesmo assim ininteligível; é uma mensagem telegráfica poluída com ruídos difusos, de vozes e sons de mundos onde passaste sem te demorar.
Respiras! O ar alonga-se em cavidades, trilha escadas no poço sem fim.
Ah! No fundo de ti o charco lamacento aquieta-se, a lama acomoda-se num leito espesso; é húmus fértil que as sementes, anteriores à palpabilidade da terra, esperavam para poderem germinar. Largada quase imersa, nessa poça opalina, a corrente pesada, enferrujada, conduz o teu olhar ao grilhão ancestral que jaz ancorado mas arrombado. Ferropeia de boca escancarada grita sem voz o hino ao silêncio, desabrolha campos inteiros de almas transparentes que ascendem como suspiros. O ar rarefaz-se e demora-se em ascendência; exala perfumados cânticos mudos de êxtase, exulta não por ti mas pelas mil glebas, intrinsecamente irmãs, libertas e floridas. Sentes a leveza de ser alígero sem ser alado, incomensurável, infinito e abrangente...
Ah! Aí tudo vibra arrebatado, desdobra-se orgástico e tu és tudo desmascarado de forma, limites, fronteiras e conceitos. A frase incompreensível que desde eras remotas sibilava na tua mente ribomba num clarão refulgente.
Ah! Expiras, vais onde só podes repousar por mero instante. Lacónica é por ora, a extensão desse vasto lugar; porém a profecia fica gravada: A qualquer momento hás de regressar.
Ana, essa música entranha-se-me, o teu texto atinge-me a raiz.
ResponderEliminarAnita: Quando tinha vinte e poucos anos estava eu no Estádio, tasca bem conhecida do Bairro Alto, com um grupo de amigos, quando me vieram entregar um guardanapo, daqueles fininhos, onde estava escrito:
ResponderEliminar" Como se, subitamente, a árvore entendesse a natureza idêntica da raiz e da folha, e num longo gesto, abdicasse. "
Por mais que tentasse saber quem era o autor, nunca descobri.
Vive porque os textos valem só que o valem... Vive intensamente. A vida é o adubo e água para a raiz!
Isabel: Obrigada pela mensagem, estive de férias, andei a esquecer-me de "blogar".
Errata: Valem só o que valem
ResponderEliminar:) Só dá mesmo para viver intensamente, ou então não se vive - "subvive-se".
ResponderEliminar-Que também tem a sua função, mas apenas como meio para algo mais...-
ResponderEliminarOlha Ana, fico por aqui a ouvir música e a dançar, dançar, dançar ...
ResponderEliminarBonDia Ana,
ResponderEliminarMomentos há em que o ponto se desfaz e é essa a sua profecia: extingue-se (expiramos) para regressar de novo, é assim que a sabemos saudade e eterna.
Que nome se dá à ausência de saudade?
A qualquer momento hás de regressar........ à saudade.
Luíza,
ResponderEliminarNeste momento estou com pressa, vou ter que sair e a discussão, deste ponto, é capaz de ser mais longa do que o simples assentimento. Esta foi a flecha provocatória que eu desferi, com este texto, afinal só a atingi a si. Prometo voltar a este ponto. Saúde!
Ana,
ResponderEliminarAguardo o teu sinal de volta a este ponto.
Luiza:
ResponderEliminarNa minha perspectiva, diga-se especulativa, a saudade é uma mensagem subliminar gravada em todos os seres, cuja intenção é relembrar-lhes a sua verdadeira natureza; a natureza do que não lhes é singular mas simplesmente Uno, interdependente, e, que por isso mesmo os une com tudo. A saudade é o sinal intermitente, uma seta de Néon a apontar para o ALÉM.A saudade não será pois o fim mas o início. A saudade é o propulsor da demanda pelo Além de si.
Além de si, o “local”, o “ estado de consciência” onde tudo se completa, onde a coincidência absoluta de tudo nos preenche totalmente. Nesse local a saudade desvanece-se para sempre pois não tem como existir... Completou a sua missão. Os Budistas chamam a esse “estado“, Vacuidade. Vacuidade não é um adjectivo por isso não é sinónimo de vazio, pelo contrário é o preenchimento de todos os espaços intersticiais, o fim das membranas que nos separam uns dos outros, que nos distinguem. É a natureza primordial de tudo; o silêncio inequívoco da total compreensão, da fluidez, a aceitação amorosa.
Vacuidade é um substantivo próprio, uma pátria...não uma Pátria física é claro. Porém, quando a saudade se manifesta no EU, senhor do concreto essa pátria pode ser naturalmente confundida com um local concreto, um território, um país.
Vacuidade é êxtase amoroso que quando o Eu, enquanto eu, o busca saudoso, se aproxima do amor pelo do outro, enquanto outro. Essa barreira ( Eu versus TU) é o que impede a fusão total com tudo, impede a chegada.
Apesar de tudo, parece-me que todas as demandas são válidas, se no final tomado o “Graal” o soubermos não pela forma ( si) mas pela sua natureza ( o que é). Isso é que é difícil!!!
Agora espero que fales da tua Saudade.
Ana,
ResponderEliminarDeixa-me começar pelo fim. Obrigada por esperares que te fale da minha Saudade. Os melhores diálogos são os monólogos partilhados. Não vou, no entanto, deixar de combinar as minhas demandas saudosas e da Saudade com alguns pensamentos ou expressões que escreveste.
1.
Há uma madrugada, uma alvorada da Saudade que lhe pertence para ser plena ( luz ou i.luminação ), que é a sua ausência. Esta ausência está presente desde a noite mais escura de si ao seu máximo fulgor, insinuando a sua chegada a uma tal proximidade, a uma tal derradeira iminência, que não se deixa antever: faz-se aguardar para retardar, como se tivesse todo o tempo para nos trespassar e eternizar; na madrugada ainda é escuro e as luzes que se vêem, muitas, são as do Silêncio, seu limiar e morada. A ausência de saudade é também uma voz angélica, mensageira, que fala de um desaparecimento, antes e depois de ser vivo na alma, de que não existe lembrança pois alguma vez teremos re.aparecido fora do sítio?
2.
A Saudade é uma tórrida alegria que queima, dói,
e na bruma funda, paisagem suspensa, se evapora;
e depois se derrama dos céus, uma e outra vez
até se verter de vez no invisível do invisível,
nos veludos azuis e revoltos de mar,
e se faz barco ao largo da costa
de onde estamos a mirar, a aguardar:
sentimo-lo pelas ondas que aconchegam o porto
para uma partida ao regresso: desmaiamos ao vê-lo
e reanimamos na sua ausência.
Luíza,
ResponderEliminarO ponto dois do teu monólogo é uma pérola absolutamente perfeita, tanto no estilo como no conteúdo. Resume tudo. Um grande abraço!
Um abraço, Ana.
ResponderEliminarContinuemos as nossas demandas.