O Leitor Real é o que se torna naquilo que lê, é o que lê amando a escrita e o escritor que vê por detrás dela, ao encarná-lo, porque quem se alimenta de leite não é o que pensa nele, nem mesmo quem para ele olha, mas quem o bebe: quem sacia a alma lendo é quem se esquece de si e renasce de novo, relembrando a sua natureza infinita.
Até sempre.
ResponderEliminar"Chamo liberdade à minha ignorância do destino, e destino ao meu ignorar da liberdade."
ResponderEliminarFiel Agostinho
Leite musical...
ResponderEliminarhttp://br.youtube.com/watch?v=3daavB5Vxbw
É Anita.
ResponderEliminarGosto do que escreveste neste post.
Mas não te esqueças de que a nossa alma é analfabeta. Será alfa-ómega, porque não tem princípio ou fim. Voltamos à carta da Justiça, o nº8 que, deitado, se torna o símbolo do infinito. Na carta há uma balança, mas também há uma espada.
Se nos ficarmos por uma visão alfabética da vida, do mundo, da transcendência, ficamos com uma visão que usa só duas letras, e logo as primeiras, as mais incipientes, para irmos ao encontro do que há e do que não há.
E há uma infinidade de letras. A maior parte das quais não são letras e algumas são só tuas, são a chave que trazes, da imensidade de onde vieste, no coração para abrires os sentido dos mundos.
Ler é fazermo-nos ao mar, se olharmos ao uso dessa palavra na poesia trovadoresca.
O que nos coloca em contacto com a poesia e a sua Realidade/Realeza mais profunda. O Poeta é um Alquimista, um Buscador, um manejador da espada que corta os laços com o que não tem valia. Neste sentido, o Poeta é um analfabeto, será sempre um analfabeto e nunca será um literato porque recusar-se-à sempre a ser um canalha, a querer ser sempre a única voz que conta, a querer usar a sua espada como uma navalha andaluza, sempre pronta a cortar o rosto dos que até ele vêm sorrindo. A canalha está entregue ao egotismo e arde na fogueira da vaidade.
Por exemplo, aqui na serpente, há quem esteja a ver o que aqui se vai passando, e está no escuro a ver, com a navalha na mão à espera dos momentos que lhe proporcionem o deleite da navalhada. Por vezes é o comentário dum anónimo, outras vezes é a ironia meio alarve. É tudo a mesma coisa.
Quando julgares que os outros se riem de ti, ri-te com eles. Rirmo-nos de nós mesmos é uma coisa nobre. Eu detesto o entre-riso das private jokes dos que vivem em cirandinhas de virgens dolentes. O autêntico riso escancara tudo e é uma fonte de água fresca.
E a referência à Alquimia é muito importante. Cuida-te dos assopradores da palavra, são apenas cultores dum vento represo nos foles do egotismo.
Se és Poeta,serás filha do vento.
E a Pedra Filosofal, o ouro dos filósofos, nasce no Coração.
Por isso nunca entregues o teu Coração aos bandidos, aos salteadores dos sonhos. É lá que está o teu tesouro.
Os salteadores querem tesouros para encafurnarem numa caverna. Eu nunca entreguei, nem entregarei o meu coração aos bandidos. Tu faz o mesmo, minha irmã.
Lembra-te que naquela história dos 40 ladrões na caverna dos tesouros está uma lâmpada que concede desejos. Porque razão a lâmpada está esquecida no meio dos outros tesouros roubados e enfurnados? E só o Aladino é que dá com ela?
40 ladrões, vezes 3 desejos, dá 120 desejos, isto se os ladrões não tivessem a inteligência de pedir logo à lâmpada que lhes satisfizesse o desejo de verem todos os seus desejos satisfeitos.
É que os bandidos, os salteadores dos sonhos, os assopradores da palavra, comprazem-se com falência dos sonhos. Querem viver num mundo desolado para poderem, se isso lhes der um dia na real gana, trazer refrigério ao mundo derramando sobre ele os sonhos, já degolados, violados e devassados. Os sonhos que eles roubaram ao próprio mundo.
E também estou aqui a falar para uma amiga muito querida, muito, muito querida, que está a aprender que para chegarmos ao céu temos que nos entregar ao chão, temos que nos enterrar no chão, porque é do chão que se levantam as árvores e é do chão que brotam as fontes mais puras.
E faz como eu, Anita, quando me levanto de manhã, todo o universo se levanta comigo.
Voltando às nossas conversas, deves ter reparado que há uma grande afinidade entre nós. Não te iludas com isso. Também estou a ser, se bem que dum modo puro, um bandido. Eu não vou falar em dons, mas como já te disse, eu apanho certas coisas no ar. Aquela referência à gaguez surgiu-me vinda desse lugar de onde me vêm as coisas que apanho.
Eu gosto de todas as músicas que por aqui postei. Mas gosto de muito mais. Mas não fui eu que acertei nos teus gostos. Tu estavas a ver-te ao espelho. É assim que estas coisas me aparecem.
Chamei-te mercuriana, e tu dizes que és balança e sagitário. Toma consciência que isso é uma mistura explosiva (boa, mas explosiva). O problema das balanças é o equilíbrio.
Há tempos postaste aqui a carta da Temperança. Há aí um caminho para ti. O do equilíbrio. E a carta da Justiça fui eu que a trouxe. Elas complementam-se. Chegarás ao infinito pela confluência das águas e dos dois gumes da espada da Espada da Justiça. Daí virá o equilíbrio. Mas prepara-te porque a Dor virá ciclicamente. Usa-a para acenderes o fogo secreto no teu coração.
Eu não sei a tua idade, e não digas aqui, mas vais passar por momentos em que sentirás a tentação do suicídio. Refugia-te no Amor. Mas num amor que venha sorridente ter contigo e te diga "estou aqui, lê-me, afunda-te, não te percas nas encruzilhadas das palavras assopradas pelos foles do egotismo, vamos dançar no vento".
Por isso esquece a Vesica. Peço-te. Os símbolos activam as energias da nossa mente, não queiras chegar lá através da Vesica. É demasiado doloroso e vais perder-te de ti.
E desculpa tudo isto.
Espero poder ter muitas ocasiões para ler contigo. Acho que também és analfabeta. :)
:) os nossos diálogos acordam-me do sono profundo em que vivo... Não agradeço nada, é só para que o saibas...
ResponderEliminar"Por isso nunca entregues o teu Coração aos bandidos, aos salteadores dos sonhos." "Mas prepara-te porque a Dor virá ciclicamente."
Aí mora o meu indiferente desespero. Eu não vejo bandidos, e só consigo viver entregando-me a tudo... de modo igual, como se tudo fora o mesmo: que o é. A minha maior Dor é a de não a ter. Sofro, parece que desde sempre, de não ter porque sofrer... o que a vida me tem dado eu não o consigo aceitar... porque não o sinto em mim, o que ela me pede para que eu lute provoca-me um intenso tédio... que depois me vem misturado com culpas espelhadas alheias as quais só consigo ver como se vivesse fora do mundo em que elas acontecem... apesar de as entender como minhas também... são minhas mas não as sinto comigo...
...
...
Tenho esta tremenda afinidade com Pessoa que nem vontade tenho para saber o porquê...
Só isto me fica... "Ah, que ânsia humana de ser rio ou cais"... mar.
Estes dias sinto-me Álvaro de Campos... :P
Enfim, mas no fundo aquilo do Poeta é um fingidor... é o que eu me vejo... passo por isto tudo...
choro, sofro, rastejo... mas assisto como se soubesse que é um processo necessário... mas que não é o Meu processo... porque eu não sinto eu... mas talvez "pilar da ponte de tédio".... é o estranho de sofrer profundamente ao mesmo tempo que desprezo o que ando a viver... pura encenação... Como Álvaro diz... eu sou ateia quanto às minhas sensações...
Sinto-me num poço... e nele só me sei afundar mais... loucamente sabendo sem qualquer hesitação... que a Luz me aparecerá inevitavelmente.
Este tempo é que me põe doente... de espera... mas é da doença... é deste estado moribundo que conseguirei renascer. :)***
(E tenho 24 anos, se isso quer dizer alguma coisa... para mim é só mais um dado do guião desta minha imitação de vida.)
(é o estranho de sofrer profundamente ao mesmo tempo que desprezo o meu próprio sofrimento... porque ele é tão só a minha ausência... e não sou capaz de levar a sério o que simplesmente consiste no não-existir)
ResponderEliminarDiz, diz, estás a atravessar uma das "grandes águas" da vida. 2+4=6 - A carta dos Enamorados. É um dos momentos da tua vida em que os pratos da tua balança estão num equilíbrio tenso. Daqui a pouco vão entrar em desequilíbrio, de forma brutal. Deixa-te ir. Voa. Se eu puder andar por aqui para te "picar", caramba!
ResponderEliminarE agora que estás a dar o salto para fora, não voltes para trás. O nosso coração é o mundo inteiro. Mergulha no mundo e estás lá. Depois da crise virá a Vesica. ;)
Mas ela é que te procurará.
E quero cumprimentar-te, se eu com a tua idade tivesse mergulhado assim no mar...
:)
Estes processos são teus, mas neles joga-se a solidão que habita o mundo. :)
E andava a ler...
ResponderEliminar"Há quanto tempo, Portugal, há quanto
Vivemos separados! Ah, mas a alma,
Esta alma incerta, nunca forte ou calma,
Não se distrai de ti, nem bem nem tanto.
Sonho, histérico oculto, um vão recanto...
O rio Furness, que é o que aqui banha,
Só ironicamente me acompanha,
Que estou parado e ele correndo tanto...
Tanto? Sim, tanto relativamente...
Arre, acabemos com as distinções,
As subtilezas, o interstício, o entre,
A metafísica das sensações —
Acabemos com isto e tudo mais...
Ah, que ânsia humana de ser rio ou cais!"
Álvaro de Campos
E desprezo tudo o que escrevo e sei...
ResponderEliminaro que eu quero é o que poderá vir da Madrugada que se avizinha.
o que eu quero é viver
o que sou.
-E o resto é noite vazia.-
Ser rio ou cais!
ResponderEliminarEu gosto assim: és rio e cais (catrapumba!).
Ou: tu cais, eu rio (não consigo resistir).
Mas também gosto: se caio, rio. ;)
Ou, então: "se rio, caio e também cais no riso".
;)
ó Paulito... isso é sinal de severa demência! o melhor é "afastar-se" de mim antes que seja tarde. :P
ResponderEliminareu já perguntei como posso ser internado. Ora, tinha que assinar um papel. Como é que um alucinado assina o papel? Quer dizer, um papel em que o resto do mundo acredite, não uma espécie de cheque pré-datado para pagar a entrada na sanidade. ;)
ResponderEliminarpor isso...
querias... pró manicómio só vão os puramente sãos.
ResponderEliminarOs loucos não.
Pois.
ResponderEliminarA escola está quase a começar.
:)
Ela é o meu manicómio.
Se bem que um louco no meio de imbecis sente-se só, o que salva a coisa são alunos.
ResponderEliminar:)
Durante o ano pintamos a manta.
;)
Sabe o que me acontece agora...
ResponderEliminarvivo... e depois como se passa o que vivo... logo a seguir deixo de crer naquilo que passou - quando o lembro duvido-o seriamente. Antes conseguia enganar-me melhor... o tempo levou-me essa capacidade.
Parece que estou outra vez como era em criança.
A eterna dúvida... cómoda infantilidade ou precoce senilidade? ...
(não ligues à terceira pessoa em conjugo os verbos...) sai-me...
ResponderEliminarestás a ver o meu desenquadramento quando me falam do que fiz ou do que me fizeram... :P
ResponderEliminarÉ, mas tudo isso faz parte.
ResponderEliminarNo fundo todos temos a mesma idade. Mesmo a título individual.
Há um centro imóvel em torno do qual as turbulências da vida giram. Se observarmos tudo a partir desse centro, é assim mesmo.
Não podemos é esquecermo-nos que vimos cá para dançar essa dança. "A menina dança?" A nossa alma está sempre à espera desse convite.
Mas na maior parte das vezes tem medo de o ouvir.
;)
(quando me pedem por desculpas ou me "exultam"...
ResponderEliminarraios... não saber viver no tempo que já não o é!...)
O passado passou-se.
ResponderEliminarÉ mais uma maluqueira do tempo.
;)
a maluqueira está só em nós... mas sim... porque o tempo somos nós...
ResponderEliminaré tudo nós... que mais poderia ser...
ahah viver no passado é viver passado/a? :P e depois a doida sou eu...
ResponderEliminarquem vive "passado", não tem passado, nunca passa quem "se" passa!
ResponderEliminarPor isso é que a passa da uva é tão saborosa. ;)
Paulo, já agora aos 25 anos qual é a carta?
ResponderEliminarnão enfunes em arco.
ResponderEliminarA carta VII.
O carro.
A vitória, o triunfo,
Ou a derrota mais amarga.
Mas será um avanço rápido.
Aponta para a vitória com todas as tuas forças. A carta é o sinal da energia dominante, não tem a ver com os acontecimentos, estes seguirão a direcção que deres à energia.
;)
mensagem entregue. ;)
ResponderEliminarQuem parte derrotada só pode chegar à meta da vitória. :)) Quem se sente ser a própria derrota do mundo não tem mais que perder.
Há mais mundo. Há mais mundos.
ResponderEliminarÉ como a água do mar.
O nosso balde só leva um poucochinho de cada vez.
E não devemos confundir o balde com a balda.
;)
Não vivemos debalde.
E agora vou ograr o almoço.
;)
Haverá? E serão tão diferentes deste?
ResponderEliminarA árvore tem muitos mundos dentro dela... ramos e ramos... mas todos são réplicas de um mesmo tronco...
atingindo o tronco e/ou a raiz... todos se ressentem...
ResponderEliminarOra Anita!
ResponderEliminarEssas perguntas não se fazem, desfazem-se, ou então desfazem-nos a nós.
Eu quando julgo que vejo alguma coisa, e isso é mais uma ilusão minha, vejo-o assim:
Cada ser talvez seja um universo em gestação. Vai evoluindo, evoluindo, evoluindo, até que Catrapuuuuuuuummmmmba!
Se nesse universo um dia ser urdir qualquer coisa como físicos das parículas e das chegadas, eles dirão que houve um big-bang, mas não houve, o que aconteceu foi que um novo universo que estava a fermentar fez saltar a rolha da garrafa. Por isso é que o mosto fermenta em cubas e o vinho envelhece em caves. Por isso é que há gente que se enfurna na caverna platónica. Tem medo que lhe salte a rolha.
Mas não há ninguém a quem não vá saltar a rolha.
E como não há um ser supremo com capacidade volumétrica para emborcar todo o vinho que os seres rebentáveis segregam, cada uma das células desses seres dará origem a uma galáxia, com muitas estrelas lá dentro e com muitos planetas a namorarem as estrelas. E tudo isto servirá para incubar novos seres rebentáveis.
Mas se nós não tivermos medo de andar sem rolha no gargalo alucinogénico, acho que a coisa se tornará mais interessante.
Os big-bangues acontecem à mesma, mas rebentam para dentro. Acho que seria fabuloso. ;)
Achas que já estou internável?
Quer dizer, entornável? ;)
ResponderEliminaracho que já estás incurável!
ResponderEliminarancorável? :)
"...com muitas estrelas lá dentro e com muitos planetas a NAMORAREM as estrelas."
Epah... chamem-me o que quiserem... essa linguagem que tu usaste é a única em que eu me reconheço! Fundindo o meu sentimento de amor crónico com o exterior que os meus olhos vêem... amando-o. ;)*
Ancorável?
ResponderEliminarEu já estudei um complexo simbólico sobre isso. O Antero suicidou-se ancorado na esperança. E há ilustrações místicas em que essa imagem aparece.
Há âncoras que nos levam ao fundo e não nos deixar vir acima. Toma tendo nisso.
Eu prefiro ser entornável. Água de beber, para dar de beber às plantas sedentas, mosto de crescer, para nunca me fartar de mim e não andar sempre a esparreira-me para cima dos outros, "olá cá estou eu, o Ego contínuo, sou um desodorizante bastante embirrante".
Nós temos que ser descontinuáveis por dentro, tendo uma vida continuável por fora.
;)
E nunca devemos dizer que o amor é vão. E os loucos de Amor têm sempre razão. Tenham razão ou não.
;)
Mas toma tento. A loucura é que nos procura.
Excepto quando a âncora é lançada junto ao Cais Absoluto... o verdadeiro an-cor-ar: no Amor Infinito.
ResponderEliminarAqui está tudo...
"Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão."
Vinicius de Moraes
http://br.youtube.com/watch?v=nrfCXnuSCVk&feature=related
ResponderEliminarQuando a âncora somos nós! Isso é que é... ;)
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