Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
A Apaziguadora
Milenares as noites baixam sobre os dias
Os seus ombros nus
Cobertos pelo brilho finíssimo da lua;
O arco das suas costas reflecte
O olhar branco da luz,
Arco-íris do sonho;
As suas asas, gastas de poeira estelar,
São o que de mais belo o universo viu.
Por isso, ó noite única, sempre antiga e nova,
Única e plural,
No universo plural e único!
Ó noite, colo de todas as preces,
Vem sentar-te junto da minha fogueira!
Vem aquecer as tuas asas húmidas de milhares de invernos;
Frias de gelos milenares,
Gastas de atravessar montanhas e ventos.
Vem, ó noite! junta-te ao fogo da minha imaginação e apaga
A febre dos meus olhos, derramando neles os colírios das águas
Que trouxeste da montanha.
Por isso, carinhosa enfermeira do Além,
Cuidadora dos aflitos; mãe dolorosa dos simples;
Mátria de seios escuros, complementar ao mamilo do Sol que tudo deixa ver,
Até a cegueira.
Tu que "que tira (s) mundo ao mundo",
Ó apaziguadora, minha irmã que abres uma estrada de ausência
Onde também eu escureço e esbato os contornos da existência
Tu que me visitas, ritual e inevitavelmente;
Tu que atiras para dentro dos meus sonhos
Toalhas frescas que me tiram a febre do rosto...
E te afastas silenciosa como apareceste,
Ó guardadora da aurora que te guardas dentro de mim
E afagas os meus cansaços;
E trazes nos braços pulseiras de estrelas e pó lunar
Para guardar no frasco do veneno que não mata e adormece...
E fazes desaparecer a ânsia dos que anseiam;
Tu que fazes com que a espada brilhante seja sombra
Imagem esbatida onde repousas a cabeça e te coroas
Para todo o sempre rainha dos desolados, peito manso dos desditosos;
Dor sorvida do peito dos poetas.
Também por ti me desfolho
E atiro em todas as direcções o meu ser perdido em ti.
Milenares, os teus gestos pausados,
As tuas lágrimas purificadas,
A tua longa cabeleira negra
Debruada de miríades de luzes;
Sublime o teu perdão,
Serena a tua face límpida;
Por isso te entrego o lume das palavras
Para que o poema te finja
E te coroe, Mãe
Da minha inquietação atenta.
Milenares as noites em que te fundes numa só
Estreita e pálida mão que refrescas os cabelos
Com o orvalho da tua concha de alimento de nada
E apagas a luz sem a ferir, suavemente
Como um choro lento de mulher, um veio de água que corre para dentro
Da alma sedenta dos homens que morrem
E levam no teu olhar o grande consolo da eterna suavidade.
os "beijos merecidos da Verdade"... só esses a Mãe em nós nos sabe dar... receba quem seja pobre... pois só os que se sentem pobres de espírito abrem as mãos a pedir. Tornando-se reis com ela.
ResponderEliminarsó na funda noite o sol brilha.
ResponderEliminarMaria
ResponderEliminargrande beijinho para o que tu és
Ah, Saudades,
ResponderEliminarQue bela nocturnidade a tua.
Não te cheguei a dizer Saudades, esta foto parece um misto entre realidade e ficção... ou seja, é íntegra-inteira.
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