segunda-feira, 14 de julho de 2008

o quadro nunca acabado


Tudo que escrevi até hoje

foram asfixias infatigáveis d’agonia,

intenções inconscientes para um segundo eu ler,

anomalias abjectas a tornar realidade já amanhã

com direito a promessa desconcertante

e cruel auto-desonra em seguida.

Mas, com estes livros que aqui nascem

toda a voracidade à tangente será recusada

e, do útero do caos, emergirá recompensa...

Repudio o óbvio massificado e creio

na individualidade universal capaz de

nunca se cansar de viver lamentos e palpites

que inflamarão o brilho de cada falésia,

como cócegas num cadáver idêntico

que, ao mínimo contacto, acolherá o impalpável

sem receios do nosso interior absurdo.

Os facilitismos da fala são substimados,

cegam a participação à imposição imediata

de cada confissão registada no auto dos olhos

poder assumir e sugerir achaques tão díspares nas

imperceptibilidades onde intenções são sentenciadas

e grupos espessos finalmente deformados...

Tanta sílaba já vi deambular no secretismo

da tentativa suposta relegada para outro erro,

porque fúria é fracasso que colapsará

se te agarrares ao vexame da própria sarna;

desliga a mentira e abraça a integridade

quando sentires a sugestão constante

irradiar-se com calafrios compreensivos,

arremessa-te como aperitivo no

espeto da cobra dorsal do licor ritual.




in TREPIDAÇÃO/TREPANAÇÃO (ou a ausência de evolução)
2004

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