Notas para um futuro romance da minha autoria.
"(...) Aqueles intelectuais que, para além dos limites da sua casa, nunca viveram mais nada do que a universidade e os seus apêndices. Cabeças cheias de filosofia em putrefacção, arrotando um desprezo mal assumido por todos os que nunca tiveram interesse, ou acesso, à livralhada que lhes formatou as cabecinhas.
Desprezo também por todos aqueles factos da existência que parecem contradizer a sua visão do mundo, baseada em belas teorias sobre cidades e governos ideais que, graças à providência, nunca exitiram nem hão de existir. E ainda bem, pois, se existissem, seriam o produto acabado da completa maquinização de todos os seres, da subjugação da complexidade de tudo o que existe aos critérios de umas quantas prateleiras ambulantes de boas intenções que, em nome do Bom, do Belo, da Pátria, da Classe-não-sei-das-quantas, do Enésimo Império ou seja lá do que for, cogitam engrenagens de dimensão cósmica que, ao serem postas em funcionamento, trituram todos os valores em nome dos quais foram engendradas.
Sobre elas pairam, triunfantes, os cogitadores de todas essas fantasias, desforrando-se das prisões que são os seus corpos alérgicos e mal-fodidos, vingando-se de todos os escarros na cara, óculos partidos, pontapés nos tomates e socos nas mamas dados pelos seus colegas mais caparrosos e melhor adaptados à lei das selvas em que transitam, esses sim, os verdadeiros guardiães da higiene e força da "raça".
Outros, mais frios, mais calculistas, e por isso mais fluentes na subtil arte de trnasformar sentimentos alheios em instrumentos de auto-sujeição, não fazem mais do que alrgar à dimensão do cosmos as práticas que lhes permitiram manter um mínimo de integridade no meio da sua selva. Chegam até a lucrar com isso, usando a simplicidade de espírito dos que os rodeiam como estribos para os atrelar à sua vontade, tornando-os assim nos executores de estratégias às quais a sua inteligência e reputação de "bons meninos" não lhes permite emprestar o rosto.
Uma coisa une esses intelectuais e as bestas sadias que lhes servem de algozes. É o mesmo fio condutor que une a República Platónica, o Terceiro Reich, a Ditadura do Proletariado, o Leviathan, o Campenonato do mundo de Futebol, a Globalização e Messianismos vários: Uma imensa, parcamente reprimível mas facilmente camuflável vontade de poder."
Mas que ânsia de denúncia!... De demarcação crítica... De moralização... Porquê?
ResponderEliminarÉ assim mesmo! Dá-lhes, arreia-lhes com força! Zás! (Estou inquieto para ler esse romance...)
ResponderEliminarÉ isso mesmo! Tu estás mesmo no olho do furacão. Mas acho que a coisa ainda é mais negra, essa vontade de poder neste momento excede os indivíduos que a ela se entregam. Ou melhor, já não é bem uma "vontade", uma vez que esta pressupõe uma intencionalidade e, como tal, uma meta mais ou menos satisfatória. Até que ponto nós conseguimos "fugir" a isto? Mesmo que eu me transforme num anacoreta e vá meditar feito urso para as montanhas, essa máquina de que falas também vende modos de vida assim. E muitos outros modos de vida. E, no entanto, essa mesma máquina neste momento está a destruir milhões de vidas, de forma implacável.
ResponderEliminarBem...
Espero que esteja tudo bem contigo.
Beijo!
Até as águias e os algozes têm a sua beleza. Destruindo as mamas e os tomates em nome de uma putrefacção que vêem como maior e mais bela!! ^_^
ResponderEliminarÉ a náusea do que já se conhece e a vontade de partir as fronteiras que nos separam do desconhecido.
Ou então a vontade de partir o que está presente em nome de um idílico qualquer que achamos estar algures, ao nosso alcance.
Seja como for é destruição.
Destruição das flores e/ou dos seus comilões...
A raiva cega mas dá-nos, ai, uma FORÇA - ímpeto e viagem e, "quem não a deseja"!!!
Nós todos queremos destruir o mundo em nome de um mundo melhor. Benditos sejamos, os destruidores / sonhadores / criadores de novos mundos.
Bendito seja eu e bendita sejas tu, e maldito seja ele que não brinca como nós!!
O que é importante é manter a "distância certa". Querer e não querer "estar lá" é o que nos fode.
jinhos ^_^
"Mas que ânsia de denúncia!... De demarcação crítica... De moralização... Porquê?"
ResponderEliminarPorque eu estou enterrada até às orelhas em tudo isso. Essa denúncia, demarcação crítica e moralização é dirigida sobretudo a mim.
"Mesmo que eu me transforme num anacoreta e vá meditar feito urso para as montanhas, essa máquina de que falas também vende modos de vida assim."
ResponderEliminarNós todos, sem excepção, temos as mãos encharcadas de sangue.
Um forte abraço, Paulo!