Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
"Se há um amor puro e isento da mistura das nossas outras paixões, é aquele que está escondido no fundo do coração e que nós próprios ignoramos"
- La Rochefoucauld, Maximes, 68, in Maximes, Réflexions, Lettres (edição de 1678), Paris, Hachette Littératures, 1999, p.96.
Vejo agora como o velho Pessoa que a tua mão não é senão a minha e toda a hora em que duvidei ser boa não foi senão por me encontrar sózinha. E de repente,com a última questão a mais dura e cruel que jamais tive vi que afinal aquela amiga mão é a do ser perfeito que em mim vive. Tudo o que de mais nobre eu sonhei tenho-o em mim tão forte e tão seguro que fico inteira então e sinto e sei que sou o príncipe,a amada,a hera e o muro.
Magnificamente o dizes !... Mas estas visões, de que somos o amante, o amado e o amor, só nos podem levar a dois fins: se nos libertamos da ideia de sermos um eu, à iluminação ou à divinização, conforme as linguagens; se todavia continuamos agarrados ao ego, isso só pode levar-nos ao egocentrismo absoluto e totalitário, em que achamos que o nosso eu é tudo e o mundo não passa de ficção sua, a ser fruída esteticamente, não ficando lugar algum para o amor e a compaixão pelos outros, que só existem como percepções nossas. Creio que Pessoa oscilou entre as duas possibilidades, mas acabou por resvalar mais para a segunda. Daí o sentimento de frustração, tristeza e fracasso que impregna toda a sua obra, a par da sua grandeza e genialidade literária. Evitemos isso.
Sem pretensão e admitindo um incerto "envolvimento" emocional com o autor, digo que tenho as minhas dúvidas de que era isso que Pessoa sentisse no fundo - apesar de ser isso assunto inalcançável. O nosso eu nunca é -tudo- isolado dos outros, só é alguma coisa com os outros; o que se vê é uma união de real e ficção. Apesar de não ter sido um exemplo de demonstração externa de amor para com a humanidade, Pessoa demonstrou-o ao seu modo e quem não reencontra amor pela humanidade na sua obra não sei então o que é amar... Fugir do que Pessoa foi ou não? É preciso é que não fujamos de nós, e o que isso nos leva a ser, é. É inútil separar Pessoa da insatisfação que reinava na sua vida, o que seria a sua obra se não fora ela?...
A ideia ou a libertação da ideia de ser ou não ser um eu não leva ninguém a lado nenhum,é preciso juntar-lhe a percepção disso,a experiência.A união das duas é que cria a realidade e essa,se a ideia for a de um eu livre, será libertação. Quanto ao querido amigo Pessoa,sei pouco sobre ele,mas penso que teria uma riquíssima experiência do seu eu interior pelo menos nos rasgos inspirados da escrita.A frustração vem da incapacidade de perpetuar esse estado e a tristeza da falta da partilha disso com outros...(?) (se calhar isto é só ego) Obrigado,vou pensar melhor no assunto.
Qualquer existência vem de dois antagónicos, qualquer acontecimento para ter lugar e espaço precisa de duas forças opostas: ser só do ego não é ser, porque nada existe sem o seu complementar. Pode ser é do ego e do não-ego... em relativa proporção.
Vejo agora como o velho Pessoa
ResponderEliminarque a tua mão não é senão a minha
e toda a hora em que duvidei ser boa
não foi senão por me encontrar sózinha.
E de repente,com a última questão
a mais dura e cruel que jamais tive
vi que afinal aquela amiga mão
é a do ser perfeito que em mim vive.
Tudo o que de mais nobre eu sonhei
tenho-o em mim tão forte e tão seguro
que fico inteira então e sinto e sei
que sou o príncipe,a amada,a hera e o muro.
Magnificamente o dizes !... Mas estas visões, de que somos o amante, o amado e o amor, só nos podem levar a dois fins: se nos libertamos da ideia de sermos um eu, à iluminação ou à divinização, conforme as linguagens; se todavia continuamos agarrados ao ego, isso só pode levar-nos ao egocentrismo absoluto e totalitário, em que achamos que o nosso eu é tudo e o mundo não passa de ficção sua, a ser fruída esteticamente, não ficando lugar algum para o amor e a compaixão pelos outros, que só existem como percepções nossas. Creio que Pessoa oscilou entre as duas possibilidades, mas acabou por resvalar mais para a segunda. Daí o sentimento de frustração, tristeza e fracasso que impregna toda a sua obra, a par da sua grandeza e genialidade literária. Evitemos isso.
ResponderEliminarSem pretensão e admitindo um incerto "envolvimento" emocional com o autor, digo que tenho as minhas dúvidas de que era isso que Pessoa sentisse no fundo - apesar de ser isso assunto inalcançável. O nosso eu nunca é -tudo- isolado dos outros, só é alguma coisa com os outros; o que se vê é uma união de real e ficção. Apesar de não ter sido um exemplo de demonstração externa de amor para com a humanidade, Pessoa demonstrou-o ao seu modo e quem não reencontra amor pela humanidade na sua obra não sei então o que é amar...
ResponderEliminarFugir do que Pessoa foi ou não? É preciso é que não fujamos de nós, e o que isso nos leva a ser, é.
É inútil separar Pessoa da insatisfação que reinava na sua vida, o que seria a sua obra se não fora ela?...
O que mais vale: ser feliz ou ser Pessoa ?
ResponderEliminarE ser Pessoa feliz? Querer ser -como o- Pessoa é um querer legítimo, mas inconsequente...
ResponderEliminarO que é isso da felicidade?
ResponderEliminarPergunta à criança... não?
ResponderEliminarA ideia ou a libertação da ideia de ser ou não ser um eu não leva ninguém a lado nenhum,é preciso juntar-lhe a percepção disso,a experiência.A união das duas é que cria a realidade e essa,se a ideia for a de um eu livre, será libertação.
ResponderEliminarQuanto ao querido amigo Pessoa,sei pouco sobre ele,mas penso que teria uma riquíssima experiência do seu eu interior pelo menos nos rasgos inspirados da escrita.A frustração vem da incapacidade de perpetuar esse estado e a tristeza da falta da partilha disso com outros...(?)
(se calhar isto é só ego)
Obrigado,vou pensar melhor no assunto.
Qualquer existência vem de dois antagónicos, qualquer acontecimento para ter lugar e espaço precisa de duas forças opostas: ser só do ego não é ser, porque nada existe sem o seu complementar. Pode ser é do ego e do não-ego... em relativa proporção.
ResponderEliminar"Bem-aventurado o silêncio das palavras e das coisas"
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