Deus, num ápice
Levanta-se Deus não bebe o leite das galáxias
mas café forte da negra noite circundante
e sumo solar em planetas e laranjas
com ovos estrelados céu translúcido de glória.
No prato cósmico espeta o garfo de Neptuno
e de Vulcano esquenta logo o banho rápido
nebuloso espírito paira prévio sobre as águas
depois do vinho e pão, outros deuses mesmo lume.
Leva a bandeja para a cozinha fica diante
da mesa de ardósia a barca o diário
que regista, ouvindo as notícias da rádio:
“No princípio era o Verbo”, transcreve para o livro do dia antes
de tirar o sobretudo da cruzeta, sair à pressa,
cria Deus o universo num verso.
(2003)
Alexandre Vargas, nascido em 1952, é poeta e tradutor. Publicou, entre outros, os livros Cyborg (1979) e Vento de Pedra (1981). Participou em antologias, cadernos e publicações colectivas como Múltiplos de Três (1997) – com Miguel Torres-Chaves e Rui Caeiro – e PoesiaDigital - 7 Poetas dos Anos Oitenta – com Amadeu Baptista, António Cândido Franco, Fernando Guerreiro, Helga Moreira, José Emílio-Nelson e Luís Adriano Carlos. Traduziu os músicos-poetas Peter Hammil e Patti Smith.
http://alexandrevargas.no.sapo.pt/
ResponderEliminarVargas num ápice Deus cria
ResponderEliminarDuarte assim o revela
grande é a poesia
que a tudo tira dela
Se Deus cria o Uni(Verso) num verso, Alexandre Vargas inventa Deus numa folha do dia de véspera.
ResponderEliminarGrande Alexandre Vargas, que assim nos trazes Deus para o prato e para o dia de hoje. E a boa lembrança que o trouxe para o pé de nós.
Assim a Serpente vai mudando de pele. Que bela está com este poema!
ResponderEliminarObrigada Duarte! Pelo poema e pelo Alexandre Vargas que não conhecia.
ResponderEliminar"Ao Todo-Poderoso Alexandre Vargas e a Duarte Braga, seu profeta"
ResponderEliminarAlexandre Vargas mas não vergado
Sobes por este poema aos céus
Donde p'las alturas inspirado
Revelas o despertar de Deus
Se vês Deus seu Deus és
E Duarte o teu profeta
Traz-te o Verbo na fronte
A ungi-lo ébrio poeta
A vossos pés oferendas depomos
Como ante sacrossanto altar
As Musas são laranjas aos gomos
E tudo é rir, folgar e cantar