sábado, 28 de junho de 2008

poema de alexandre vargas

Deus, num ápice


Levanta-se Deus não bebe o leite das galáxias
mas café forte da negra noite circundante
e sumo solar em planetas e laranjas
com ovos estrelados céu translúcido de glória.

No prato cósmico espeta o garfo de Neptuno
e de Vulcano esquenta logo o banho rápido
nebuloso espírito paira prévio sobre as águas
depois do vinho e pão, outros deuses mesmo lume.

Leva a bandeja para a cozinha fica diante
da mesa de ardósia a barca o diário
que regista, ouvindo as notícias da rádio:

“No princípio era o Verbo”, transcreve para o livro do dia antes
de tirar o sobretudo da cruzeta, sair à pressa,
cria Deus o universo num verso.

(2003)



Alexandre Vargas, nascido em 1952, é poeta e tradutor. Publicou, entre outros, os livros Cyborg (1979) e Vento de Pedra (1981). Participou em antologias, cadernos e publicações colectivas como Múltiplos de Três (1997) – com Miguel Torres-Chaves e Rui Caeiro – e PoesiaDigital - 7 Poetas dos Anos Oitenta – com Amadeu Baptista, António Cândido Franco, Fernando Guerreiro, Helga Moreira, José Emílio-Nelson e Luís Adriano Carlos. Traduziu os músicos-poetas Peter Hammil e Patti Smith.

6 comentários:

  1. Vargas num ápice Deus cria
    Duarte assim o revela
    grande é a poesia
    que a tudo tira dela

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  2. Se Deus cria o Uni(Verso) num verso, Alexandre Vargas inventa Deus numa folha do dia de véspera.

    Grande Alexandre Vargas, que assim nos trazes Deus para o prato e para o dia de hoje. E a boa lembrança que o trouxe para o pé de nós.

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  3. Assim a Serpente vai mudando de pele. Que bela está com este poema!

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  4. Obrigada Duarte! Pelo poema e pelo Alexandre Vargas que não conhecia.

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  5. "Ao Todo-Poderoso Alexandre Vargas e a Duarte Braga, seu profeta"

    Alexandre Vargas mas não vergado
    Sobes por este poema aos céus
    Donde p'las alturas inspirado
    Revelas o despertar de Deus

    Se vês Deus seu Deus és
    E Duarte o teu profeta
    Traz-te o Verbo na fronte
    A ungi-lo ébrio poeta

    A vossos pés oferendas depomos
    Como ante sacrossanto altar
    As Musas são laranjas aos gomos
    E tudo é rir, folgar e cantar

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