Sou a mais maldita e sagrada das coisas,
santa e puta, cega e louca.
Amo todos os homens:
seus falos inundam-me a boca.
Mulheres também consagro
no vórtice da língua em espiral:
mães, filhas, anciãs,
a todas devota abro
num sacro furor divinal.
Mais que tudo amo Deus,
de meus filhos o derradeiro:
dele o mundo gero
e a ilusão o faz primeiro.
Sempre a todos e tudo toda me dou.
Transmudo infernos em jardins
num baile de ancas voluptuosas,
seios agudos, grutas sem confins.
Quem em mim entra jamais me esquece,
íntima estranheza o abraça:
não mais algo ou alguém se conhece,
animal, homem, deus trespassa.
Quando ouvires do fundo das coisas
um choro subir como um riso infinito,
prepara-te, ó bem-aventurado,
pois por mim escolhido és
para súbito romper o destino
num pasmo, numa fúria, num grito !
Que belo poema, Antiquíssima!
ResponderEliminarGosto de ti ...
"Vem, e embala-nos,
Vem e afaga-nos.
Beija-nos silenciosamente na fronte,
Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma.
E um vago soluço partindo melodiosamente
Do antiquíssimo de nós
Onde têm raiz todas essas árvores de maravilha
Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos
Porque os sabemos fora de relação com o que há na vida.
Vem soleníssima,
Soleníssima e cheia
De uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena,
E todos os gestos não saem do nosso corpo
E só alcançamos onde o nosso braço chega,
E só vemos até onde chega o nosso olhar.
Vem, dolorosa,
Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos,
Turris-Eburnea das Tristezas dos Desprezados,
Mão fresca sobre a testa em febre dos humildes,
Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados.
Vem, lá do fundo
Do horizonte lívido,
Vem e arranca-me
Do solo de angústia e de inutilidade
Onde vicejo.
Apanha-me do meu solo, malmequer esquecido,
Folha a folha lê em mim não sei que sina
E desfolha-me para teu agrado,
Para teu agrado silencioso e fresco."
A.Campos
não há nada como soltar igualmente aquilo que é igual - pertencendo ao mesmo mundo. ;) (tenho isso a reaprender...)
ResponderEliminarDe que falas, Anita, perante esta coisa Antiquíssima que sobre nós se abate !?...
ResponderEliminarfalo de religar o que é ligado...
ResponderEliminarA teus pés me inclino, ó Mãe-Amante, que vens da profunda e abissal Terra que eternamente há aquém-além do mais etéreo e luminoso céu !
ResponderEliminarAntiquíssima te dispas
ResponderEliminarde toda a cortesia
para que a manhã te unja
de folguedo e folia !
isto é que é falar de coisas sérias... aliás é que é falar seriamente a brincar, amar falando, falar amando.
ResponderEliminaró fiel, de súbito te tornas Deus... em Verbo.
ResponderEliminar(e falar de amor não é falar sobre uma parte... ou do bem... o homem é que se engana... é falar do todo e do nada, da luz e do escuro... é superar qualquer limite espacial e temporal. Só falando dele, por ele, falamos de alguma coisa que exista. Falar separado dele é falar a partir da nossa invenção, pois ao que não ama, ao que não une os dois lados da vida, só resta isso... inventar o que nunca chega a existir.)
ResponderEliminarOnde te encontro !?... Ganas de te haver.
ResponderEliminarAntiquíssima,
ResponderEliminarGrande, grande poema!
E que sugestivo o vocábulo escolhido para apareceres aqui!
Recuperar este antiquíssimo de nós é fazer explodir o mundo falso.
ResponderEliminar