Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
"Quis o Senhor que visse então algumas vezes esta visão. Via um anjo ao pé de mim, para o lado esquerdo, em forma corporal, o que não costumo ver senão por maravilha. [...] não era grande, mas pequeno, formoso em extremo, o rosto tão incendiado que parecia dos anjos mais sublimes que parecem que todos se abrasam. Devem ser os que chamam Querubins, que os nomes não mos dizem, mas bem vejo que no Céu há tanta diferença duns anjos a outros e destes outros a outros, que não o saberia dizer. Via-lhe nas mãos um dardo de oiro comprido e no fim da ponta de ferro me parecia que tinha um pouco de fogo. Parecia meter-me este pelo coração algumas vezes e que me chegava às entranhas. Ao tirá-lo dir-se-ia que as levava consigo e me deixava toda abrasada em grande amor de Deus. Era tão intensa a dor que me fazia dar aqueles queixumes e tão excessiva a suavidade que me causava esta grandíssima dor, que não se pode desejar que se tire, nem a alma se contenta com menos de que com Deus. Não é dor corporal senão espiritual, embora o corpo não deixe de ter a sua parte e até muita. É um requebro tão suave que têm entre si a alma e Deus, que suplico a Sua bondade o dê a gostar a quem pensar que minto" - Santa Teresa de Ávila, "Livro da Vida", XXIX, 13.
Muito obrigada Ana e Paulo, por estas visões, que vi e reli. A estátua de Santa Teresa marcou-me a tarde.
Estendi-me e adormeci. “Em aquelas tardes eu também adormecia”, não me sai do espírito esta entrada n’o Retrato, do José Lozano. É de uma quietude dourada. Adormeci, estava eu a dizer, e sonhava com o sentimento da leitura da visão de Santa Teresa. Não sonhava a visão, sonhava o sentimento da visão. Ainda no sonho, a dada altura eu estava acordada a observar-me a sonhar, mas agora com a compreensão da visão, e a sentir, por isso, uma tristeza imensa pela alegria que não tem voz, e é corpo, palpável, na fugacidade dos momentos realizados, pela despedida da alma a cada instante, vibrante.
E despertei quando vi que estava a dar-me conta da concomitância do sonho sonhado e observado a sonhar, momento esse que na passagem me deixou um rasto de indisposição.
Já ontem, enquanto conduzia por uma estrada ladeada de árvores frondosas, parecia estar a entrar numa floresta que me acolhia mas em momento algum se vislumbrou o aconchego da chegada. O que me extasiava também me entristeceu. Não é uma tristeza de mágoa. É uma tristeza de Paixão. É uma tristeza d’Amor.
Lindo Ana. Muito belo .
ResponderEliminarBeijinho
Madalena
"Quis o Senhor que visse então algumas vezes esta visão. Via um anjo ao pé de mim, para o lado esquerdo, em forma corporal, o que não costumo ver senão por maravilha. [...] não era grande, mas pequeno, formoso em extremo, o rosto tão incendiado que parecia dos anjos mais sublimes que parecem que todos se abrasam. Devem ser os que chamam Querubins, que os nomes não mos dizem, mas bem vejo que no Céu há tanta diferença duns anjos a outros e destes outros a outros, que não o saberia dizer. Via-lhe nas mãos um dardo de oiro comprido e no fim da ponta de ferro me parecia que tinha um pouco de fogo. Parecia meter-me este pelo coração algumas vezes e que me chegava às entranhas. Ao tirá-lo dir-se-ia que as levava consigo e me deixava toda abrasada em grande amor de Deus. Era tão intensa a dor que me fazia dar aqueles queixumes e tão excessiva a suavidade que me causava esta grandíssima dor, que não se pode desejar que se tire, nem a alma se contenta com menos de que com Deus. Não é dor corporal senão espiritual, embora o corpo não deixe de ter a sua parte e até muita. É um requebro tão suave que têm entre si a alma e Deus, que suplico a Sua bondade o dê a gostar a quem pensar que minto" - Santa Teresa de Ávila, "Livro da Vida", XXIX, 13.
ResponderEliminar:)
ResponderEliminarMuito obrigada Ana e Paulo, por estas visões, que vi e reli. A estátua de Santa Teresa marcou-me a tarde.
ResponderEliminarEstendi-me e adormeci. “Em aquelas tardes eu também adormecia”, não me sai do espírito esta entrada n’o Retrato, do José Lozano. É de uma quietude dourada.
Adormeci, estava eu a dizer, e sonhava com o sentimento da leitura da visão de Santa Teresa. Não sonhava a visão, sonhava o sentimento da visão. Ainda no sonho, a dada altura eu estava acordada a observar-me a sonhar, mas agora com a compreensão da visão, e a sentir, por isso, uma tristeza imensa pela alegria que não tem voz, e é corpo, palpável, na fugacidade dos momentos realizados, pela despedida da alma a cada instante, vibrante.
E despertei quando vi que estava a dar-me conta da concomitância do sonho sonhado e observado a sonhar, momento esse que na passagem me deixou um rasto de indisposição.
Já ontem, enquanto conduzia por uma estrada ladeada de árvores frondosas, parecia estar a entrar numa floresta que me acolhia mas em momento algum se vislumbrou o aconchego da chegada. O que me extasiava também me entristeceu. Não é uma tristeza de mágoa. É uma tristeza de Paixão. É uma tristeza d’Amor.
Bela e divina tristeza, a da Paixão, a do Amor !
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