Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
sábado, 5 de abril de 2008
Será o deixar de meditar para poder suportar certas "realidades" uma forma socialmente correcta de alcoolismo?
Uma coisa é certa: Por muito que nos convençamos de que nada existe, e por muito que experienciemos esse nada durante a meditação ou noutros estados alterados da consciência, continuamos a ter contas para pagar, a nossa própria boca e a dos nossos próximos para alimentar, responsabilidades profissionais, sociais, etc.
Vários textos religiosos e místicos falam do "estado de arco iris" da transmutação da matéria através do culminar da ascensão da Kundalini. Supostamente foi isso que Cristo experienciou na sua Transfiguração, ou o Gautama Buda no momento da sua Iluminação. Há indícios de que S. Francisco de Assis também viveu o mesmo.
Será que isso significa que só esses raros seres iluminados escapam à ilusão de experimentar a existância de algo e que o resto de nós tem de ainda viver várias vidas na tormenta de saber que nada e existe e mesmo assim experimentar tudo como real?
Como é que deixamos de sentir e de ter consciência? Quando é que milagrosamente entramos no "estado de arco-iris? Ao fim de várias vidas sob um regime ascético?
Na minha perspectiva, que é a da vacuidade, equidistante do essencialismo e do niilismo, o facto de as coisas não possuírem realidade intrínseca, em si e por si, não quer dizer que não se manifestem deste ou daquele modo, em função da nossa percepção. A sua realidade é relativa, não absoluta. O facto, por exemplo, de ter de comer, se quiser sobreviver, não quer dizer que o alimento e o corpo existam em si e por si, como entidades independentes da minha percepção e dos restantes fenómenos do mundo. É por este motivo, por nada existir em si e por si, e ser apenas correlato de um estado de percepção, que uma modificação radical da consciência pode transfigurar por completo a nossa percepção do mundo e da realidade. Isso nada tem a ver com deixar de sentir e de ter consciência: pelo contrário, creio que se trata de levar o sentir e o estar consciente às suas supremas possibilidades. Também não creio que seja milagroso, mas o fruto de um caminho que será mais ou menos longo segundo o nosso investimento na purificação ética e na prática espiritual (meditação/treino da mente, na minha via), para chegarmos a fruir plenamente a luz que a cada instante já somos. Esses caminhos estão presentes nas várias tradições veiculadas por mestres genuínos, cabendo-nos encontrar aquela e aquele que forem mais adequados ao nosso tipo de tendências, inclinações e capacidades. Só depende de nós que os seres iluminados não sejam tão raros: a questão, falo por mim, é que raros são os homens que se disponibilizam plenamente para uma busca espiritual. A maioria prefere esbanjar a vida atrás de outras finalidades. Para esses a ilusão e o tormento, por si mesmos produzidos, continuam indefinidamente.
Forma socialmente correcta de alcoolismo é pensar que há realidade...
ResponderEliminarÀ janela do não-horizonte
ResponderEliminarnão vejo o teu surgir
em mim transparente
Uma coisa é certa: Por muito que nos convençamos de que nada existe, e por muito que experienciemos esse nada durante a meditação ou noutros estados alterados da consciência, continuamos a ter contas para pagar, a nossa própria boca e a dos nossos próximos para alimentar, responsabilidades profissionais, sociais, etc.
ResponderEliminarVários textos religiosos e místicos falam do "estado de arco iris" da transmutação da matéria através do culminar da ascensão da Kundalini. Supostamente foi isso que Cristo experienciou na sua Transfiguração, ou o Gautama Buda no momento da sua Iluminação. Há indícios de que S. Francisco de Assis também viveu o mesmo.
Será que isso significa que só esses raros seres iluminados escapam à ilusão de experimentar a existância de algo e que o resto de nós tem de ainda viver várias vidas na tormenta de saber que nada e existe e mesmo assim experimentar tudo como real?
Como é que deixamos de sentir e de ter consciência? Quando é que milagrosamente entramos no "estado de arco-iris? Ao fim de várias vidas sob um regime ascético?
Na minha perspectiva, que é a da vacuidade, equidistante do essencialismo e do niilismo, o facto de as coisas não possuírem realidade intrínseca, em si e por si, não quer dizer que não se manifestem deste ou daquele modo, em função da nossa percepção. A sua realidade é relativa, não absoluta. O facto, por exemplo, de ter de comer, se quiser sobreviver, não quer dizer que o alimento e o corpo existam em si e por si, como entidades independentes da minha percepção e dos restantes fenómenos do mundo.
ResponderEliminarÉ por este motivo, por nada existir em si e por si, e ser apenas correlato de um estado de percepção, que uma modificação radical da consciência pode transfigurar por completo a nossa percepção do mundo e da realidade.
Isso nada tem a ver com deixar de sentir e de ter consciência: pelo contrário, creio que se trata de levar o sentir e o estar consciente às suas supremas possibilidades. Também não creio que seja milagroso, mas o fruto de um caminho que será mais ou menos longo segundo o nosso investimento na purificação ética e na prática espiritual (meditação/treino da mente, na minha via), para chegarmos a fruir plenamente a luz que a cada instante já somos. Esses caminhos estão presentes nas várias tradições veiculadas por mestres genuínos, cabendo-nos encontrar aquela e aquele que forem mais adequados ao nosso tipo de tendências, inclinações e capacidades. Só depende de nós que os seres iluminados não sejam tão raros: a questão, falo por mim, é que raros são os homens que se disponibilizam plenamente para uma busca espiritual. A maioria prefere esbanjar a vida atrás de outras finalidades. Para esses a ilusão e o tormento, por si mesmos produzidos, continuam indefinidamente.