sábado, 5 de abril de 2008

Será o deixar de meditar para poder suportar certas "realidades" uma forma socialmente correcta de alcoolismo?

4 comentários:

  1. Forma socialmente correcta de alcoolismo é pensar que há realidade...

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  2. À janela do não-horizonte
    não vejo o teu surgir
    em mim transparente

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  3. Uma coisa é certa: Por muito que nos convençamos de que nada existe, e por muito que experienciemos esse nada durante a meditação ou noutros estados alterados da consciência, continuamos a ter contas para pagar, a nossa própria boca e a dos nossos próximos para alimentar, responsabilidades profissionais, sociais, etc.

    Vários textos religiosos e místicos falam do "estado de arco iris" da transmutação da matéria através do culminar da ascensão da Kundalini. Supostamente foi isso que Cristo experienciou na sua Transfiguração, ou o Gautama Buda no momento da sua Iluminação. Há indícios de que S. Francisco de Assis também viveu o mesmo.

    Será que isso significa que só esses raros seres iluminados escapam à ilusão de experimentar a existância de algo e que o resto de nós tem de ainda viver várias vidas na tormenta de saber que nada e existe e mesmo assim experimentar tudo como real?

    Como é que deixamos de sentir e de ter consciência? Quando é que milagrosamente entramos no "estado de arco-iris? Ao fim de várias vidas sob um regime ascético?

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  4. Na minha perspectiva, que é a da vacuidade, equidistante do essencialismo e do niilismo, o facto de as coisas não possuírem realidade intrínseca, em si e por si, não quer dizer que não se manifestem deste ou daquele modo, em função da nossa percepção. A sua realidade é relativa, não absoluta. O facto, por exemplo, de ter de comer, se quiser sobreviver, não quer dizer que o alimento e o corpo existam em si e por si, como entidades independentes da minha percepção e dos restantes fenómenos do mundo.
    É por este motivo, por nada existir em si e por si, e ser apenas correlato de um estado de percepção, que uma modificação radical da consciência pode transfigurar por completo a nossa percepção do mundo e da realidade.
    Isso nada tem a ver com deixar de sentir e de ter consciência: pelo contrário, creio que se trata de levar o sentir e o estar consciente às suas supremas possibilidades. Também não creio que seja milagroso, mas o fruto de um caminho que será mais ou menos longo segundo o nosso investimento na purificação ética e na prática espiritual (meditação/treino da mente, na minha via), para chegarmos a fruir plenamente a luz que a cada instante já somos. Esses caminhos estão presentes nas várias tradições veiculadas por mestres genuínos, cabendo-nos encontrar aquela e aquele que forem mais adequados ao nosso tipo de tendências, inclinações e capacidades. Só depende de nós que os seres iluminados não sejam tão raros: a questão, falo por mim, é que raros são os homens que se disponibilizam plenamente para uma busca espiritual. A maioria prefere esbanjar a vida atrás de outras finalidades. Para esses a ilusão e o tormento, por si mesmos produzidos, continuam indefinidamente.

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