domingo, 9 de março de 2008

Orgia: via para a sabedoria ?

No Satiricon, de Caius Petronius Arbiter, escrito cerca de 60 d.C., narra-se um banquete, oferecido por Trimalquião, que termina em orgia em que os deleites venusiano-báquicos dão lugar a ditos filosófico-melancólicos: "Dies nihil est (O dia nada é)"; "Dum versas te, nox fit" (Mal nos voltamos, faz-se noite); "Voamos menos do que as moscas (muscae)"; "Não somos mais do que uma bolha de ar (bullae)", diz um dos participantes, suspirando.
Aqui se suspira algo de muito afim ao que atravessa tantas páginas literárias e sapienciais. Citemos, ao acaso:

“Que é a vida ? Um frenesim. / Que é a vida ? Uma ilusão, / Uma sombra, uma ficção, / e o maior bem é pequeno, / que toda a vida é sonho, / e os sonhos sonhos são” - Calderón de la Barca, La Vida es Sueño, II, XIX .
“Tu que existes exposto ao que os dias te trazem, o que é ser alguém ? O que é não ser ninguém ? O humano é o sonho de uma sombra (skiâs ónar anthrôpos)” - Píndaro, Odes Píticas, VIII.
“A vida não é senão uma sombra, / um pobre actor que se pavoneia e agita o seu momento sobre o palco / e depois não mais é ouvido: é um conto / narrado por um idiota, cheio de som e fúria, / que nada significa” - Shakespeare, Macbeth, Acto V, Cena 5.
“Vaidade das vaidades, tudo é vaidade (hebel, vapor, sopro)”; “tudo é vaidade e correr atrás do vento !” - Eclesiastes, 1, 2 e 14.

Será a orgia uma via para a sabedoria ? Porventura. Depende. Mas, para quem o for, ao explodir como bola de sabão, não deixe de o oferecer para que todos assim também se libertem.

14 comentários:

  1. Só desta vez, só uma vez, ainda,
    Colhe essas rosas de saudade.
    Coloca na jarra os caules
    de desiguais tamanhos
    E dispõe, assim, de mim, em memória.

    Uma folha aponta ao norte,
    A mais pequena e frágil;
    Para o sul vira a rosa vermelha,
    A de sangue e de vida
    A outra, branca e triste,
    Atira-a para o mar
    Onde Ofélia
    Ainda deve andar perdida.

    Que dessas rosas, tantas,
    Que a jarra contém
    Possa ficar a mais viçosa,
    A rosa do amor,
    A que nunca morre
    E só em saudade se colhe.

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  2. Belo poema, obscuro, ele mesmo uma orgia de desejo pelo infinito, pelo que nunca acaba porque nunca comeca.

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  3. A rosa do A-mor, victoria sobre a morte, afirmacao da vida.

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  4. Obrigado, Ana Margarida,
    Compreendeste muito bem a raiz originária desse mesmo amor.

    Um soriso:)
    Muita ternura
    E serenidade

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  5. E a orgia, que dizem dela os amantes das rosas... e das palavras ?

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  6. "Orgia" era o nome dado aos Mistérios gregos. No momento culminante dos Mistérios de Elêusis, na "epopteia" (a "visão omniabrangente"), mostravam-se símbolos dos órgãos sexuais e há quem pense que um sacerdote se unia sexualmente com uma sacerdotisa. Boa parte da linguagem religiosa do Ocidente vem do vocabulário sexual, como o estudou Odon Vallet. Por exemplo, "venerável" e "venerar" vem de "venéreo" e de "Vénus". Porquê ?

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  7. Pois se venerou, vai ter de rezar...

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  8. Não sei Casto Severo, mas explica lá... tu que percebes destas coisas

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  9. É certo que os "amantes das rosas" não querem saber de ti... mas há outras rosas que te esperam...

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  10. Que esperam a quem e onde ?

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  11. Esperam por Casto Severo, aqui mesmo na Serpente ! Que nos fale dos "Mistérios gregos", de Vénus... da generosidade a da compaixão por todos (todos os seres, certo ?), no momento da explosão... "para que assim também se libertem" ...

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  12. também estou interessada nestas questões...

    P.S. Se alguém souber de Casto (Severo ou Sorridente) pedi-lhe que nos esclareça.

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  13. Tanta gente interessada na "via para a sabedoria"! Porque será?
    Óptimo. Hei-de passar por aqui outro dia. Adeus.

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  14. Quem és tu Passageiro ?

    Não ! Não me digas que és Ninguém !

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