quarta-feira, 26 de março de 2008

Na mística viagem da vida

Na mística viagem da vida
O farol assinala a lonjura
Que parta e se não sinta perdida
Cumprindo o que sempre perdura.

O caminho é de névoa e de treva
No escuro há-de parar
Que se livre de tudo o que leva
E recorde do farol o brilhar.

O caminho então transmutar-se-á
E verá por breves momentos
Que a chave do que há e não há
É chave que a livra dos tempos.

Na mística viagem da vida
Encontrará por fim o esplendor
Que é derradeira subida
Sem medo, dúvida ou dor.

1 comentário:

  1. Caminho

    II

    Encontraste-me um dia no caminho
    Em procura de quê, nem eu o sei.
    - Bom dia, companheiro - te saudei,
    Que a jornada é maior indo sozinho.

    É longe, é muito longe, há muito espinho!
    Paraste a repousar, eu descansei...
    Na venda em que poisaste, onde poisei,
    Bebemos cada um do mesmo vinho.

    É no monte escabroso, solitário.
    Corta os pés como a rocha dum calvário,
    E queima como a areia!... Foi no entanto

    Que chorámos a dor de cada um...
    E o vinho em que choraste era comum:
    Tivemos que beber do mesmo pranto.

    Camilo Pessanha

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