segunda-feira, 10 de março de 2008

Ó Mar (Fausto)

Ó Mar Leva tudo o que a vida me deu Tudo aquilo que o tempo esqueceu Leva que eu vou voltar Ó Mar Como quem vem E regressa ao fundo Do ventre da mãe

Tão indiferente Consumiste na força bravia Todo o encanto das coisas que havia E lançaste na praia ardente Náuseas e pragas Despojos de almas As carnes em chagas As mágoas Condenaste-me à noite De sangue e fogo E vento e sombras Ao teu quebranto Mas deixa-me ao menos O corpo despido Em descanso


Ó Mar Lago imenso de oceanos salgados Onde os rios também naufragados Vão por fim descansar Ó Mar Tecem murmúrios Sensuais Como os amantes Depois Repousam em paz
No teu ciúme Ó sereia do braço da ira Seduziste na tua mentira E arrastaste contigo o mundo Todos os sonhos Os meus desejos Os suaves Outonos E o Tejo São saudades que eu tenho Leve memória Do que já fui Que já não sou Mas se tudo levaste Leva enfim esta dor Que ficou

2 comentários:

  1. De toda a obra de Fausto esta é a que a pessoa que sou mais ama.
    O humano que ainda há em mim, ouve-a, agora... e o que a Ana é, de humano, para além dos nomes, dos jogos e da nossa vontade de transcendência ouve as palavras e amúsica sem se deixar prender, apenas paricipando no som profundo de todoa alma portuguesa a chamar pelo mar... Ó Mar... Ó Mãe... ó Morte... Uma litania, um faodo de embalar...semelhante em ecos à Noite de Pessoa... esse rosto de ninguém... o mesmo som fundo de Pascoaes... "Senhora da Noite"... Manuel Alegre em alguns momentos...
    A voz humana de Portugal que era e ficou, mesmo depois de adormecidas as índias da alma...Esse mesmo Mar salgado que cai nos meus olhos, por detrás de todas as máscaras... inundando de uma nostalgia e dor rediviva e benéfica. Ó pátria... Ó ilhas distantes e afortunadas ... Ó antiga raiz onde me fundo, matriz daquilo que sou, para além dos astros e das falas...

    O murmúrio fundo do mar/essevelho canto duma igreja sem tectos /universal e livre...

    Que bela maneira de limpar os restos sonho que ainda moram na claridade baça do olhar...

    O ar segredado/pela boca dos búzios/ anoitece no mar/Belo e grande/como a humanidade.

    Para ouvir as vezes que for necessário, para além daquelas que já ouvi...

    Obrigado, Ana Margarida

    Saudades regeneradoras...

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  2. Eu e que agradeco, obscuro.

    Sabes, a America, nas suas contradicoes e em todo o extase e toda a dor que me faz viver, tem sido a minha maior mestra.

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