Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
A mente?
Eu já (o "já" é para não levar demasiado a sério) não me questiono sobre o que é a mente. Não que não considere que essa questão não deva ser colocada. Muito pelo contrário.
Mas trata-se duma questão na qual nos arriscamos a gesticulá-la no rebordo da experiência entificadora (e identificadora) da linguagem, aí mesmo onde o solo em que fundamos as razões que nos dão a consciência de sermos animais adeptos do Lógos, nos foge das plantas dos pés, plantas sem raízes, por isso utópicas e sempre a gerir desequilíbrios... Ficamos assim suspensos do abismo cuja boca calámos, primeiro com a conceptualidade Grega (para não falar do fonocentrismo adâmico, a autêntica expulsão do paraíso é o chamar nomes às coisas e aos seres vivos, nomes que se lhes colam e não os deixam surpreender-nos com a efectiva possibilidade de serem outros e vários), depois as geografias conceptuais que fecharam o Ocidente à errância e à sabedoria de querer estar sempre a principiar, de querer ser sempre principiante, ou seja, Príncipe do impossível, menino (ou menina) eterno, ao beber-se no tempo como uma emanação serpentina do a-eterno que vibra no coração mesmo da eternidade, coração evanescente e nunca existido, sempre ainda amante, na perdição de se dar e se desapossar dum si ou dum para ou dum porquê...
A mente será tudo, o que diz, o que se diz, o que faz, o que se faz, o que ama, o que se ama, o que é, o que não é, mas não é nada disto, ao mesmo tempo que não é um algo, não sendo palpável, é o que investe a palpitação do palpar, a sensação do sentir, a cognição do conhecer, a intelecção do inteligir e é a ilusão, essa carapaça diáfana que serve de invólucro à "luz" da "Iluminação", que tem que ser rasgada, aceitando a cegueira e a ignorância na escuridade de não ser um Isso (um Id) ou um Ego, uma coisa que pensa.
Um exercíco que faço muitas vezes é assumir todos os actos dos humanos (e dos seres sencientes e, também, de todas as coisas) como actos de um mim absoluto, ou seja, na aparência rasgado e disperso, feito em pedaços e sofrendo com isso. Assim a inveja, que é não me ver no outro, ou não ver o melhor de mim no outro, torna-se impossível.
O que é a mente?
Só tem sentido questioná-lo (tem "o" sentido, nela reside a propriedade do sentido) se nos atirarmos, a nós e aos mundos de que nos revestimos, de chofre, para o centro do turbilhão desta demanda abissal. Não havendo propriamente "regresso", desta viagem já não se sairá e se fosse possível sair dela, já não seríamos "nós", a egoticidade auto-instituída na separatividade, a fazê-lo.
Creio que é aqui que reside o "treino de morrer e estar morto" do Fédon. Embora o Sócrates-moscardo já não tivesse palavras para dizê-lo em toda a sua profundidade. A Cicuta falou nele com a eloquência da mais alta sofística.
E nunca saí "daqui", nem sairei. Até sempre!
Parabéns pelo rasgo da nossa dormência ! É claro que a questão "O que é a mente ?" é uma questão viciada. Pressupõe que a mente é e é algo, pressupõe que há mente. Desabemos de pressupostos.
ResponderEliminarObrigada Paulo por estares aqui.
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