segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Melancolia e Saudade



Saudade: desgosto da vida finita e infinita.

A filosofia nasce da morte, do arrefecimento ou da reforma do espanto e vive, na melhor das hipóteses, da saudade de nele morrer e ressuscitar.

Pungente melancolia, divina tristeza, saudade mais que divina.

Saudade: evanesser

O tédio de ser. Não só o mesmo, mas também outro. O tédio do idêntico e do diferente. Saudade.

Saudade: alucinada ânsia de cura da alucinação de haver realidade.

Afundamento na distância: saudade.

Na saudade estamos sempre antes de haver partida e regresso. Isso é a mais radical partida e regresso. Irreversível.

Saudade: espanto de antes de haver de quê.

Saudade: sentimento de ser anterior a si e, logo, a tudo.

Nem Deus nem nada pode matar a saudade. Apenas ela própria.

Saudade-Soledade: comungar o inacessível deserto do Infinito anterior a tudo.

Somos tudo, anteriores a sê-lo: é esta saudade, Amor, que jamais nos larga e nunca permite que nos encontremos. Se o pudéssemos, o mundo seria salvo.

Saudade: rosto de antes de nascermos a tremeluzir na melancólica máscara das nossas feições.

Nunca verdadeiramente nascemos nem morremos: assombrados pairamos no limbo da saudade.

Saudade: sempiterno espasmo de um parto e uma morte sempre iniciados e impossíveis.

10 comentários:

  1. implicito está a saudade como verdadeira saúde, como salvação...

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  2. Não quero a eternidade,/Ó deuses/Tenho a ausência do tempo/A flor da saudade/E a dor de tê-la/É bálsamo bastante.

    Melhor do que isto tudo/Que nem sei o que é/É tudo estar em tudo/E nada ser o que é.

    Da flor o cheiro/Leva a Primavera ao cimo/no Outono vale/O manto da saudade é a sua capa.//Ó noite derramada no verso!Ó palida raiz do verbo/Que me funde à noite mártir/Onde me falto/E onde a tristeza é triste/Tristemente.

    Um abraço forte.

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  3. O meu amor amanhece/Por dentro das letras/Com que escrevo o nome: Saudade/Um velo de oiro/Que acende ainda/As cordas do coração.

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  4. Poderão estes meus pares anónimos identificar estes poemas ? Ou são vossos ?

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  5. Nem tudo aqui é visível e explicativo e não queiras que seja Anónimo, que tanto precisas saber sobre o autor! É um jogo de mascaras e sedução ainda tímida onde todos mudam de nome, o apagam e velam o rosto para mais facilmente poderem ser "tudo de todas as maneiras". Este é talvez, o potencial criativo de coabitar um espaço virtual onde todos podemos escapar para a liberdade! Vem dançar comigo esta noite, com ela e com a outra. Ainda é cedo para te mostrar o rosto, a menos que queiras casar! Por enquanto sou toda poesia, literatura e mulher! No início a Serpente diz:

    " Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas […] sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência…"

    Talvez possamos esquecer por vezes o autor, o protocolo e a ortografia …

    Já agora, como é que se dança a melancolia? Como é que achas que podemos fazer amor sem o corpo visto que és comprometido e eu, louca por ti!

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  6. Tenho o hábito de dormir no ninho da serpente...

    Nada sei da alegria ou da dor/ Escrevo versos/para entreter os dias/Junto palavras às ideias/
    E sofro o vazio de mim/Como um mágico goza/A ilusão do mundo.

    A teus pés me desvelo e me revelo
    Anónima presença das horas que não ferem, com uma frase me desfloraste a alma, «Como é que se dança a melancolia?»

    Sempre obscuro

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  7. Estás assim tão nu!? Sem nada saber da alegria e da dor e a escrever versos para entreter os dias? Pensei que te pudesse despir da dor e ter o puro gozo de encontra a exuberante alegria. Mas assim... estás muito à frente! Não vai dar para viver ilusões, as migalhas do estado iluminado da alma!

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  8. Que vejo !? Adão e Eva depois da maçã ?...

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  9. Cara Serpente,

    Não, não mais,
    o cego e vil desejo
    Me tentará a alma
    Casta!
    O que vês são palavras
    No meu corpo tatuado.

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