Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
A última religião
Existe o célebro ditado que diz que nada se conquista sem esforço. E isto, supostamente, aplica-se a tudo. A religião que pretendo fundar, como outro qualquer o poderia fazer, é uma religião do não-esforço. Isto quer dizer que nada nesta religião se atinge com o esforço. Se falarmos em termos de iluminações, diríamos que, nesta religião puramente esteticamente contemplativa, a iluminação atinge-se sem esforço algum e de rompante. O que é esta iluminação? É algo que não pode ser dito por palavras, mas apenas sentido, por cada um que se ilumine. Poderemos dizer que, nesta religião, há esforço, por exemplo, na preparação do ambiente para o ritual, mas a preparação do ambiente pode não funcionar como caminho para a iluminação, porque, na verdade, não há caminho, mas apenas iluminação e obscuridade. Não é Budismo, porque não parte das quatro nobres verdades, nem aceita o óctuplo caminho. Tem, com este, em comum o facto de, nela, não importar a afirmação ou negação de divindades, ou mesmo qualquer afirmação ou negação. Não é nenhuma outra religião conhecida, teísta, porque, simplesmente, não fala disso, põe-no entre parênteses, porque o importante, nesta forma de religiosidade, é a religação com o que é consciencializado, e, por universalização, com o Universo. Não é, de todo, uma religião discursiva, como tenho vindo a dizer, mas estritamente contemplativa e na qual a iluminação surge de rompante, porquanto o belo aparece e dá lugar ao sublime, ou aparece este mesmo, por si. Deste modo, é uma religião sem rituais, mas em relação à qual poderíamos dizer que há uma vontade de iluminação, sabendo-se que, esta, surge da contemplação estética do belo ou do sublime. Em desacordo com a vasta maioria de religiões, não é uma religião de pendor ético ou eticizante, normativa, mas, simplesmente, estético. Aceita o ser humano como capaz do melhor e do pior, e a iluminação como estando ao alcance de qualquer um. Provavelmente, esta iluminação não é a iluminação budista ou hinduísta, que desconheço, mas uma iluminação muito característica, que não provém da oração nem da meditação, mas da pura concentração num fluir sensorial que aparece como belo ou sublime. Penso que será a última de todas as religiões, na medida em que propõe, simplesmente, uma prática pura de religação do ser consciente com o ambiente, no fundo o que é consciência (o céu, o mar, os prédios, as pedras, os outros... tudo o que possa ser consciência), o que é a essência da religião não alienante, no sentido em que não procura uma fuga ao que é conhecível - o mundo -, mas a integração ou reintegração do ser consciente no mundo.
Ó pá, estás a piorar ! Agora passas do discurso idílico e soporífero para te apresentares como fundador da última religião !... Trazes a verdade última e superas tudo o que nem sequer compreendeste !... É pá, mas se essa é a religião do não-esforço, onde nada se atinge com esforço, porque é que tem de ser fundada !?... Vamos mas é para casa dormir ou ficar apatetados de tanta religação com o mundo !...
ResponderEliminarPorque é que o "Lord of Erewhon" não dá a sua opinião em vez de só dar dentadas no gasganete dos outros?
ResponderEliminarCom que então temos Avatar, hem? Nós pra aqui todos à cabeçada há não sei quantos milénios, e afinal tá tudo resolvido num só instante, é só cruzar os braços, que maravilha! Olha lá, explica-nos bem como é que funciona essa tua religião, porque o que me parece é que andas a descobrir pólvora; não é que haja algum problema nisso, mas muito antes de ti já muita gente chegou aí, o que andas a descobrir não é nenhuma novidade... O que mais há é pessoal com a melhor das intenções misturada com uma boa dose de ilusão. Esse Vishnu não anda um bocado apaixonado de mais?
ResponderEliminarIntempestivo: apenas me apresento como fundador porque é a minha religião; se quiseres aderir, fixe! Mais do que ser fundada, tem de ser dita, quem sabe se até mesmo para combater as outras religiões. Mas deixa lá, são coisas minhas, parvoíces, não é? Paz.
ResponderEliminarAnónimo: o funcionamento é simples: tens uma visão, por mais simples ou aparentemente inadequada que seja, e apaixonas-te pelo mundo. A religação é essa: apaixonamento pelo mundo e, quem sabe, pela origem. Apaixonamento pelo mundo e pelo que eventualmente está para lá do mundo. Não estou, como sabes, a descobrir a pólvora, mas, apenas, a juntar religião e fruição estética e tentando escrever algo que seja religião, mas com o apelo à fruição estética e sem o carácter eticamente normativo da maioria das religiões (hoje não comes, amanhã não bebes, tens de ser puro, etc. etc.)
ResponderEliminarUm abraço.
Se te apaixonas pelo mundo, significa que estás, pura e simplesmente, iludido! Onde há paixão só pode haver ilusão e onde há ilusão só pode haver cabeçada... como se está mesmo a ver neste caso, não é verdade? Estás a descobrir pólvora e ainda por cima de muito má qualidade! Religião sem ética!?!?!? Sabes lá do que estás a falar, toma juízo!!
ResponderEliminarAbraço
Por que é que onde há paixão só pode haver ilusão? Não pretendo estar a descobrir senão o que vou pensando.
ResponderEliminarUm abraço.