quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

IV

E apareces: o sangue flamejando no instante do precipício,
uma morte paciente entretida a desordem e a caos.
Trazes os martelos de ouro com que forjas,
na pedra que atravessou toda a idade,
os símbolos da beleza e do terror.
Trazes a dança imóvel e o silêncio articulado da tua voz.
Eu recebo-te,
abro caminhos de sangue por sobre a pedra que ofereces,
trabalho nela com os dentes,
insidiosamente.
O absoluto da tua pulsação dando ritmo ao mundo.
O mundo sob a tua mão feroz. Sempre que apareces.
Um dom revolvido, encetado à desproporção dos elementos.
Cegamente. Pelo buraco onde se escoa o mundo.
Um segredo, uma revelação – um útero de fogo,
um úterofogo.
Um deslizar repentino pelos flancos da lâmina sangrando.
O desabrochar de uma flor com um grito lá dentro.
É quando apareces, ígnea, tenebrosa,
revolvendo com as mãos as feridas estagnadas,
dando consistência às formas que circunscrevem os abismos. –
No centro de tudo: um núcleo mineral,
e quando vens
o núcleo
estremece e esquece.


de Não te demores sobre o fogo

2 comentários:

  1. Não te demores sobre o fogo:
    mora nele

    dança no coração do incêndio
    derrama-te na efusão da lava
    sangra no liquefazer das lâminas
    ama na ebulição primeva

    que nada fique para depois

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