Às vezes, ao fim do dia,
Quando as cores se agigantam,
Vibra no ar uma ausência de voz
A que nem o mar sanguíneo responde.
Como se um morto gritasse
Aqui, sem podermos ouvi-lo.
Nem a paixão mais violenta
Nos deixaria tão vazios e aterrados. Esse grito
Fixa-nos ao chão, imóveis, estarrecidos.
Depois sacode-nos, faz-nos andar, olhos fitos
Na muda impossibilidade dos outros.
Ferve dentro das coisas e das causas,
Agita-nos antes mesmo de existirmos.
Só a brisa, quando a noite vem calar o mundo
Por instantes, só a brisa
Faz adormecer a voz inaudível
E torna ridícula a questão de sabermos
Se queremos acordar.
Quando as cores se agigantam,
Vibra no ar uma ausência de voz
A que nem o mar sanguíneo responde.
Como se um morto gritasse
Aqui, sem podermos ouvi-lo.
Nem a paixão mais violenta
Nos deixaria tão vazios e aterrados. Esse grito
Fixa-nos ao chão, imóveis, estarrecidos.
Depois sacode-nos, faz-nos andar, olhos fitos
Na muda impossibilidade dos outros.
Ferve dentro das coisas e das causas,
Agita-nos antes mesmo de existirmos.
Só a brisa, quando a noite vem calar o mundo
Por instantes, só a brisa
Faz adormecer a voz inaudível
E torna ridícula a questão de sabermos
Se queremos acordar.
quando olhamos o pôr-do sol, o dia abater-se, porque assim é, por um propósito independente de nós, mas certo e justo, sentimos uma plenitude que é simultaneamente uma ausência, um luto, uma perda saudosa que nos deixa esmagados, como dizes:«... imóveis, estarrecidos.». É nesse ponto, em que o homem sente o apelo do mistério: «A muda impossibilidade dos outros./Ferve dentro das coisas e das causas,». Mas esse mistério não é imóvel, ele «ferve» e «agita-se». O movimento interno do espírito começa a comungar com a paisagem.
ResponderEliminarÉ então que a «brisa», elemento exterior a todo o processo, mas fulcral para o desenvolvimento do poema, só ela cala, apaga, atenua, dissolve a voz ináudivel,a voz ausente do início. Antes do nomeado, antes mesmo da palavra e do som.
O final do poema contém múltiplas possibilidade. Uma delas é, decerto, a de que para sentir desse modo o elemento que vem interferir (no sentido crucial até)no diálogo entre o pensamento do mundo e a evidência do mistério.
Finalmente, gostaria de dizer que sem corresponder à forma do poema japonês (Haiku),ot texto coloca as mesmas premissas: um elemento "geral" que evoca a natureza, ou a traz para ao pé da mente,e a consubstanciação do ser nessa mesma paisagem, tomando-lhe as cores.Um elemento concreto de animal, ruído ou outro elemento,coloca o sujeito, de novo, na realidade, já outra.
Que belo e profundo poema, "soantes"!
Obrigado. É um comentário excelente. De quem viu o poema por dentro.
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