quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Escutando por detrás das portas

O Ocidente industrializado faz-me mal.

Enche-me as axilas com montes de gordura
E a minha pele com a secura do ar condicionado.

Enche-me a cabeça de complexos de adequação
E as minhas horas vagas com exercícios de promoção
De competências inter-pessoais
(ser humano aprende-se em sessões de formação).

Enche-me os olhos com linhas rectas e espaços vagos
E a minha roupa com a poeira da estrada e os estragos
Que causam os salpicos de lama ás fibras industriais.

Enche-me o sentir com pequenos golpes
Desferidos pelas discretas exclusões
Dos convívios das amizades organizadas
Á volta de uma gíria enraizada
Nas sub-culturas profissionais
E nos simulacros de tradições.

(Joana, este é um dos poemas que foi publicado.)

1 comentário:

  1. Olá Ana Margarida!

    Gosto muita da combatividade, das metáforas, da agressividade. Já há muito que não se vê poesia assim forte (geralmente a agressividade dos poetas é virada contra eles próprios, num certo nihilismo impotente). Gosto muito dessa força (fez-me lembrar algo que li num artigo do Mignolo, "geopolitics of knowledge")
    O "enche-me" nao aprecio muito (mas se fores brasileira ja fica bem, nao em perguntes porque - e entao seria Me enche). A minha sugestão era esculpir o poema. Certas palavras que dao um tom narrativo, nao sei....mas eu padeço do mesmo mal... (no fundo, estou-te a dizer o que as pessoas me dizem a mim!).

    Quero mais!

    Um beijinho
    Joana

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