terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Balela em tom carnavalesco

Use a máscara que quiser
e ninguém se meta nisso,
mas com tantos mascarados
aind’ há pouco rebuliço!

Há p’ra i fala-barata
convencida d’engraçada
mete o nariz em tudo
p’ra dar nas vistas, coitada.

Exibam-se hoje brincalhões
até amanhã acabada,
está na mão dos aldrabões,
a vida que julgam gozada.

De três dias o Entrudo
qual é a máscara que transgride?
Hoje até é permitido,
alguém pensa que progride?

Ê nasci no Carnaval
p’ra muito espanto meu
sempre brinquei com ele
até as cinzas me deu.

Carne vale! Adeus carne!
Amanhã não comem nada,
já o ministério da Finança
prepara outra cilada.

E com isto me retiro,
é demais a confusão,
já o ministério d’ Educação
vem matar a ilusão.

Ao contrário anda o homem
em guerra gira o mundo,
quem é qu’ inda quer rir
de espectáculo tão imundo?

Grotescos são todos dias
ao horror nos habituamos,
o virtuoso incomoda,
afinal por onde andamos?


“Cantiga de escárnio e mal-dizer”, Códice de Arrabil, Anónimo, séc. XXI

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