quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Um texto acerca do que nos separa, do que nos une e da necessidade da pré-existência de algo incausado para a existência de algo

Por vezes, não queriam ser outros?

Unidos pela mesma origem e natureza semelhante, separa-nos o abismo da infinita diferença, irreconciliáveis histórias de vida, vivências.

Esse abismo é um limite, para lá do qual se cai, uma falésia, diante da qual a outra se encontra, o outro.

Esse limite é também um limiar, o lugar onde ou a partir do qual (necessariamente) cada um de nós se dá a conhecer ao outro e, mais, o lugar que cada um de nós habita, porquanto julgamos saber, neste cosmos imenso.

As histórias de vida, dos humanos, são feitas, todas elas, de semelhanças formais, porque temos, formalmente, as mesmas consciências; mas não podemos entrar nas outras mentes e julgamo-nos únicos - e somos (tenho em crer)! Não é belo?

Por mais cruel que a natureza seja - e é - penso que a minha vida já valeu a pena por causa dos belos e sublimes momentos que até hoje vivi: as alegrias, as tristezas, frustrações e contrariedades - tudo isso, findo o sofrimento, é belo...

Este é mais um espaço onde me dou a conhecer e aos meus interesses, (cada vez mais) reconhecendo-me em mim e contando a história que todos contam a partir de mim: sim, por infinitamente diferentes que sejam as histórias de vida, todas partilham a universalidade do sorriso, da lágrima, da ejaculação (é o inesperado que surge de rompante e gera espanto - e alegrias imensas?).

Aprendermos a reconhecermo-nos é tornarmo-nos maneiristas, contarmos a história - ficção? - que todos contam, à nossa maneira. Pois é essa a história que conto, com ínfimos e infinitos pormenores que só eu poderei ter vivido, mas que todos contam, pois por que haveria de pressupor que só eu vivi as estranhas entranhas das alegrias que vivi?

O que nos separa? Eu não posso ser tu e tu não podes ser eu. Não podemos, verdadeiramente, colocar-nos sob a pele do outro. Mais uma vez, é trabalho para a imaginação, provavelmente com uma pitada de sentimento à mistura (e o eu cozinha).

"O eu cozinha" - isso não existe, como não existe o tu. Mas tenho a clara sensação de que existo, embora pense que provenho da não existência, esta minha mundaneidade, nunca obstando ao facto lógico de algo ter de pré-existir para que algo venha a existir. E isso leva-nos a uma regressão ao infinito. Precisamos de um pré-existente incausado, de um Tao, o único modelo de si próprio, aquilo que com nome se torna a Mãe de todos os seres.

Falta-nos o argumento perfeito.

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