Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
Penso, logo faleço
"Quanto mais vida puseste nos pensamentos, mais morte há em ti" - Emil Cioran, Le Livre des Leurres [1936], in Oeuvres, Paris, Gallimard, 1995, p.256.
É por isso que durante muitos anos tentei fugir da Academia e das Letras ... Em miuda, diziam que tinham a certeza que eu acabaria uma académica, uma escritora ou as duas coisas, e tal coisa soava-me como uma maldição. Como se a imobilidade física dos chamados "intelectuais" fosse um castigo por quebrarem alguma lei cósmica, castigo esse que os tranca em quartos, salas ou cafés fumarentos (isto quando não em esplanadas a ignorar com uma arrogância autista toda a beleza que os rodeia), á frente de papel e lápis, de uma máquina de escrever ou de um computador, onde consomem, em lágrimas de tristeza, de sal e de sangue, a energia que não lhes é permitido consumir através dos sentidos, na fruição pela da Vida ...
As crianças e os adolescentes é que têm razão ao odiar "marrões" e ao vê-los como bufos e colaboracionistas dos ainda mais odiados pais e professores ...
Ser-se marrão e perder tempo em frente de um livro ou de um computador, principalmente numa terra fria e estranha, é o maior pecado contra a existência que se pode fazer quando se tam o mais belo céu e o mais belo mar do Ocidente ... Quando as ninfas nos cantam á nossa porta ... Quando as nossas pegadas se confundem com as de Ulisses.
CONDENO DESDE JÁ Á MORTE TODOS OS MARRÕES TODOS DESTE MUNDO!!!!!
Se falecemos ao Pensar é porque não era a Pensar que estávamos. Porque quando Pensamos canalizamos com o Infinito ou Infinitude. É de uma expansividade...
Há pensar e pensar... Não creio que o Infinito se pense ou possa ser pensado... se por tal entendermos conceptualizar, o que é a morte da vida espiritual, que creio começar logo ao dizer "sou" (ou "não sou"...). Creio ser disso que Cioran fala. Outra coisa é "pensar" no sentido arcaico da palavra na língua galaico-portuguesa: estar cuidadosa, amorosa e terapeuticamente atento a algo ou alguém... Como quando falamos de "pensar" uma ferida: trata-se então de restaurar a saúde através do cuidado afectivo. Porventura é quando não pensamos, no sentido comum de encher a mente com conceitos, por mais "espirituais" que pareçam ser, que a consciência mais se expande...
O Infinito não se Pensa, mas acedemos a Ele pelo Pensamento. Aliás, estamos mergulhados no Infinito a Pensar e a Ser.
Mas eu não vou conceptualizar o Pensamento, para isso escreveria Pensamento é: tal e tal e ponto. E não vou discutir sobre o Pensamento.
O que me importa, porque estou a falar-Te, é Sentires o que te estou a dizer e Sentir o que me dizes, as palavras ficam para trás (...apesar de tão lindas e excitantes... ) a única realidade é a Experiência do Ser. e a do Encontro. Repara como somos felizes por estarmos agora aqui a Pensarmos, e a Ser, inevitavelmente.
Larga tudo, o conceito, a beleza, e se sentes a minha Experiência, encontraste-Me, e ela também é Tua, afinal, porque no Infinito do nosso Encontro, não há Tu nem Eu. Mas há Pensamento. E eu gosto.
Quando digo "Eu Sou", afirmo a minha experiência, não conceptualizo. Embora o faça.
Conceptualizar poderá ser fatal, sim, se nos enterrarmos no conceito como numa cave sem janelas, em vez de o montarmos como a um tapete voador. As viagens que se fazem só pelo conceito (que nunca é exterior a nós, pois claro), uma imagem que se forma, e as que logo dela se derivam e descobrem. Mais as composições espontâneas não conceptualizáveis.
Eu Sou. Parece um conceito. Poderá até ser. Mas não é. Montei nele. E é mesmo. E já não é. Ai que eu vou cair. Ui! E volto a montar. Desmonto.
"Der Tod ist kein Ereignis des Lebens. Den Tod erlebt man nicht. Wenn man unter Ewigkeit nicht unendliche Zeitdauer, sondern Unzeitlichkeit versteht, dann lebt der ewig, der in der Gegenwart lebt. Unser Leben ist ebenso endlos, wie unser Gesichtsfeld grenzenlos ist." Ludwig Wittgenstein, Tractatus logico-philosophicus
Falar mal do pensamento é como falar mal do sexo, do futebol, da pesca desportiva, etc... Quando vemos isso integrado num contexto maior, seguimos inebriados de tudo, quando vemos só a parte falecemos!!
Belíssimos textos Querida Luíza!! Bem vinda à Serpente ^_^
A experiência da integração não é a do pensar conceptual, que só pode dar uma representação da integração, que por natureza degrada a consciência num plano meramente intelectual e dualista, onde se move todo este debate... E, por mais na moda que estejam as ideias de que tudo é Um, e por mais verdade que haja nisso, na verdade pode ser pontual e eticamente necessário apontar os limites do apego ao pensamento, ao sexo, ao futebol e, sempre, à pesca desportiva... Posso contemplar que tudo está integrado sem matar seres vivos...
Quanto ao excerto de Wittgenstein, excepto esse preconceito de a morte não ser uma vivência da vida, perfeito ! É aquele pensar que liberta de pensar e, no jejum das palavras, permite fruir outro espaço, o do silêncio infinito: "Bem-aventurada a pacificação das palavras e das coisas" - Nagarjuna.
Paulo, Sim, a experiência da integração não é a do pensar conceptual. Mas a experiência do Pensamento não se cinge ao intelecto e ao conceito, nem nós estamos num plano meramente dualista ou apenas no plano dualista quando nos dirigimos uns aos outros.
É por isso que durante muitos anos tentei fugir da Academia e das Letras ... Em miuda, diziam que tinham a certeza que eu acabaria uma académica, uma escritora ou as duas coisas, e tal coisa soava-me como uma maldição. Como se a imobilidade física dos chamados "intelectuais" fosse um castigo por quebrarem alguma lei cósmica, castigo esse que os tranca em quartos, salas ou cafés fumarentos (isto quando não em esplanadas a ignorar com uma arrogância autista toda a beleza que os rodeia), á frente de papel e lápis, de uma máquina de escrever ou de um computador, onde consomem, em lágrimas de tristeza, de sal e de sangue, a energia que não lhes é permitido consumir através dos sentidos, na fruição pela da Vida ...
ResponderEliminarAs crianças e os adolescentes é que têm razão ao odiar "marrões" e ao vê-los como bufos e colaboracionistas dos ainda mais odiados pais e professores ...
Ser-se marrão e perder tempo em frente de um livro ou de um computador, principalmente numa terra fria e estranha, é o maior pecado contra a existência que se pode fazer quando se tam o mais belo céu e o mais belo mar do Ocidente ... Quando as ninfas nos cantam á nossa porta ... Quando as nossas pegadas se confundem com as de Ulisses.
CONDENO DESDE JÁ Á MORTE TODOS OS MARRÕES TODOS DESTE MUNDO!!!!!
MORRA EU!!!!!
MORRAM VOCÊS!!!!!
MORRAMOS TODOS NÓS!!!!!
Sou, logo Penso.
ResponderEliminarSe falecemos ao Pensar é porque não era a Pensar que estávamos. Porque quando Pensamos canalizamos com o Infinito ou Infinitude. É de uma expansividade...
Há pensar e pensar... Não creio que o Infinito se pense ou possa ser pensado... se por tal entendermos conceptualizar, o que é a morte da vida espiritual, que creio começar logo ao dizer "sou" (ou "não sou"...). Creio ser disso que Cioran fala. Outra coisa é "pensar" no sentido arcaico da palavra na língua galaico-portuguesa: estar cuidadosa, amorosa e terapeuticamente atento a algo ou alguém... Como quando falamos de "pensar" uma ferida: trata-se então de restaurar a saúde através do cuidado afectivo. Porventura é quando não pensamos, no sentido comum de encher a mente com conceitos, por mais "espirituais" que pareçam ser, que a consciência mais se expande...
ResponderEliminarO Infinito não se Pensa, mas acedemos a Ele pelo Pensamento. Aliás, estamos mergulhados no Infinito a Pensar e a Ser.
ResponderEliminarMas eu não vou conceptualizar o Pensamento, para isso escreveria Pensamento é: tal e tal e ponto. E não vou discutir sobre o Pensamento.
O que me importa, porque estou a falar-Te, é Sentires o que te estou a dizer e Sentir o que me dizes,
as palavras ficam para trás (...apesar de tão lindas e excitantes... ) a única realidade é a Experiência do Ser. e a do Encontro. Repara como somos felizes por estarmos agora aqui a Pensarmos, e a Ser, inevitavelmente.
Larga tudo, o conceito, a beleza, e se sentes a minha Experiência, encontraste-Me, e ela também é Tua, afinal, porque no Infinito do nosso Encontro, não há Tu nem Eu. Mas há Pensamento. E eu gosto.
Escutei-Te.
Quando digo "Eu Sou", afirmo a minha experiência, não conceptualizo. Embora o faça.
ResponderEliminarConceptualizar poderá ser fatal, sim, se nos enterrarmos no conceito como numa cave sem janelas, em vez de o montarmos como a um tapete voador. As viagens que se fazem só pelo conceito (que nunca é exterior a nós, pois claro), uma imagem que se forma, e as que logo dela se derivam e descobrem. Mais as composições espontâneas não conceptualizáveis.
Eu Sou.
Parece um conceito. Poderá até ser. Mas não é. Montei nele. E é mesmo. E já não é. Ai que eu vou cair. Ui!
E volto a montar.
Desmonto.
Eu Sou.
Eu Não Sou.
Eu.
.
(Que viagem magnífica)
"Der Tod ist kein Ereignis des Lebens. Den Tod erlebt man nicht.
ResponderEliminarWenn man unter Ewigkeit nicht unendliche Zeitdauer, sondern Unzeitlichkeit versteht, dann lebt der ewig, der in der Gegenwart lebt.
Unser Leben ist ebenso endlos, wie unser Gesichtsfeld grenzenlos ist."
Ludwig Wittgenstein, Tractatus logico-philosophicus
Falar mal do pensamento é como falar mal do sexo, do futebol, da pesca desportiva, etc... Quando vemos isso integrado num contexto maior, seguimos inebriados de tudo, quando vemos só a parte falecemos!!
ResponderEliminarBelíssimos textos Querida Luíza!! Bem vinda à Serpente ^_^
Sou
Não sou
.
Brilhante!! (um pensamento sem sílabas)
A experiência da integração não é a do pensar conceptual, que só pode dar uma representação da integração, que por natureza degrada a consciência num plano meramente intelectual e dualista, onde se move todo este debate...
ResponderEliminarE, por mais na moda que estejam as ideias de que tudo é Um, e por mais verdade que haja nisso, na verdade pode ser pontual e eticamente necessário apontar os limites do apego ao pensamento, ao sexo, ao futebol e, sempre, à pesca desportiva... Posso contemplar que tudo está integrado sem matar seres vivos...
Quanto ao excerto de Wittgenstein, excepto esse preconceito de a morte não ser uma vivência da vida, perfeito ! É aquele pensar que liberta de pensar e, no jejum das palavras, permite fruir outro espaço, o do silêncio infinito:
ResponderEliminar"Bem-aventurada a pacificação das palavras e das coisas" - Nagarjuna.
No fundo estamos todos a dizer o mesmo, ai se não fosse a Torre de Babel!! ^_^
ResponderEliminarPaulo,
ResponderEliminarSim, a experiência da integração não é a do pensar conceptual. Mas a experiência do Pensamento não se cinge ao intelecto e ao conceito, nem nós estamos num plano meramente dualista ou apenas no plano dualista quando nos dirigimos uns aos outros.